Segundo João Barrento, “Uma educação para o silêncio poderia ser uma educação para a leitura" (Observador). Esta educação contraria os ritmos sonoros que nos invadem diariamente na rotina citadina e que nos fragilizam a força da concentração e a vontade de lermos mais. Hoje, já leu 10 minutos? É importante termos um período a sós com o nosso interior, um minuto de coesão, emersos em silêncio, pois todos os nossos sentidos são afetados com o stress da rotina.
A pausa para a leitura, enquadrada num cenário de silêncio, traz-nos benefícios importantes, tais como o relaxamento, o combate ao stress, a calma, a contemplação, a concentração, a compreensão e interpretação e as ligações interdisciplinares, que nos ajudam a melhorar a capacidade de trabalho, de comunicação escrita e oral, a oportunidade de aprender coisas novas, alargar o vocabulário da nossa língua e de línguas estrangeiras e estimular a imaginação.
Muitos projetos têm sido implementados em escolas, no estrangeiro e em Portugal, e também em empresas, onde o silêncio e a pausa para a leitura são condições necessárias ao desenvolvimento do gosto. Conheça-se por exemplo o conceito desenvolvido pela Associação francesa “SILENCE ON LIT” (https://www.silenceonlit.com ) que tem por objetivo desenvolver espaços quotidianos coletivos silenciosos dedicados à leitura, cujas regras são garantir a eficácia e a sustentabilidade. Proporciona-se um momento de leitura diário e coletivo, um momento de silêncio onde cada um lê o livro que gosta. Este ritual diário de leitura de um quarto de hora, uma vez instalado, permite uma visão diferente do livro. O retorno em termos de apaziguamento, concentração, melhoria do ambiente escolar é, segundo esta associação, extremamente positivo. A leitura diária cria uma relação duradoura e positiva com o livro selecionado. Em Portugal, o projeto “10 minutos a ler nas escolas 2023”, é uma iniciativa do Plano Nacional de Leitura, articulado com o Ministério da Educação e a Rede de Bibliotecas Escolares, tem como lema “Em presença ou à distância, sempre perto da leitura. Em qualquer lugar.” É dirigido aos alunos dos 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico e do Ensino Secundário da rede pública, para que instituam no seu quotidiano a atividade diária da leitura por prazer.” O ato da leitura poderá ser feito em qualquer espaço da escola, dentro ou fora da sala de aula, sendo que o mais importante é que sejam dadas condições para que toda a comunidade possa ter oportunidade de escolher um livro e ler.
Alguns conselhos que ajudam a melhorar a leitura de textos passam por: 1) evitar recuar muitas vezes ao texto lido anteriormente, pois o pensamento fica fragmentado, perde-se a ideia geral do que se está a ler e a concentração diminui; 2) É aconselhável treinar diariamente para manter uma leitura dinâmica e escorreita, num ritmo constante, parando o estritamente necessário numa palavra cujo significado impede de continuar; 3) Deverá optar por uma postura relaxada, evitando muitos movimentos de corpo para não se distrair mentalmente; 4) Poderá ler em voz alta ou sussurrar palavras, contudo o ideal é acompanhar o texto com os olhos pelas linhas, sem parar a cada palavra; 5) Obrigue-se a ler em silêncio, a captar ideias e parágrafos e não a fixar-se muito tempo em palavras isoladas. Deverá adotar uma postura ativa e crítica. Com tempo, todos estes procedimentos se tornam automáticos, adquirindo um caráter quase instintivo.
As orientações atrás indicadas aplicam-se mais facilmente à leitura de textos em prosa. Uma prosa mais fluída e constante. Quando nos voltamos para a leitura de poesia, o encadeamento dos versos, deixam-nos por vezes num espaço vazio que para muitos é um pouco desconfortável, inseguro, em branco, sem corda, que nos obrigam a um exercício ainda mais rigoroso de leitura. O “verso” apoia-se simultaneamente no espaço branco do silêncio e, no traço preto das palavras. O poema é um “quase” irmão da música. Na música, o silêncio veste-se de instrumentação. Na poesia, as palavras possuem corpo, semântica e o som. A leitura em voz alta é importante na poesia, pois a sonoridade dá-lhe estrutura. A leitura pausada do poema trará a compreensão mais profunda e muito mais deleitosa. A palavra é insubstituível no poema, por isso não pode ser modificada em hipótese alguma, dado que a sua sonoridade e representação no texto são profundas.
Aproximamo-nos do Dia Mundial da Poesia (21 de março) e da Semana da Leitura (27 a 31 de março) e aqui deixamos o convite a todos os leitores do Correio do Minho: procurem um espaço com silêncio, por favor, e convidem-se a degustar de um bom texto, quer seja prosa ou poesia. Livros à disposição existem muitos, gratuitos nas suas bibliotecas públicas, escolares ou académicas, ou nas livrarias, se quiser tornar-se proprietário de um bem cultural. O mais importante de tudo é torna-se verdadeira e intrinsecamente proprietário de um valor da cultural que é a leitura. Leia mais.