Ricardo Rio: "Um enorme caso de sucesso"
2020-11-30 às 06h00
Rosa Vaz, artista plástica que hoje celebra aniversário, dá-se a conhecer através de várias dimensões artísticas onde são notórias as influências que trouxe de África, continente onde nasceu. Destaca-se na pintura, mas também na ilustração e na poesia.
A artista plástica Rosa Vaz, natural de Angola, escolheu Braga para radicar, cidade onde vive actualmente e onde dá expressão à sua criatividade nas várias área da cultura. Dedicando-se essencialmente à pintura, é também promotora cultural, ilustradora e poetiza. Com uma carreira com mais de três décadas, tem actualmente patente na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva a exposição de pintura ‘Diálogos da Transparência’.
Correio do Minho (CM) - Rosa Vaz, nasceu em Angola, e foi aí a sua infância. Que recordações tem da sua terra Natal?
Rosa Vaz (RV) - Desses tempos em Angola, trouxe comigo a alegria da Natureza sempre colorida, a felicidade de correr e saltar para tocar no pôr do sol tão intensamente laranja, o cheiro a terra molhada impregnado pelas gotas de chuva, fortes, grossas, o azul do mar, os sorrisos dos putos e histórias de África que vivem permanentemente no meu universo criativo. Tudo isto vive em mim numa saudade eterna que se transforma em motivos criativos que me leva a criar obras libertando essas vivências, como páginas de vida, do amor, da saudade...
CM- Essas memórias estão presentes na sua obra, certamente. Lembra-se quando a Arte começou a fazer parte de si?
RV - A Arte fez sempre parte de mim. Desde criança que me lembro de comunicar com cores desenhos, dança, música….
CM - Qual o impacto na sua obra, da mudança de África para Braga?
RV - Vivo em Braga desde que vim para a Universidade do Minho, onde fiz parte da Associação Académica, no ano em que mudamos o traje académico para o actual. Nessa altura como fazia parte da secção pedagógica da Associação, tive um maior contacto com os estudantes africanos e das suas realidades, juntando com a minha própria história de ter vindo de Angola, exponenciou a minha permeabilidade pelas histórias de África, que se reflectiam e reflectem na minha obra.
CM - É sem dúvida uma mulher da cultura. Quer falar-nos um pouco da sua obra.
RV - Sim, a cultura, foi desde sempre a minha pele, o meu universo de comunicação. Além da pintura gosto de promover eventos culturais. Tenho tido sempre o apoio da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva (BLCS) e do Museu dos Biscainhos. Organizei vários eventos: ‘Noites de Prata’ no Museu dos Biscainhos, as ‘Conversas Desconcertantes’ na BLCS, a ‘Semana de África’, ‘Dias de África’, na BLCS e Universidade Católica. Pertenço a vários grupos de divulgação cultural: Projecto ArtÁfrica da Fundação Calouste Gulbenkian; ACAPL - Associação Cultural de Promoção da Cultura Portuguesa e Lituana; C.E.M.D. - Círculo de escritores moçambicanos na diáspora; O.N.G.D. Engenho e Obra; Projecto Porlith (Lithuania e Portugal); Rizoma (Guimarães), entre outros. Quanto à pintura, faço pintura em acrílico, aguarelas, ilustração, pintura cerâmica, pintura têxtil e estou a trabalhar numa parceria de design de jóias. Também escrevo poesia. Há dois anos editei o meu livro de poesia ‘Pele de Lua’, para comemorar 30 anos de carreira na Arte e Cultura.Exponho há mais de 30 anos,
Tem sido um percurso artístico persistente, trabalhador, intensivo onde quero deixar sempre a minha marca pessoal, intransmissível. Realizei exposições em Bragança, Caminha, Coimbra, Corunha, Barcelos, Braga, Esposende, Fafe, Ferrol, Guimarães, Lisboa, Melgaço, Monção, Montemor-o-Novo, Newark, Porto, Póvoa de Lanhoso, Santiago de Compostela, Valença, Vieira do Minho, Vilnius, Vigo, Villa Garcia de Arosa, Sousel e vários outros locais. Estou representada em várias colecções, como por exemplo: B.B.V.A., Câmaras Municipais de Esposende, Fafe e Póvoa do Lanhoso, Fundação Champalimaud. As minhas raízes africanas incentivam a construção da comunicação cromática que se traduz por: utilização dos laranjas e vermelhos, os ocres, cores terra, amarelos e castanhos. Uso principalmente o azul, que representa o mar , o infinito, o universo. O azul fascina-me!
