Correio do Minho

Braga, quinta-feira

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Território: Litoral e Interior

Braga - Concelho mais Liberal de Portugal

Ideias

2017-12-04 às 06h00

Filipe Fontes Filipe Fontes

Na sequência de constatações, evidências e ausências, fixa-se, hoje, estas palavras no território, essa noção de “espaço físico” tão vasta que parece não ter dono, essa realidade tão próxima que faz dele uma parte de cada um de nós!
Território que é a base, o suporte de toda a nossa actuação, toda a vida e onde se expressam as nossas necessidades e desejos, onde se contêm todos os nossos sonhos e requisitos para uma vida, individual e comunitária, que cada vez mais se deseja mais saudável e credível.
Território que resultará (é convicção), talvez, naquela realidade que mais tem sofrido de ausências e equívocos, de relativização e “dado adquirido” como certo, imutável e infinito.

Ao contrário do que o pensamento maioritário revela (que parece dar como consumada a sua organização física e administrativa, a sua governabilidade e adaptação aos desafios que o tempo e a evolução da espécie humana vão gerando) o território carece de atenção e pensamento, acção e estratégia. Dir-se-á mesmo que, a montante da nossa vida individual e comunitária, tudo começa no território.

E, ao pensar no território (escala nacional) e no que nele encerra “este pais à beira mar plantado”, algumas evidências feitas interrogações:
A primeira de todas prende-se com a dicotomia litoral e interior ou a pergunta se Portugal terá “interior”… O que significa “ser interior” neste país em que tudo está próximo do mar quando comparado com tantas outras realidades por esse mundo fora. Denominaremos nós o nosso “interior” pela sua realidade natural e ambiental, muito associado ao campo e à serra, à agricultura e à floresta (na verdade, não raras vezes, se aparenta reduzir a dicotomia interior / litoral a outra dicotomia do rural e do urbano como se no dito “interior” não existissem sinais evidentes de urbanidade, mas antes, apenas e só, resquícios de uma ruralidade que se vai apagando…)? Significará este “interior”, simplesmente, ausência da “coisa urbana” - rede de equipamentos, infraestruturas, conforto e serviços, …? Ou ainda, mais simples e mais grave, uma realidade que, por nos ser distante e indiferente, que não se vê e esconde, que está longe, não é “interior” nem “exterior”, apenas e só uma realidade distante que só o turismo, o regresso à terra natal em festas, entre outros, nos fixa na memória e pensamento?

Como as incertezas são muitas, e é convicção de que não se sabe o que é interior e porque se chama assim (como muitas vezes se diz “é assim porque sempre foi assim”), há muito que não se pensa na sua organização e hierarquização, no seu significado e importância. E não se trata tão só de infraestruturas, equipamentos, acessibilidades, actividade económica. Trata-se sim de perceber quais as realidades que podem ser pontos intermédios e intermediários entre um mundo carregado de serviços e comércio, turismo e economia, da dita urba- nidade e um mundo vasto de aparente características contrárias. Trata-se sim, de valorizar as cidades médias (à escala do país) que existem “para lá da linha mais litoral” e dar-lhes a consistência necessária para melhor servir (e servir de forma capaz) a respectiva área de influência.

E, complementarmente, trata-se de promover sinergias e competências, de conjugar esforços para que estas cidades médias se concertem em função das suas complementaridades culturais, económicas, ambientais e societais para ganharem “escala” e alcançarem condi- ções de competitividade no mundo globalizado.
Sem este pensamento crítico sobre estas cidades médias, e sem o seu respectivo posicionamento, não há rostos definidos e não há níveis de exigência e aceitação. Talvez por isso, as reivindicações surjam quase como um pedido de favor. As concessões quase como uma dádiva…

E porque não há sociedade sem governação e o território (só) ganha sentido com a sociedade (feita comunidade), questiona-se o modelo de governação (aceitando-se como bom o pressuposto de que existe governação) e o papel que o estado representa para este interior.
Entre desconcentrar (que mais não significa do que distribuir espacialmente o poder, ficando este nas mesmas pessoas e instituições), descentralizar (que introduz um grau intermédio de ponderação e decisão mas não deixa de implicar a permanência da dependência) e regionalizar (um novo nível de decisão mais circunscrito e legível mas que tem sido envolto em tanta polémica que a sua reflexão parece enviesada…), fica a convicção de que “navegamos à vista” em terra seca…

Importa reflectir sobre este território sem preconceitos e certezas. Apenas com vontade em identificar, valorizar e corrigir. Numa palavra, em equilibrar uma realidade física indispensável a todos. E tratar bem o que merece ser tratado como tal!

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