Correio do Minho

Braga, sábado

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Vem aí um novo mundo

Cidadania ou o atrevimento da ignorância (2)

Vem aí um novo mundo

Ideias

2025-03-28 às 06h00

J.A. Oliveira Rocha J.A. Oliveira Rocha

Depois do desabar da União Soviética que se desintegrou, seguiu-se uma década de apogeu americano que dominou o mundo e impôs os seus valores. Simultaneamente, acentuou-se a globalização sob a batuta dos Estados Unidos e das organizações financeiras internacionais. Esta situação, ao mesmo que a Rússia entrava em declínio sob Ieltsin, gerou a filosofia do “fim da história”, desenvolvida por Fukuyama. Mas, a globalização, ao mesmo tempo, contribuiu para o desenvolvimento de outros países, como a China e, depois a Índia. O mundo, sobretudo depois da crise de 200772008, foi-se transformando, na prática, num mundo pluripolar.
Até que chegamos a Trump que pretende transformar a “America great again”. Para isso, quer recuperar a Rússia, envolvida na guerra da Ucrânia, que havia deixado de ser grande potência, embora possuindo o maior arsenal de armas nucleares e fosse detentora das maiores reservas minerais e energéticas.

Há quem veja nesta política o renascimento da doutrina de Nixon e Kissinger que visitaram Pequim e estabeleceram relações diplomáticas com a República Popular da China, tentando afastá-la da União Soviética. Se conseguirem mais uma vez, afrontarão a China, o seu maior concorrente, que ameaça ultrapassá-los. Mas, será que Trump vai ter sucesso, apesar de alienar a Ucrânia, enfraquecer a NATO e distanciar-se da Europa? Parece-nos que não. Os laços militares e económicos entre a Rússia e a China têm-se fortalecido, dependendo uma da outra.

O segundo cenário tem sido insistentemente desenvolvido por Putin e distancia-se do anterior. Putin segue a filosofia de Dugin, filósofo russo, que considera que a Rússia tem uma civilização única e separada do Ocidente que considera inimigo. Além de constatar o declínio americano, vem defendendo um mundo pluripolar que seria controlado por várias potências: Estados Unidos, China, Rússia e, curto prazo, a Índia, cada uma com diversas zonas de influência. E, assim, a Rússia não se opõe a que os Estados Unidos exerçam o seu controlo sobre o Canadá, Gronelândia e Canal do Panamá. Em contrapartida, a Rússia quer transformar as antigas repúblicas soviéticas em estados vassalos, ou estados tampão e que vão da Europa de Leste, aos Estados Bálticos, Cáucaso e Ásia Central. E é por isso, que a guerra na Ucrânia deve parar, seguindo-se o seu destino histórico de ser dividida: a zona oriental para a Rússia e a parte ocidental sob o domínio económico americano.

E a Europa? Qual o seu destino neste tabuleiro da política internacional? Ou deixa de ser uma mera União Económica, ou se transforma numa União Política com políticas comuns no domínio da defesa e relações internacionais, ou fragmenta-se, autodestruindo-se e entrando na esfera de influência das outras potências.
Cabe aqui a previsão de Eduardo Lourenço: “A Europa é relegada para o papel de espetadora no espetáculo que a América encena com mestria aterradora”

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