E a guerra continua...
Voz aos Escritores
2024-09-20 às 06h00
A música assusta. Estamos num batizado, há quem dance e quem tente conversar. Ao meu lado, dois jovens expõem algumas ideias sobre realidade e fotografia. Um sugere ter um pensamento artístico, e dou comigo a navegar no belo e no sublime kantiano.
Outro lembra a importância da técnica em toda a arte. Fico aqui, bebericando uma água fresca, mas atento aos argumentos. Não fico admirado com a sua abrangência, nem com os matizes que, suavemente, tingem palavras como "mau" ou "bom", e vem-me imediatamente à lembrança o facto de, na noite anterior, ter dormido quase nu ao lado de alguém com três cobertores em cima. "Quente" ou "frio" referem qualidades que são sentidas de forma quase antagónica, o mesmo acontecendo com "bom" ou "mau".
Haverá algum problema na categorização ou na qualificação da realidade e, a haver, situar-se-á não na realidade, mas na insuficiência da palavra, na sua eventual polissemia ou, mesmo, na ausência do seu conhecimento? Aproveitei a ausência de um dos interlocutores e levantei esta indagação. Facilmente fui remetido para a neurobiologia, para Damásio e para a dissensão "pensamento versus linguagem". Chomsky e Piaget novamente na liça.
Até que ouvi do jovem a expressão "metapensamento". Jovem muito interessante, a conversar de coisas profundas, de algo não muito usual e que enquadro na metacognição. Dizia ele: "às vezes dou comigo a pensar nos meus próprios pensamentos e na razão por que o faço, e até nas próprias circunstâncias com que penso". Naturalmente, ele explicitou algo que, não poucas vezes, nos ocupa o espírito. Ou porque queremos conhecer aquilo em que estamos a pensar, ou porque queremos regular o nosso próprio pensamento. E relembrei a frase que tinha dito a uma sua filha, perguntando-lhe se gostava de ler, ao que ela respondeu que sim.
E falámos dos excessos do telemóvel e das suas consequências para as zonas emocionais, racionais e até físicas dos nossos jovens.
A verdade é que necessitamos com urgência desta verificação, que é com certeza seminal: a metacognição, o metapensamento, são etapas nucleares da nossa humanização. Temos de pensar profundamente sobre aquilo que pensamos, para evitarmos erros que se tornam crassos na nossa vida, e para que, lavados de impurezas, guiem os nossos filhos nas águas límpidas da vida.
A tarefa, porém, não é fácil. Pode o pensamento ser totalmente livre quando somos sistematicamente rodeados de mentira e de falsidade, de manipulações informativas, de realidades criadas artificialmente, mas de tal forma vívidas que nos põem como loucos no meio das pontes, sem saber para onde olhar? Realidade e ficção são, hoje, quase indistinguíveis, e não será doravante fácil manter os corações puros.
Eu ainda acredito na inteligência e na emoção de jovens como este, capazes de refletir sobre as implicações e as consequências do próprio pensamento.
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