Após décadas de sensibilização ambiental, Portugal continua a consumir recursos naturais muito acima da média dos países da União Europeia, lamentou o dirigente da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA), Mário Acácio Oliveira, convidado do programa ‘Da Europa para o Minho’, da rádio Antena Minho.
Este especialista em protecção do ambiente e educação ambiental comentou com “preocupação” a informação revelada no passado 5 de Junho, Dia Mundial do Ambiente, segundo a qual a economia portuguesa é a que mais recursos naturais consome na orla mediterrânica, acima da média europeia e muito mais do que Espanha. Em 2021, Portugal consumiu 174 milhões de toneladas de materiais, o equivalente a 16,9 toneladas por habitante, que compara com a média europeia de14,1 toneladas e as 9,1 toneladas por habitante registadas em Espanha.

Mário Acácio Oliveira constata. assim, que “a sociedade portuguesa continua extremamente consumista”, após “um comportamento mais racional durante a pandemia, porque estávamos limitados”.
No que respeita ao aumento das emissões de CO2 em Portugal, em contra ciclo com a maioria dos estados da União Europeia, o dirigente da ASPEA comentou que “em termos políticos temos metas bem definidas, mas existem factores que não controlamos, como os fogos florestais”. Adiantou que resultados neste capítulo não melhorarão enquanto “não ultrapassarmos a dependência do transporte individual em automóvel”, área em que, reconhece, não existem “incentivos de facto para mudar as práticas”.

Sublinhando que os objectivos ambientais europeus são importantes, Mário Acácio Oliveira sustentou que o cumprimento dos mesmos dependem do comportamento individual dos cidadãos, apontando que Portugal está a 30% das metas definidas para a reciclagem de resíduos, por exemplo.
No programa ‘Da Europa para o Minho’, dirigido pelo jornalista Paulo Monteiro, o eurodeputado José Manuel Fernandes defendeu que o cumprimento do objectivo da neutralidade carbónica em 2050 exige que de comece “a trabalhar já” com planeamento, relevando a importância da execução dos 80 mil milhões de euros que a União Europeia encaixou no Fundo Social Climático.
“É preciso planeamento, não basta ter dinheiro”, alertou o eurodeputado.

Do ‘Projecto Rios’ à governação local ambiental

O Projecto Rios é uma das áreas de intervenção da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA) mais relevantes, envolvendo, nas últimas três décadas, milhares de pessoas na conservação dos espaços fluviais.
“Estamos a colaborar com a divulgação do conhecimento dos rios e a proporcionar a quem gere estes espaços dados sobre a sua evolução ao longo do tempo”, revela Mário Acácio Oliveira.
Através deste projecto de voluntariado ambiental, grupos de cidadãos podem adoptar um troço de rio para fazer a sua monitorização ambiental, nomeadamente em termos de qualidade da água, promovendo também a sua limpeza, numa acção que o dirigente da ASPEA classifica como exercício de “ciência cidadã”.

O EduMar, que visa contribuir para a literacia científica marinha e para a consciencialização e capacitação para uma utilização sustentável dos recursos marinhos e das zonas costeiras, é outro dos projectos desenvolvido pela ASPEA, uma organização não governamental com mais de 2 100 associados e com várias delegações espalhadas pelo país, uma das quais em Braga.
O Município de Braga, conjuntamente com a ASPEA, parceiro do projecto europeu GoGreen, o qual, para além de cursos de governação local ambiental, cursos de formação, visa a produção de guias de apoio à transição a uma economia limpa e circular, assim como de uma plataforma de co-aprendizagem, com o objectivo de criar uma rede de embaixadores de ‘acção local verde’, capazes de implementar e replicar os seus conhecimentos nas suas regiões.
O desenvolvimento da educação ambiental no ensino formal e não formal é missão da ASPEA, entidade que integra a Redeluso - Rede Lusófona de Educação Ambiental, cujo próximo congresso está agendado para o início do mês de Julho, em Moçambique.