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2022-11-07 às 06h00
Paulo Neves, presidente do Instituto para a Promoção da América Latina e Caraíbas (IPDAL), foi o convidada do Programa ‘Da Europa para o Minho’, da Rádio Antena Minho. Optimista quanto ao futuro do Brasil, alerta para a urgência do acordo Mercosul.
Há condições para se reforçar os laços entre a União Europeia e a América Latina, com grande destaque para o Brasil, e é urgente a aprovação do acordo Mercosul. A opinião foi deixada por Paulo Neves, presidente do Instituto para a Promoção da América Latina e Caraíbas (IPDAL), no Programa ‘Da Europa para o Minho’, da Rádio Antena Minho, conduzido por Paulo Monteiro e o eurodeputado José Manuel Fernandes, que se juntou de forma virtual desde a Cidade do México, onde está a acompanhar a 28.ª reunião da Comissão Parlamentar Mista da União Europeia.
Num programa em que foram analisadas as relações da Europa com a América Latina, Paulo Neves analisou as eleições no Brasil e mostrou-se optimista quanto ao futuro.
“As eleições correram muito bem, estamos a falar de um país com uma dimensão continental em que por razões várias está dividido a meio e os dois candidatos e resultados eleitorais demonstraram exactamente isso, no entanto, o discurso de vitória de Lula da Silva foi muito aceitável e conciliador. Aliás, a maior tarefa que tem é unir o país, o Brasil não se pode manter com aquela divisão tão sólida e visível, é impossível governar um país com aquela dimensão, se se mantiver aquela diferença tão grande. Vai ser a terceira vez que Lula da Silva será presidente, já tem uma vasta experiência política e deu conta de que quando quer é uma pessoa moderada. Vejo com optimismo o futuro do Brasil, porque há características que se vão manter: é um grande país, de dimensão continental, é a maior economia da América Latina, tem um controle da inflação, tem crescimento económico, é dos maiores exportadores de alimentos do mundo e tem uma classe empresarial que não brinca em serviço e é quase um seguro de vida do país”, sublinhou, elogiando a forma como decorreram as eleições com mais de 100 milhões de eleitores.
Destacando a “importância enorme” do que acontece no Brasil na economia da Europa, “desde logo, na produção de alimentos, é dos maiores produtores e exportadores do mundo”, Paulo Neves criticou a postura da UE na questão do acordo Mercosul: “não é normal, nem é compreensível que se ande a falar deste acordo Mercosul há tantos anos, alguém tem de ser responsabilizado por isto, porque isto não podia ter acontecido. Sempre achei que na Europa ia haver a clarividência de assinar este acordo benéfico, já deveríamos ter dado a volta à França e há três países que são os verdadeiros advogados de defesa: Portugal, Espanha e Itália. Ainda por cima, existem dados que confirmam que é um bom acordo”. “Estou pessimista agora em relação a este acordo”, alertou o presidente do IPDAL, lembrando que anteriormente “o Brasil e a Argentina necessitavam do mercado europeu para vender os seus produtos”, algo que “neste momento já não têm necessidade”.
Acordo comercial entre a Europa e o Mercado Comum do Sul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) está a ser negociado há décadas e a sua ratificação está parada pela posição de alguns países liderados pela França, o que para o responsável é inaceitável.
“Não há continente mais parecido com a Europa como a América Latina. Os grandes problemas são semelhantes, a pobreza, Portugal tem 20 por cento de pobres e 80 por cento com baixo rendimento e este problema também existe na América Latina. A má governação, a corrupção, os grandes problemas são semelhantes e, se temos que criar riqueza económica, se temos má governação e corrupção, porquê que não fazemos uma agenda de interesses comuns para juntos tentarmos crescer, porque a Europa precisa de novos mercados. Uma das formas de criar riqueza é fazer mais comércio e, se a Europa tem esta consciência de mais comércio e mais mercado, a América Latina é uma oportunidade”, defendeu, receoso que que o próprio Mercosul “não tenha interesse no acordo com a UE, porque não lhe faltam agora clientes para comprar o que têm para vender”.
