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Emigrantes voltam a viver “situações dramáticas”
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Emigrantes voltam a viver “situações dramáticas”

Braga

2013-05-15 às 06h00

José Paulo Silva José Paulo Silva

No âmbito da inauguração do Arquivo Aníbal de Almeida, a Faculdade de Ciências Sociais traz para debate as migrações e as protecção social.

Citação

O sociólogo Aníbal de Almeida alertou ontem, na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa, que “a exploração” social e laboral voltou à comunidade de emigrantes portugueses em França.

Na abertura do colóquio ‘Protecção Social e Migrações’, iniciativa que assinalou a inauguração do arquivo com o seu nome, o ex-provedor da Misericórdia de Paris constatou a desmontagem da rede de assistência aos emigrantes em França, criada após a 2.ª Guerra Mundial, uma realidade que deixa sem respostas adequadas “situações dramáticas” vividas pelos “novos emigrantes” cujo número aumenta de ano para ano.

Aníbal de Almeida, que emigrou para França em 1965, afirmou que, nas últimas décadas, o apoio social aos emigrantes lusos em França foi reduzindo, sendo que floresceram recentemente situações de exploração ao nível da cobrança de serviços ou de promessas de condições laborais não cumpridas. “As situações dramáticas aumentam em qualidade e gravidade”, alertou.

Portugal sempre foi país de emigrantes

No mesmo colóquio, outra socióloga, Engrácia Leandro, apontou a “emigração com formação académica” como “um fenómeno inédito na nossa história”.
Uma das sociólogas que mais se tem estudado a emigração portuguesa, Engrácia Leandro afirmou que este movimento social “nunca deixou de se verificar”. Exceptuando os anos de 1999 a 2002, as saídas de pessoas para o exterior foram sempre superiores às chegadas de imigrantes a Portugal.

Numa comunicação intitulada ‘Lógicas migratórias: custos e benefícios’, a socióloga que viveu em Paris nos anos 80 salientou que “as remessas dos emigrantes continuam a ser fundamentais para a economia portuguesa”.

Biblioteca da ‘Católica’ guarda documentos da emigração em França

A Biblioteca do Centro Regional de Braga da Universidade Católica Portuguesa tem, desde ontem, uma sala reservada ao Arquivo Aníbal de Almeida. Bibliografia e documentação reunida por um homem que foi coordenador dos agentes de acolhimento dos emigrantes portugueses nas estações de caminho-de-ferro em Paris, relações públicas do Comité Liautey (1967-70), fundador da Associação Inter-Services-Migrants (1970-71) e que esteve na criação da delegação de Paris
do Secretariado Nacional da Emigração está agora disponível para investigadores interessados no fenómeno da emigração lusa em França.

Presente no acto simbólico de inauguração do Arquivo, o arcebispo de Braga, que preside à Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, afirmou que o estudo dessa diáspora pode ser uma grande ajuda para ajudar à integração e protecção social dos novos emigrantes portugueses. “A igreja não pode alhear-se deste novo fenómeno migratório”, disse D. Jorge Ortiga.

Aníbal de Almeida referiu que o arquivo doado à Universidade Católica Portuguesa reúne documentação importante para conhecer a acção pastoral e social da Igreja Católica junto das comunidades emigrantes em França, mas também espólio do antigo Secretariado Nacional da Emigração que correu o risco de se perder.

José Carlos Miranda, director da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa, considerou o Arquivo Aníbal de Almeida “um testemunho da obra da Igreja” junto dos emigrantes em França.
Nos próximos meses, o Arquivo é enriquecido com mais documentação que estava à guarda do ex-provedor da Misericórdia de Paris.

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