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Escreve quem sabe
2025-04-15 às 06h00
Todos sabemos que a certeza é relativa e que a incerteza faz parte das circunstâncias normais do Mundo, e de todo o futuro. Todavia, há períodos em que os momentos de incerteza se acentuam e nos trazem mais problemas, quando não danos, nomeadamente em tempos de guerra, de calamidades naturais, ou de epidemias como a que tivemos recentemente. Hoje o Mundo vive um tempo desses, sem que os exemplos acima referidos se apliquem. De repente, um só homem consegue colocar a incerteza nos nossos dias. Na maior potência económica e militar do Mundo foi eleito um presidente que lembra os xerifes do tempo da expansão ocorrida no cinéfilo faroeste americano. Apesar da lei, cumpre-se a vontade de um homem, um líder que poderia ser sábio, educado e estadista, mas que quis deliberadamente ficar a ser conhecido como astuto e um ameaçador justiceiro, servindo-se duma experiência e de um estilo que diz melhor saber fazer: A do negócio. Vai castigar os outros, assegurando aos seus um sucesso histórico, sendo os outros o resto do Mundo.
Saber negociar não é um defeito, mas uma capacidade positiva reconhecida. Quem negoceia releva o melhor do que tem para que suba o valor, e correspondente preço, do que vende, ou troca. Mas só será negócio se a outra parte aceitar - de livre vontade - pagar o preço pedido. Quando quem vende impõe o preço sob outros escudos e ameaças, deixa de haver negócio e passa a haver dolo propositado, enganando e coagindo a outra parte até ceder, até ao limite da extorsão do que lhe não é devido. Isto não é aceitável, sobretudo quando envolve nações soberanas. A agravar tudo isto, somam-se-lhe o abuso de outras circunstâncias, cujo maior e mais profundo golpe é a quebra de compromissos anteriormente assumidos e atitudes que levam à perda de confiança entre as partes.
A economia só funciona se houver confiança. Esta pode ser demonstrada em diversos formatos, sendo importantíssimo os bons exemplos do passado e crédito de bom cumpridor. Ora tudo isto parece ter desaparecido na maior economia do mundo, no maior aliado do Mundo Ocidental, caraterizado pela liberdade política, cultural e económica. Isto piora quando a falha provém da parte que todos referenciam como o melhor entre pares, instalando-se a desilusão, a incerteza, a desconfiança e o medo. Como alguém dizia, “não há maior dor, do que a que advém dum golpe da família ou de um amigo”. Aqui estamos nós agora, incrédulos e receosos.
O que se passa com o Mundo?
A história diz-nos que nunca tantos viveram tão bem. Há menos fome, miséria e conflitos armados (infelizmente estes nunca acabaram, nem acabarão tão cedo). Aumentou-se a riqueza mundial, a qualidade de vida, o conhecimento e o relacionamento entre povos e a opção pelo primado da Lei em substituição do poder da Força. Criaram-se instituições para a sua defesa e melhoria, esperando-se que o mundo fosse progressivamente avançando na diminuição das desigualdades. As Democracias serviam melhor que outros sistemas políticos estas premissas e objetivos. Porém, aumentam os exemplos que rompem com este caminho, com a agravante disto acontecer maioritariamente nas zonas do globo com maior desenvolvimento económico e social.
Custa-me muito a aceitar que estejam a crescer os exemplos de lideranças políticas que se afastam da Democracia em nome duma justiça imposta por chefes que se querem duros e apologistas de roturas drásticas nos sistemas políticos vigentes, prometendo acabar com os defeitos que ainda existem no estilo de vida que fomos conquistando nas últimas décadas. Compreendo que nem tudo vai bem, que o excesso de liberdade económica favorece quem já vai adiante, aumentando o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. Compreendo que o Estado Social já não acode a todos como era espectável em Democracia, justamente porque o dinheiro vai para os mais abastados e para as burocracias da gestão pública. Compreendo a falta de confiança em quem politicamente nos representa, porque não ousam propor melhorias no sistema político vigente que se mantém praticamente imutável há demasiado tempo. Compreendo os que temem o futuro sob as ameaças do desenvolvimento tecnológico digital que aperta ainda mais o crivo dos beneficiários dos seus lucros, deixando para trás os menos adaptados, fazendo regredir acentuadamente o número de pessoas que se consideram incluídos dentro da designada “classe média”, justamente a que decide eleições. Tudo isto ocorre à vista de todos, empolados pelos média e as redes sociais, começando-se a duvidar da capacidade - ou falta de vontade - dos políticos da Democracia. A sua falta de coragem faz aumentar do número de pessoas que os acusam de interesses escondidos, embrulhados num sistema que também os beneficia.
Lamento tudo isto. Lamento a falta de estadistas, a falta de líderes que não conseguem sair desta teia de interesses aparentemente democráticos e justos, mas cujos resultados não chegam aos seus eleitores. Compreendo as pessoas que começam a ficar cansados dos dias que se repetem sem esperança, da rotina das discussões políticas de retórica, da falta de horizontes futuros, da ausência de políticos que tragam objetivos e projetos com metas futuras, e não apenas os arredondamentos e ajustes do possível a curto prazo a coberto da falta de dinheiro.
Da incerteza se passa a dúvida e desta para a aposta no risco de sobrevivente, formando um caldo político que favorecerá os autocratas que se apresentam com coragem para mudar, apesar de todas as probabilidades de se transformarem em ditadores no futuro.
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