Ettore Scola e a ferrovia portuguesa
Escreve quem sabe
2022-09-26 às 06h00
Arnaldo e seu filho Artur tinham uma ideia de negócio. Frequentadores de eventos literários, ouviam, aqui e ali, observações sobre o negócio editorial nacional e, mais especificamente, sobre a ausência de editoras independentes na cidade em que viviam. A maior crítica incidia na forma como algumas editoras se impunham aos novos autores, estabelecendo condições incompreendidas e difíceis de aceitar. Perguntaram a alguns editores da praça e todos foram unânimes: salvo raríssimas exceções, o negócio da edição de livros está condenado ao fracasso, em razão ora da falta de qualidade dos autores, ora da convicção, atribuída à maioria, de que se consideram geniais e de que, por conseguinte, a sua ação termina na escrita do seu livro. Nestas condições, quem conhece o mercado sabe que, se não houver a participação do autor, a edição certamente dará prejuízo, e nenhuma empresa voltará a assumir riscos. Neste cenário, Arnaldo e Artur repensaram a sua ideia, obrigaram-se a estudar mais cuidadosamente todos os processos envolventes da economia do negócio, passaram a pente fino as fases de planeamento, controlo e acompanhamento do negócio, sentiram na pele a complexidade da criação de uma empresa, o custo da sua criação e do investimento inicial, que inclui capitalização. Foram surpreendidos com a obrigatoriedade de uma miríade de procedimentos, que supõem o conhecimento de legislação específica, para além da necessidade legal de um contabilista encartado. Em suma: a ideia inicial trans-formou-se, num curto espaço de tempo, numa grande preocupação, pois exigia o conhecimento de detalhes micro e ma- croeconómicos que desconheciam serem realmente necessários.
Primeiro passo técnico: em época de soluções automatizadas e profissionais, como catapultar a empresa sem gastos excessivos? Afortunadamente, Artur é engenheiro informático, conhece os meandros do marketing digital e sabe, inclusive, construir sítios, mostruários internéticos do trabalho realizado. Dominar o processo, conhecer redes sociais suscetíveis de potenciar a venda de produtos, conhecer fórmulas de internacionalização, conhecer, ainda, sistemas de gestão de eficácia comprovada, são fatores importantíssimos para o desejável êxito. A preços de mercado, quanto custaria à empresa este trabalho e conhecimento no caso de serem pagos?
Segundo passo: como processar a exposição do produto, como distribuí-lo universalmente, que custos inerentes deverão ser considerados? Chegados a este momento, pai e filho sofreram um choque com que não contavam. A distribuição do produto realizado por empresas profissionais engole, em geral, 60% do seu valor, o que limita, pelo menos numa fase inicial, a ação da editora a criar. Pensam em soluções práticas, na venda direta realizada em eventos por si organizados, na consignação a livrarias e espaços comerciais específicos. Pensam, ainda, na venda em plataformas digitais do tipo Amazon, Wook ou Fnac. Nada é gratuito, tudo tem o seu custo. O objetivo fundamental, numa fase inicial, será o de conter os custos. Conseguirão?
Pensam em outras situações consequentes, no controlo de vendas e no registo dos valores, nos contactos a estabelecer com os parceiros de negócio, na necessidade de sínteses entre o deve e o haver. Conseguirão controlar todas as variáveis? O valor do produto foi bem definido? Foi bem considerado o seu custo inicial? É possível cimentar as parcerias e o estudo do mercado tipográfico foi feito de forma conveniente?
Outro fator importante a considerar: onde sedear a empresa, quais os custos de um escritório funcional e com capacidade de armazenamento. Na fase de arranque, não sentiram a necessidade de considerar uma variável importante: o armazenamento do produto, que, consoante a tiragem, pode ocupar um espaço bem considerável. Mas, e daqui a algum tempo, com a produção a multiplicar-se e o espaço a reduzir-se?
O senhor Arnaldo e o filho Artur começam a sentir a pressão. São tanto os fatores a considerar!... Os objetivos são claros: por um lado, produzir cultura, contribuir para o nascimento de novos valores; por outro, criar uma empresa equilibrada, sem custos desnecessários e com potencial para resultados positivos. Serão capazes? O futuro próximo é já ali. Acompanham, expectantes e ativos, o desenvolvimento da empresa. Acreditam que vai resultar.
*com JMS
10 Outubro 2024
08 Outubro 2024
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