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Voz aos Escritores

2025-04-11 às 06h00

Joana Páris Rito Joana Páris Rito

Cinquenta e seis femicídios entre Janeiro de 2022 e Setembro de 2014. Quatro no primeiro trimestre de 2025. Em Portugal, mais de quinhentas mulheres, adolescentes e meninas são abusadas por ano. Em Fevereiro, uma rapariga de dezasseis anos foi violada e filmada por três rapazes “influencers” das redes sociais numa arrecadação em Loures. O vídeo teve trinta e duas mil visualizações no TikTok, mas ninguém denunciou o crime às autoridades competentes. No início do presente século, em 2004, Mark Zuckerberg concebeu o Facebook, um site que facilitava a vida aos estudantes do campus universitário nos encontros com raparigas. O que parecia ser uma rede inócua, até prazerosa, ideal no mitigar da solidão e da timidez, um local informatizado de amizades e namoricos, veio a revelar-se um fenómeno que extravasa fronteiras, invade vidas privadas e expõe os mais vulneráveis aos predadores dos mundos real e virtual. O acesso à Internet é algo comum nos dias de hoje e as redes sociais multiplicam-se e angariam navegadores de todas as idades, géneros, raças e credos. São negócios chorudos para os que as exploram e oferecem quantias obscenamente apetecíveis aos chamados influencers, youtubers e tiktokers.

Nunca na História da Humanidade houve tanto acesso à informação e nunca se aprendeu tão pouco. A exposição ao perigo e à invasão da privacidade crescem contrariamente ao conhecimento, à cultura, à educação e à evolução da espécie humana. A série de quatro episódios Adolescência da Netflix alerta para os múltiplos perigos a que estão sujeitos os jovens, mormente as raparigas. Um adolescente de treze anos assassina à facada uma menina da mesma idade. A série foca o medo dos educadores, na escola e em casa, e a incapacidade dos adultos de gerir e lidar com a envolvência dos adolescentes nas redes sociais. Crianças e jovens gastam seis a oito horas diárias e nocturnas isolados nos seus quartos, agarrados a telemóveis, tablets e computadores, assistindo e participando numa panóplia infinda de “conteúdos” vazios de conteúdo que vão desde a palhaçada dos realities shows aos fóruns online INCELS (celibatários involuntários). Estes grupos geridos por homens adultos aliciam adolescentes e fomentam o ódio contra as mulheres. E se a mulher é desde tempos imemoriais o bode expiatório das frustrações e medos dos homens, a internet, a partir destes grupos misóginos, ajuda a promover a violência e os crimes de que são vítimas milhões em todo o mundo. Os homens incels assumem-se machos narcisistas que querem ter relacionamentos com mulheres sem o consegui- rem. Generalizam e denegrirem o género feminino conotando todas as mulheres de galdérias, putas que somente lhes causam sofrimento e por isso têm de ser punidas. E a violação expõe-se como a supremacia do poder másculo sobre o feminino. Os rapazes adolescentes sentem-se compreendidos, acolhidos por estes homens mais maduros que têm experiências com as quais se identificam: a incapacidade de relacionamento com raparigas, a rejeição delas, a raiva e a frustração sexual que elas lhes provocam.

Os adultos do grupo apelam à violência, ao crime, à violação que são concretizadas em todos os países. Se os adolescentes confidenciam tendências suicidas, os adultos incels, ao contrário de dissuadi-los e aconselhá-los a pedir ajuda, aplaudem os crimes contra as mulheres e subscrevem a autodestruição dos perpetradores. A partilha de imagens íntimas de meninas, raparigas e mulheres, algumas manipuladas pela IA, apimentam a violência sexual e propagandeiam a pedofilia, e enquanto uns partilham discursos fatalistas de vitimização, outros divulgam fantasias e intenções planeadas de crimes contra as mulheres. Vigora a crença na supremacia biológica masculina e a obrigatoriedade da subjugação da mulher que existe somente para satisfazer as necessidades do homem. Os adolescentes que se sentem ostracizados pelas meninas e mulheres viciam-se nos grupos INCELS, alimentando-se deles sem se apaziguarem, pelo contrário, a agressividade contra o género feminino estende-se aos pais, professores, trabalhadores das escolas, colegas e profissionais de saúde mental. A defesa da supremacia masculina é milenar. As mulheres lutam há décadas pela emancipação. Será que as tecnologias do mundo moderno, a Internet e a IA, ao contrário de ajudá-las nas suas justas conquis- tas, são armas para a aniquilação feminina?

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