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Vladimir Fiodorovski

Automatocracia

Vladimir Fiodorovski

Ideias

2025-02-16 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Aparecia no canal informativo francês LCI, depois fez-se ausente, ou foi feito ausente. Ressurgiu ontem, quinta-feira, por força da reviravolta sinalizada na frente diplomática dos EUA.
Fiodorovski foi diplomata de carreia, depois conselheiro junto do Kremlin, e o mínimo que se pode dizer é que esteve no núcleo da perestroika. Refiro que há uma celebridade do comentário português que sobre ele poderá discorrer com um detalhe que não me é dado. No que me toca, muito louvaria entrevista, que Fiodorovski não deixaria de conceder à SIC. Talvez não vá ao encontro da linha editorial.
Como quer que seja, Fiodorovski é de pai ucraniano, de mãe russa, e a cisão das pátrias, das mátrias, viveu-a com uma dor que sempre lhe transpareceu nas aparições televisivas. Cansou-se, ou cansou: para a paz de espírito ocidental teria de ser incondicionalmente anti-Putin, e ficava patente que, se não escamoteava os pecados do homem, com falhas compo- níveis do Ocidente avançava em desagravo das derivas do Kremlin.

Ontem, diante de Darius Rochebin – um pivot de grande horário iraniano-suiço – estava radiante. Porquê? Olha, por o desastre não ter ido além do que foi, por não termos sido arrastados para precipício de que não fosse fácil que nos restabelecêssemos à escala europeia, numa Europa com especificidades, mas harmonizada do Atlântico ao Pacífico, sonho de De Gaulle e de Miterrand que Fiodorovski não quer emudecido.
Percebe o leitor que quero ir ao fratricídio russo-ucraniano, que quero tocar o “inalienável direito dos povos à livre escolha de alianças”, que quererei exaltar ou diminuir o parlamentarismo em toda a sua extensão, as boas democracias liberais, em suma, tudo o que por norma acompanha a diabolização dos regimes russos nos seus diversos avatares.
Quero aflorar o que refiro, mas pessoalizando-o em Fiodorovski, que a História tem outro perfume quando evola de seres concretos, qual seja o composto de que são feitos, quais sejam as incongruências, qual seja a síntese de sentimentos e inclinações.

Porque é que a Rússia não se democratizou, a despeito os grandiosos investimentos ocidentais, nomeadamente alemães, interroga Rochebin. Fiodorovski nem leva em conta questão t?o deslocada, porque se evidente foi o saque, não menos notória foi a conivência dos bancos ocidentais. E, no resto, se as Rússias são um aleijão à vista do Ocidente, a Ivan, O Terrível, remonta o diplomata e historiador a indisposição genérica das coroas europeias, porque de outra envergadura e intimidante fosse em si o trono czarista.
Intimidante, antes mesmo de exercida qualquer intimidação. Reprovado, antes mesmo de sujeito a exame ou período probatório. Como aceitaríamos nós uma Rússia-Ucrânia-Bielorrússia unificadas no seio europeu? Por que boas-vontades se subalternizaria a Grande Alemanha às sugestões ou ditames de eslavos no Parlamento Europeu?

Exasperava-se Rochebin com o entrevistado, mas aos acicates respondia Fiodorovski com os pergaminhos de quase seis dezenas de títulos publicados, com o ter sido um dos fundadores do primeiro partido democrático ainda na era soviética. Respondia, Fiodorovski, proclamando a torpeza de quem tanto comentário faz sem nada de nada conhecer, só de ouvido, por agenda assumida, por preconceito.
E é engraçado, agora que Trump tanto parece ir ao encontro de Putin, que nada se fale de manipulações eleitorais. E oh! O escândalo de uma paz a expensas da Ucrânia! E a guerra não o foi, desde o princípio.
Concluo com testemunho de Fiodorovski: «Baker disse na minha frente, duas vezes, que a NATO não se expandiria a Leste». Repensemos o mau da fita.

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