A comunidade educa
Ideias
2016-01-10 às 06h00
Em chegada a quadra natalícia velha polémica se reacende em França: os presépios! Eriça-se, a esquerda, contra os presépios em espaço público. Que o Estado é laico, dizem, e que não têm cabimento as manifestações de religiosidade em repartições ou organismos oficiais - escolas e câmaras, sobretudo. Sustentam, os que erigem presépios, que o fazem por tradição, não por religião, por prática cultural, não por supremacia espúria ou ténue proselitismo. Mas tais diversões argumentatórias não encontram eco em peitos tão ateus como assépticos: presépio é religião, e não há circunlóquio que o mude.
A esquerda que abomina os presépios, curiosamente, é a mesma que defende até à exaustão os trajes e costumes islâmicos em nome de um laisse-faire laisser-passer multiculturalista. E aqui é que a coisa fica interessante: é que não se vestem os muçulmanos puristas de determinada forma, não renegam eles determinados alimentos nas cantinas escolares, ou certas práticas educativas - piscina para meninos e meninas ao mesmo tempo - em nome de valores exclusivamente civis, mas porque tais preceitos se encontram inscritos na lei canónica. Resumindo, trajar à árabe na rua não redunda de anódina prática etnográfica - como escocês que vestisse kilt - mas de observância de normativo religioso. E contra tal deveria posicionar-se esquerda bem-pensante que se preze. Mas aqui, a esquerda, faz números de circo.
A esquerda de pensamento elegante teve este ano uma má prenda acessória no sapatinho. Má, talvez devesse dizer boa, por proporcionar manifestações extensivas de belo discurso. Corre em França a ideia de destituir da cidadania francesa todos os indivíduos de duplo passaporte associados ao terrorismo islâmico. Mas não é que cai o Carmo e a Trindade com norma tão fascista, tão ela por ela com o partido de Marine Le Pen! Helás, uma sondagem esclarece que 83% da população francesa é favorável, contra 13% em desfavor, que mesmo entre os partidários e simpatizantes socialistas a taxa de aderentes à ideia é dos mesmos 83%. Nunca o postulado sociológico de que o grupo se distribui da mesma forma como a população geral bateu tão certo.
Correrá a França para a extrema-direita à boleia da saturação com a militância islâmica, à boleia do receio do próximo golpe terrorista? Convictamente, caminhará a França para a extrema-direita, com a calçadeira da estagnação económica e da perda de protagonismo à escala mundial? Qual dextra amazona, Marine Le Pen cavalga com notável agilidade os dois corcéis, resta saber se os outros irão a tempo de a fazer cair do cavalo.
Em crónica recente dei eu em fazer futurologia, como se o presente não fosse suficiente para bom ensaio. Dei eu a entender que, mais um nadinha, e tomava a FN o Eliseu ou Matignon, a presidência da República ou o Governo. Bem entendido, as artes divinatórias não são para que eu possa ter razão antes do tempo, mas para que político ou outro, que por acaso passe os olhos por aquilo que escrevo, se dê a trabalheira de uns contactozinhos em tempo útil. É que, se por caprichosa combinação astral a FN chegar realmente ao poder em França, certo é que Bruxelas lhes fará a vida negra, ao que procurará responder o governo francês na mesma moeda. E eu não sei se os países do sul não tratariam melhor de si por intermédio de uma aliança com os novos jacobinos.
25 Fevereiro 2021
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