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Estudantes do Politécnico de Viana do Castelo trocam 'Letras com Afecto' com utentes institucionalizados
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Estudantes do Politécnico de Viana do Castelo trocam 'Letras com Afecto' com utentes institucionalizados

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Estudantes do Politécnico de Viana do Castelo trocam 'Letras com Afecto' com utentes institucionalizados

Alto Minho

2021-07-26 às 17h30

Redacção Redacção

No Dia Mundial dos Avós, que se celebra hoje, o Politécnico de Viana do Castelo faz um balanço da iniciativa integrada no projecto 'Janelas ConVida' da Escola Superior de Educação.

Citação

A iniciativa 'Letras com Afecto', que surge no âmbito do projecto 'Janelas ConVida', um desafio lançado por estudantes da licenciatura em Educação Social Gerontológica e do mestrado em Gerontologia Social, da Escola Superior de Educação (ESE) do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), “tem tudo para continuar” pelo “sucesso” que está a ter junto dos 27 estudantes e dos 71 utentes das cinco instituições envolvidas. Docentes, alunos, directoras técnicas das instituições e utentes são unânimes: a correspondência por carta “traz benefícios enormes para todos”.

Trocar experiências intergeracionais e estimular as competências cognitivas e emocionais dos mais idosos foram o pretexto para lançar a iniciativa. Mas depressa, 'Letras com Afecto' tocaram no coração de quem escreveu e leu as cartas que contavam histórias de vida. As 'Letras com Afecto' chegaram em tempos de pandemia e os idosos imediatamente retribuíram o gesto, por isso, estudantes e idosos esperam continuar a escrever 'Letras com Afecto' e, quando a pandemia deixar, todos querem conhecer-se pessoalmente.

Sem a possibilidade de estagiar em tempos de pandemia, Joana Martins foi uma das alunas da licenciatura em Educação Social Gerontológica da ESE que trocou cartas com três idosos institucionalizados. “O feedback que recebemos dos idosos é que gostaram muito da experiência e até mostraram o desejo de nos conhecer pessoalmente, mas isso ainda não foi possível”, informou a jovem, confessando que foi uma “experiência enriquecedora”.

Inês Fernandes também adorou a experiência. “Foi algo novo para todos, nunca nos tínhamos lembrado de enviar cartas e adorei receber as cartas e conhecer as pessoas mais idosas”, contou a aluna, deixando o apelo para a iniciativa continuar. “Não estar em contacto com as pessoas dá outra perspectiva, porque não sabemos quem está do lado de lá, mas o certo é que sentimos que podemos contar tudo à pessoa e que vamos ser retribuídos”, confessou.

Daniela Rocha, que também terminou agora o 3.º ano da licenciatura de Educação Social Gerontológica, aproveitou para “descobrir um bocadinho da história de vida das pessoas e perceber como é que elas estão a enfrentar esta fase de pandemia”. Escrever cartas não foi tarefa fácil. “Nunca tinha feito isso antes, já que somos de outra geração e estamos muito habituados ao telemóvel”, justificou. Daniela percebeu que os três idosos com quem se correspondeu têm perspectivas diferentes em relação à pandemia. “Foi engraçado perceber como as pessoas enfrentam o mesmo problema de forma tão diferente”, referiu a aluna.

Do lado de lá estiveram 71 utentes de cinco instituições. O feedback não podia ser melhor. Jorge Ferreira que recebia muitas cartas de namoradas quando era mais novo, hoje, com 89 anos, já não se lembrava de ler uma carta e muito menos de retribuir. “Para quem aprecia ter uma boa conversa, e como estamos confinados há muito tempo, sabe sempre bem receber uma carta e responder”, revelou o utente do Centro Paroquial de Promoção Social e Cultural de Darque, agradecendo à jovem que lhe escreveu, “uma menina muita gentil”, que é da terra da sua mãe. “A menina tem cultura e isso para mim é muito importante e tenho trocado muitas experiências e histórias com ela”, contou o utente, admitindo que tem sido uma “experiência diferente e muito enriquecedora”.

Também João Sousa, de 72 anos, que é utente daquela instituição vianense, tinha acabado de receber uma carta e estava “ansioso” por responder. “Já não recebia uma carta há tantos anos. Só me lembro das cartas que trocava com raparigas nos tempos de militar e tem sido muito interessante”, confirmou o idoso, mostrando-se com “muito agrado” com esta experiência.

Eusébia Correira tem 83 anos e também participou nesta “excelente” iniciativa. “É sinal de que alguém se lembra de nós, de que não fomos esquecidos”, aplaudiu a utente da Casa do Areal, em Braga. A idosa foi mais longe: “É muito bom trocar algumas palavras com gente mais jovem, partilhar histórias de vida e sentir o carinho de quem nos escreve”.

A passar por uma fase “muito complicada e até desconfortável”, Leonilde Martins, utente da Congregação Nossa Senhora da Caridade, confessou que receber a carta da estudante da ESE-IPVC “foi uma terapia e um bálsamo”. Leonilde recebeu a primeira carta logo após 20 dias de isolamento e estava “muito em baixo”. “Faz muita falta. Com a idade vamos perdendo as faculdades e precisamos muito destes jovens para nos ajudar”, agradeceu a utente, que partilhou “várias histórias” com a aluna.

'Letras com Afecto' é uma acção de correspondência intergeracional com troca de cartas entre estudantes da licenciatura de Educação Social Gerontológica e idosos apoiados por instituições (ERPI/lares e Centros de Dia). Na iniciativa, estiveram envolvidos, para além de quatro docentes, 27 estudantes e 71 idosos participantes do Centro Social e Cultural de Vila Praia de Âncora; do Posto de Assistência Social de Alvarães; do Centro Paroquial de Promoção Social e Cultural de Darque; da Casa do Areal e da Congregação Nossa Senhora da Caridade.

“Como o público-alvo é muito limitado e praticamente estava fechado nas instituições há mais de um ano, decidiu-se fazer esta iniciativa que tinha como objectivo trocar correspondência, criando um selo e envelope personalizados para cada idoso”, explicou uma das docentes envolvidas na iniciativa, Carla Faria. Inicialmente, não estava previsto haver retorno, até porque muitos dos utentes não sabem ler nem escrever. “Mas quase todos os participantes fizeram questão de o fazer”, aplaudiu a docente.

A iniciativa, continuou Carla Faria, para além dos resultados já esperados junto dos idosos “teve um impacto muito significativo nos estudantes em termos profissionais, mas também pessoais”. Por isso, a iniciativa “tem tudo para se manter, tendo em conta os benefícios enormes que traz para todos”.

A iniciativa recuperou práticas comunitárias passadas, como o recurso às janelas ou varandas para interagir, comunicar e ajudar os vizinhos. O projecto começou no âmbito das comemorações do Dia do Gerontólogo, que se celebra a 24 de Março, com o objectivo de “criar algum mecanismo de retaguarda para minimizar os efeitos negativos que sentiram logo no início da pandemia”, lembrou a docente da licenciatura, Carla Faria.

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