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Escreve quem sabe
2021-02-22 às 06h00
Continuando o dilema entre a folha branca e o fervilhar de ideias e pensamentos, diverge-se novamente do tema tratado no último texto, atalhando e sobrepondo caminhos e explorando temas e perspectivas complementares, um pouco à imagem e consequência do momento que vivemos: um momento pandémico que nos confina, perplexifica perante determinados comportamentos e nos surpreende com os desafios que formula e desenha. Um momento confinado que, porventura, mais do que nunca, nos liberta (algum tempo) para leituras exploratórias e diversificadas, navegando-se nos livros e jornais, nos apontamentos e procura internauta em busca e em torno de tudo aquilo que, no caso, às cidades e à Cidade respeitam e importam.
E, assim, este texto será o reflexo deste saltitar de assunto em assunto, de tema em tema, sem grande fio condutor legível e explícito, sem grande sequência com o anteriormente abordado, mas, acredita-se, de igual pertinência e, dir-se-á, provocação saudável, para que todos possam ir procurar, explorar e aprofundar o pensamento de cada um sobre este bem comum ao qual chamamos cidade.
Embora aflorado, mas, decididamente, sem o protagonismo inerente e correspondente ao seu impacto na vida quotidiana, regista-se um crescimento da actividade da construção civil e do imobiliário, sem sinal de inversão e acompanhamento da actividade económica em geral. Esta actividade de construção civil e imobiliário cresce, emergem ainda mais obras, investimentos e transacções, contrariando o confinamento e o definhamento da economia e visibilizando a actividade que não se compadece com regimes alternativos de trabalho, que tenta (à sua maneira) responder aos problemas de carência e qualidade habitacionais que se identificam (será mesmo assim?) e que continua a revelar dificuldades e responder aos problemas e desafios que o arrendamento acessível, o alojamento local e a sua reconfiguração, a indignidade habitacional colocam.
Em simultâneo, vamos ouvindo, repetidamente, a necessidade de repensar modos de planeamento e de actuação na cidade, favorecendo-se abordagens, dir-se-á, menos intrusivas ao ambiente e mais amigas da “boa vizinhança e solidariedade”. E tal vai ganhando ainda mais visibilidade no momento em que os recursos económicos de tantos baixam, a solidão de tantos habitantes isolados pela idade, locomoção, distância, … se agravam e expõem o quanto individualista e menos comunitária a sociedade se transformou.
Ao nível das políticas públicas, surge um “pacote de fundos financeiros” inerente à economia circular e, implicitamente, à criação de redes de parcerias e colaboração entre as cidades, colocando no centro da actuação municipal quer a necessidade de reabilitar, reaproveitar, reciclar, dir-se-á, reinventar a própria cidade. Ou seja, extravasando a questão material directa e simplificada à matéria-prima da construção e alargando este conceito à vida da própria cidade: reabilitar e relacionar usos e edifícios, reciclar e reaproveitar espaço público, partilhar e redistribuir recursos numa perspectiva de desempenho conjunto e solidariamente repartido da transformação da cidade (“o que tenho importa ao outro que, porque tem algo que interessa, importa a um terceiro. E, assim, sucessivamente, em que todos são dependentes mas também contributivos para todos”).
Em paralelo a esta circularidade da economia, induz (poder-se-á mesmo dizer impõe) parcerias para o bom sucesso da implementação e aprofundamento desta economia circular. Cada vez mais, é incontornável, fatalmente incontornável, a necessidade do outro para alcançar, mais e melhor, o que se necessita e deseja. Na verdade, o que se visibiliza é que a cidade é muito mais do que território parcelado por limites administrativos, antes matéria comum que a todos respeita…
Nesta divagação temática, velhos hábitos de procrastinar sobre matérias (como revisão do plano director municipal) se repetem e reencontra-se a importância da palavra, do seu bom uso e significado. E, tal resulta e ganha impacto da leitura lenta (que o confinamento possibilita), no caso, de um texto do Gonçalo M. Tavares, algures no jornal semanal Expresso. Nele, Gonçalo M. Tavares expõe a simplicidade complexa da sua escrita, a verdadeira dimensão da palavra. Sucumbe-se à tentação de replicar excertos do seu texto: “Qualquer palavra, qualquer escolha que se faça de verbo, substantivo, adjectivo ou até de uma simples conjunção, é uma escolha política, no sentido geral e estrito desta palavra.”
Não há palavras neutras, diz Roland Barthes. Nas notícias, nos discursos – em lado nenhum. E isto é uma evidência que infelizmente tem de se repetir para que as pessoas não a esqueçam … Todos os cidadãos deveriam ter lições de linguagem como quem tem lições de artes marciais para autodefesa. Nas democracias, felizmente, não é urgente aprender karaté, porque os brutamontes que nos assaltam fisicamente não são assim tantos. Mas estamos constantemente a ser assaltados – física e intelectualmente – através da linguagem. Um cidadão lúcido em democracia ou treina os músculos da linguagem ou é simplesmente um tonto.”
Sabendo que cidade e democracia são, em tese, espelho recíproco, poderei eu transportar estas palavras para a cidade? Oxalá que sim… e todos possam abraçar e fazer das mesmas realidades prática diária!
03 Março 2021
02 Março 2021
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