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Um debate sobre os debates

Cidadania ou o atrevimento da ignorância (2)

Um debate sobre os debates

Ideias

2022-01-15 às 06h00

Vítor Oliveira Vítor Oliveira

Mais do que procurarmos saber se ganhou Costa ou Rio, é importante saber o que Portugal ganhou com o debate e, sobretudo, o que vai ganhar com estas eleições. Muitos dirão que ficará tudo na mesma, por mais cenários de governação que se esbocem e por mais contas que se façam.
Há dois anos, os teóricos da política defenderam que Rio ganhou o debate. Na prática, na realidade dos factos, perdeu as Legislativas. Este período de pré-campanha faz lembrar a antevisão de um jogo de futebol: ouvem-se os adeptos, falam os comentadores e perspetivam-se resultados. Mas o jogo jogado apenas se disputa no dia 30 de janeiro.
Essa é a final, a grande final. Pelo caminho, assistiu-se a um calendário de imensos debates a fazerem lembrar o frenético almanaque de jogos da fase final de um Europeu de Futebol: “duelos” todos os dias, com claques partidárias, em horário nobre, em canais diferentes, com 25 minutos de duração. Este foi o modelo adotado para que os portugueses ficassem… esclarecidos.
A verdade, porém, é que o tempo dos debates afigurou-se demasiado curto e o pivot televisivo, qual árbitro a dirigir a peleja, assumia muitas vezes o protagonismo do desafio, restando pouco tempo aos candidatos para poderem expor as suas ideias na “flash interview”… perdão, no debate.
As regras do jogo foram aceites, é verdade, mas estou em crer que, em alguns casos, caso fosse uma possibilidade, o adepto-espetador iria exigir, provavelmente, a devolução do preço do bilhete. O público gosta de ver espetáculo, mas não aquele que muitas vezes os candidatos nos brindaram, com entradas de carrinho passíveis de serem mostrados cartões, ou melhor, fotocópias!
Vi quase todos os debates. E também vi que cada debate de meia hora foi encarado como uma batalha. “Comigo, não passa!”, ouviu-se num dos duelos. Os estrategas militares defendem que as batalhas ganham-se antes de começarem. E, por essa razão, todos os partidos prepararam frases, soundbites e outros “bitaites”, sabendo que o estudo feito em casa seria o resultado, no dia seguinte, de títulos apelativos e de aberturas de páginas de jornais.
O ataque demonstrou ser, em muitas situações, a melhor defesa. Tudo sempre muito tático. Às vezes, jogou-se para o empate para não comprometer o que pode ser decidido no jogo da grande final, a 30 de janeiro. Ora, isso deu azo, em determinadas vezes, a suposições, insinuações e declarações dúbias que conduziam à generalização, perceções erradas e à inevitável desinformação.
Na verdade, estes debates deviam de ser a oportunidade dos portugueses conhecerem orientações ideológicas e o que os candidatos tencionam fazer. Muitas vezes, o que assistimos foi apontar o erro ao opositor, demonstrando conhecer “muito bem” o programa… adversário! Faltou mais… conhecer (melhor) os conteúdos e as propostas para serem resolvidos os problemas do Portugal real. E cativar os indecisos.
Repetiram-se cassetes, com os temas a variarem entre as famosas reformas estruturantes para o país, mas sem identificar quais. Falou-se de crescimento e de aumento de produtividade. Crise sanitária, económica e social. Pouco de educação e muito de TAP. Mas também de desemprego, exportações, segurança social, saúde e do slogan da “geração mais qualificada de sempre”. Objetivo: somar… pontos!
E “jogou-se” muito no tempo de compensação, para lá do debate propriamente dito, em que o tempo de análise dos comentadores era quase sempre superior ao tempo de debate dos candidatos! No prolongamento, o VAR (Vote Assembleia República) está entregue ao povo, o verdadeiro árbitro do jogo.

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