“Na Europa não podemos estar sempre a falar de uma integração, mas quando chega a hora da verdade tudo fazemos para que não haja integração. Não fazer o acordo da União Europeia com o Mercosul pode ser o fim do Mercosul. O Mercosul só vale a pena se houver comércio livre com o exterior, quando se fala de um comércio com a UE estamos a falar de um acordo extraordinário para todos, até para bem do Mercosul era bom que fizéssemos esse acordo, pela dimensão e nível de pessoas”, defendeu Paulo Neves, dando conta de que o grande desafio de futuro é o ressurgimento da China. “A Europa é que está a deixar que a China ocupe o nosso lugar”, alertou.
“China vai ser o nosso grande desafio de futuro”
“É essencial avançarmos para o reforço da parceria estratégica com o Brasil, termos uma estratégia para a América Latina, porque, se não a tivermos, a China ocupa o espaço que a União Europeia pode ocupar”. O alerta foi deixado pelo eurodeputado José Manuel Fernandes - que é também presidente para as relações da UE com a República Federativa do Brasil - na análise às eleições no quinto maior país do mundo, com uma dimensão populacional correspondente a metade da população da América Latina.
“Tem muita pujança em termos empresariais e investigação e as eleições, para além de terem decorrido com normalidade, foram fiáveis e transparentes. Lula da Silva fez um discurso de conciliação e união e deixou claro que quer um Brasil mais aberto e com prioridades que até estão na linha das prioridades europeias, como o combate às alterações climáticas, uma abertura para o mundo, inclusão e transição digital”, analisou José Manuel Fernandes, lembrando, no entanto, que muitos dos votos que tanto Lula como Bolsonaro tiveram “são votos negativos, não são tanto por convicção, mas por rejeição do outro candidato”.
“Ambos deviam estar interessados numa pacificação e numa união nesta economia que é fundamental para a globalização, para um equilíbrio, os nossos valores da democracia e liberdade são valores que o Brasil também deve defender”, frisou.
No Programa ‘Da Europa para o Minho’, o eurodeputado lembrou que o Mercosul “demorou 20 anos a ser negociado, começou em 1999 e há um acordo de princípio em 2019”, mas “a França opôs-se com a desculpa ambiental, assim como há outros Estados-membros que têm mostrado relutância, com razões de proteccionismo, com a agricultura”.
“A ratificação exige que esses países estejam de acordo, é uma questão legal, espero agora que estes obstáculos e barreiras caiam, a nossa soberania alimentar, a produção de alimentos, a guerra que estamos a viver pode ser vencida com países como o Brasil e espero que isto possa ser entendido desta forma. E que Brasil e Argentina, Uruguai e Paraguai vejam uma oportunidade em termos de futuro. Há aqui uma possibilidade de se dividir o acordo para que não haja a necessidade de se ratificar por todos os Estados-membros, é algo que serve para suprir esta falta de vontade política nomeadamente da França, Irlanda e Áustria”, analisou.
Segundo José Manuel Fernandes, “quem tem mais obrigações é Portugal, Espanha e Itália”, contudo, “Portugal na presidência da UE não colocou como prioridade nem a América Latina, nem a África, foram duas oportunidades perdidas e tinham sido essenciais”.
Eurodeputado diz não perder “a esperança que o acordo avance e se baseie nos valores europeus”, no entanto, deixa o alerta: “a China vai ser o nosso grande desafio futuro, para não lhe chamar um problema, porque já controla todas as matérias primas, e é essencial que as democracias sejam uma base de desenvolvimento, sejam o nosso chão comum”.
“A China controla a maior parte das matérias primas críticas e não vejo com bons olhos que o presidente da Alemanha vá com uma comitiva à China e procure acordos bilaterais e procure dividir a UE, que, ou consegue ter força global, ou caso contrário perde a sua importância e o seu modelo face a todos os desafios que está a viver”, acrescentou, dando conta da necessidade de acordos que “respeitem o que é o ambiente e os direitos humanos ou corremos o risco de tudo isto se transformar em blocos onde as ditaduras vão vencendo”.
José Manuel Fernandes defendeu ainda que o Mercosul “seria importante para toda a América Latina”. “Estamos a falar de mais de 25 por cento do PIB mundial, mais de 750 milhões de pessoas e a UE, o conselho dos estados membros, nem sempre tem uma visão estratégica e andamos sempre a correr atrás do prejuízo. A nossa autonomia estratégica ficaria beneficiada com este acordo, em termos alimentares, de dimensão política e o momento actual, em que temos uma grande concorrência para exportar os produtos agrícolas. Devemos fazer acordos com aqueles que defendem os nossos valores”, rematou.
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