CM - Qual a característica que melhor a define?
RV - Diria que a persistência e a determinação.
CM - A necessidade de pintar e escrever poesia, como nasceram?
RV - Pintar e escrever são estados de alma, são intrínsecos à minha forma de estar e ser na vida. Fazem parte do meu Eu! É a minha forma de fazer poesia com cores e representar o meu amor pela vida, uma necessidade de comunicar pela cor… pois as palavras não expressam tudo. Lembro-me que desde criança usei sempre o desenho e a cor para comunicar, para contar histórias do dia a dia, do mundo. As primeiras histórias que pintei eram familiares, de dentro de casa, com os meus irmãos, as brincadeiras, as parvoíces infantis…a inocência e a beleza da infância.Com a vinda para Portugal, devido à guerra em Angola, trouxe comigo o azul do mar, os laranjas do pôr do sol, os sorrisos dos putos e histórias de África que vivem no meu universo criativo e me permitem criar obras libertando essas vivências. Uma representação de páginas e situações de vida.
CM - Fale-nos do que considera terem sido momentos de conquista na sua vida.
RV - A retoma do sorriso e acreditar numa nova vida depois de deixar a terra onde nasci; a conquista da alegria da vida depois da morte do meu irmão; o primeiro abraço ao meu filho; passar por uma doença oncológica e continuar a acreditar na vida, pintando, escrevendo…..
CM - Quem são os heróis da sua vida?
RV - Pessoas simples, que conseguem fazer acreditar na vida e criar sorrisos de esperança.
CM - Ser mãe influenciou o seu mundo, obviamente. Quer partilhar, alguns aspectos que foram marcantes?
RV - Ser mãe foi a maior bênção na minha vida; o primeiro abraço, o colinho que enche o coração. O primeiro passo, a primeira palavra, o primeiro dente… o primeiro dia de infantário. O meu melhor registo, de facto, é ser mãe.
CM - Uma palavra que transporte nas suas acções dia a dia.
RV - Amor, sempre em tudo.
‘Diálogos de Transparências’: viagem interior por mais de trinta anos de carreira
CM - Qual o seu pintor de eleição e o compositor?
RV - Vieira da Silva e Bach, respectivamente.
CM - Ri facilmente...
RV - Rio-me imensamente de mim própria… quando tento colocar um iogurte na máquina de lavar e percebo que deveria ser no frigorífico… ou quando estou concentrada em novas obras de pintura e toca o telemóvel, atendo… upsss! e as mãos com tinta lá deixam a sua marca, ou ao passar a mão no cabelo, às vezes fica azul, branco, verde, amarelo… ou então quando perco 10 minutos a procurar os óculos de sol que afinal estão na cabeça! Aí sento-me a rir à gargalhada! Ou quando alguém me rouba um sorriso num momento com alma!
CM - Já agora, o que a faz chorar?
RV - A magia da vida. Coisas simples como a beleza da Natureza: o mar a espreguiçar na areia, o pôr do sol num fim de tarde, estar no cimo de um monte e sentir-me uma pequenina parte do Universo. A magia do meu filho, de olhos doces, presente sempre em tudo, de sorriso pegajoso. Um abraço sentido, um olhar que não precisa de legenda, as saudades...
CM -Transporta tudo isso para a sua obra. O que é uma obra de arte para si?
RV - É um registo criativo que permite transpor o óbvio e nos leva numa viagem fantástica, de comunicação intrínseca, cromática que permite a um indivíduo identificar um código de leitura e de interpretação quer colectiva quer individual.
CM - Sobre a exposição que está patente na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, ‘Diálogos de Transparências’, pode explicar-nos o significado deste título?
RV - Este título reporta-nos para um percurso de vida, de uma viagem interior onde ao fim de mais de trinta anos de trabalho, procuro sublinhar com mais intensidade a transparência, a quietude, a simplicidade, que aqui está representada em alguns quadros, com um branco suave, transparente como um véu, colocado por cima das portas, janelas e reticulados da vida.
CM - Que conselhos deixaria aos mais jovens que começam agora a fazer escolhas de vida...
RV - Nunca deixem de sonhar, de acreditar no amor. A persistência, delicadeza e o respeito pelos outros devem fazer parte das acções diárias.
10 Janeiro 2021
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