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Valores ESG na origem de novos dogmas de Gestão

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Valores ESG na origem de novos dogmas de Gestão

Ideias

2023-02-10 às 06h00

Sandra Cerqueira Sandra Cerqueira

Não tenho a pretensão nem tão pouco o atrevimento de me considerar uma expert nos temas da sustentabilidade e das virtudes do framework ESG (sigla inglesa para os temas ambientais, sociais e de governança corporativa).
Mas sou, e o confesso de forma humilde, uma interessada discípula e empreendedora da crescente teoria de uma gestão mais humanista, a qual defende que as empresas existem para servir as sociedades em que operam e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. A gestão humanística defende uma consciência mais elevada de quem somos como seres humanos, o que é importante para nós e como podemos ter uma vida feliz, sem prejudicar o planeta e respeitando assim os seis objetivos ambientais consagrados no Regulamento de Taxonomia da União Europeia.
Este desiderato faz-me recordar o “princípio da utilidade”, da influência de Adam Smith, sobre a maximização da utilidade individual e social da ação do ser humano, que enuncia a “felicidade máxima para o maior número de pessoas”, sendo que “cada indivíduo também aumenta o seu próprio bem-estar quando contribui para o aumento do bem-estar e felicidade da sociedade como um todo”.
Neste seguimento, é com particular entusiasmo que vejo as empresas a integrar a sustentabilidade nos seus modelos de negócio e cadeia de valor e os temas ESG no desenho das suas estratégias corporativas. E a acrescer a isso, testemunho, com orgulho, o facto de cidades como Braga, criarem mecanismos de facilitação e reconhecimento no cumprimento de objetivos de sustentabilidade.
O crescente perfil e considerações dos temas ambientais, sociais e de governança, nos investimentos e na própria obtenção de financiamento, são cada vez mais importantes no processo de decisão das empresas. Neste enquadramento, o futuro das empresas será forjado pela capacidade da(o) CEO em transformar o negócio e abraçar a sustentabilidade, garantindo que a satisfação das necessidades de hoje não compromete aquelas das gerações futuras.
Ainda que os temas ESG se tenham transformado numa corrente dominante e obtido amplo consenso e escala, impulsionados especialmente pelas componentes ambientais e sociais, decorrentes das alterações climáticas e da crise económica, social e geopolítica por força da COVID-19 e da guerra na Europa, subsistem ainda objeções, críticas e dúvidas sobre os seus méritos.
No entanto, as empresas e as autoridades públicas, entre elas as cidades, já não podem ignorar as externalidades negativas da sua atividade e a perceção das partes interessadas (clientes, colaboradores, fornecedores, reguladores, financiadores...) de que a empresa ou a cidade devem atuar de uma forma que é justa, apropriada e merecedora de confiança. Por isso, dar resposta às crescentes externalidades como as emissões de gases com efeitos de estufa, degradação da biodiversidade, lapidação dos recursos naturais finitos, os efeitos sobre as condições de trabalho, violações dos direitos humanos, ou o não comprometimento com a diversidade, equidade e inclusão, tornaram-se desafios urgentes num mundo global, interconectado e onde estes impactos não conhecem fronteiras.
Esta abordagem é essencial para que a empresa e os seus gestores mantenham a sua licença social para operar, garantindo que o seu negócio perdure e resista, com o necessário apoio da sociedade, respeitando os princípios subjacentes à sustentabilidade e aos valores ESG. Como ativa defensora desta abordagem, considero ser uma vantagem competitiva embarcar nesta mudança, seguindo um novo dogma da gestão que afirma que as empresas existem para criar valor no longo prazo a um alargado leque de constituintes. Cai assim por terra o mantra de gestão que aprendi há mais de 20 anos que preconiza a geração de riqueza e maximização do valor do acionista.
A acelerar esta mudança estão não só, os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas e o seu plano de ação para as Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias, como o tsunami regulatório da União Europeia sobre a divulgação de informação não financeira relacionada com a sustentabilidade e o framework ESG. Nas tendências europeias de divulgação desta informação, sublinho o alinhamento com o regulamento de Taxonomia e os seus Atos Delegados (objetivos ambientais de mitigação e adaptação climática), o Sustainable Finance Disclosure Regulation (SFDR), as diretivas sobre o reporte de sustentabilidade (Corporate Sustianability Reporting Directive) e sobre a diligência das empresas em matéria de sustentabilidade (Corporate Sustainability Due Diligence). Sobre esta última diretiva, em particular, importa assinalar a obrigatoriedade de integrar nas políticas da empresa a devida diligência em matéria de direitos humanos e ambientais.
Para empresas da União Europeia com mais de 250 trabalhadores e vinte milhões de ativos totais, como os Transportes Urbanos de Braga, o relato obrigatório relacionado com a sustentabilidade (CSRD) e alinhamento com a Taxonomia, entra em vigor a partir de 1 de janeiro de 2025 para relatórios anuais apresentados em 2026.
Tal como outras grandes empresas, também os Transportes Urbanos de Braga já embarcaram numa jornada da sustentabilidade e ESG. Em termos da curva de maturidade nesta matéria, os TUB encontram-se na etapa “Construir”, tendo já reconhecido a necessidade e as oportunidades da sustentabilidade e estabelecido prioridades estratégicas, objetivos e metas, definindo planos de ação de sustentabilidade com horizonte temporal até 2030. Mas esta jornada é um processo e uma cultura de melhoria continua. Em matéria de sustentabilidade e considerações ESG só faze sentido se integradas na estratégia e propósito da organização.
Deve, portanto, ser empreendida com rigor, baseada em evidências e entendida como nuclear ao modelo negócio, que se quer sustentável, do ponto de vista ambiental e social, por gerar impactes positivos nestas dimensões, e alicerçado em princípios de uma boa gestão empresarial.

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