Recordando o 75.º Aniversário do Escutismo nos Açores
Ideias
2011-03-04 às 06h00
Depois de mais de meio século de paz e prosperidade, tudo parece desabar. As nossas certezas e estratégias transformam-se em incertezas e dúvidas. Primeiro foi a crise financeira de 2008 que rapidamente se converteu em crise económica e que deixou a nu a necessidade de mudar de vida. O nosso mundo de saúde paga e pensões garantidas é hoje fortemente problemático. Já desde os finais da década de setenta do século passado que os estados procuravam ajustar as suas finanças à diminuição do crescimento económico, mas actualmente ou o Estado muda ou é a falência do nosso estilo de vida.
Ainda a crise está longe de estar resolvida, e eu estou convencido que não se resolve com recurso a instrumentos de política económica tradicionais e outra trovoada desaba sobre a cabeça do Ocidente. Refiro-me à revolta do mundo árabe.
Durante décadas habituaram-se os ocidentais a contar com petróleo barato assegurado por regimes autoritários e monarquias feudais.
Dizia-se nas chancelaria europeias que o importante era a estabilidade política desse sultanatos que asseguravam energia barata. A questão dos direitos humanos era vista com certa bonomia, tanto mais que esses regimes constituíam uma barreira ao fundamentalismo islâmico.
Verificou-se agora que os árabes não são um bando de fanáticos que querem usufruir dos bens de consumo, da mesma maneira que os cidadãos ocidentais. É um mundo perigoso para estes, já que apela a uma nova repartição de rendimentos.
Mas o mais interessante nesta revolta é que não seguiu os cânones tradicionais. Vulgarmente chamada revolta do facebook, adopta métodos pouco convencionais. Em países como estes o processo tradicional de derrubar os governos militares ou militarizados consistia no recurso à luta armada ou ao golpe militar. Mas nada disto aconteceu. Estes movimentos inspiram-se em ideologias de não-violência. Com base no livro - From Dictatorial to Democracy - escrito por um obscuro professor de Ciência Política, Gene Sharp, os manifestantes da Tunísia ao Egipto, saíram para a rua e manifestaram-se contra os ditadores. O que prova que os povos árabes não são tão atrasados. O que virá a seguir? Não sabemos. Muito gostariam os ocidentais que fosse uma democracia digitalizada nos sistemas políticos europeus, mas não sabemos.
Mas o mais aterrador é que o ocidente pode também desabar com um movimento deste tipo, sem chefes, sem atentados, sem violência. E o nosso mundo de partidos políticos, democracia representativa, separação de poderes, após dois séculos de Revolução Francesa, pode muito bem estar em crise.
O pensamento de Sharp é uma mistura explosiva de Ghandi, Maquiavel e Clausewits que serve os objectivos da geração à rasca. Em entrevista recente (25 de Fevereiro de 2011) explica a sua ideia, dizendo que, como os sistemas políticos se baseiam em culturas codificadas e valores aceites, e importa é descodificar esses valores e desmantelar essa cultura; o que não pode fazer-se através de violência, pois que neste caso o sistema de coacção reage, facilmente desmantelando as manifestações violentas. E termina, sublinhando que a velha análise da política não é mais adequada.
06 Outubro 2024
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