Nevoeiro soprado, verão sem mergulho adiado
Escreve quem sabe
2023-07-21 às 06h00
Antes que inicie a contenda deixem-me esclarecer que não sou fumador. Tive a vantagem de privar com amigos, na maioria, sem relação com o fumo e os que tinham nunca provocaram o que fosse. Por sorte ou por caráter, o cigarro foi sempre um andarilho estranho e nada sedutor. Todavia, respeito quem inala embora torça o nariz pelas razões que adiante descrevo.
Sem pedir licença às palavras, está provado que um cigarro fumado é o mesmo que dar um tiro no pulmão. A cada minuto, 10 milhões de fumadores acendem um cigarro e 15 pessoas morrem por causa do tabaco. Posso escrever de uma outra forma e referir que, a cada quatro segundos, falece um fumador no mundo. Entre nós, o consumo de tabaco é a principal causa de morte evitável. Mais de 20% das mortes por cancro são atribuíveis ao tabagismo.
Os dados fazem espirrar o cérebro daí que não estranhe o alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) quando disse recentemente que metade dos fumadores morre prematuramente. São mais de oito milhões de pessoas onde perto de 1,2 milhões destas mortes são resultado da exposição de não fumadores ao fumo passivo.
Face a tanta nuvem envenenada, não fiquei espantado quando li, por estes dias, que a venda de cigarros pode acabar em 15 anos. Ingenuidade ou crença, a verdade é que ao tabaco está associado um cordão de males: cancros, em particular o do pulmão; enfartes (ataques de coração); acidentes vasculares cerebrais (AVC) e distúrbios respiratórios do tipo DPOC (doença pulmonar obstrutiva crónica).
O quadro fica mais negro quando somamos o que sucede no planeta. A OMS adverte que a produção e o consumo de tabaco libertam todos os anos mais de 80 milhões de toneladas de dióxido de carbono, o equivalente a um quinto da poluição causada por aviões comerciais. As referências abundam por todo o lado: perto de um milhão de toneladas de beatas, com os seus filtros de acetato de celulose, não biodegradáveis, são deitadas fora todos os anos; o cultivo do tabaco requer anualmente 22 mil milhões de toneladas de água e a indústria produz 25 milhões de toneladas de resíduos sólidos; mais de 7.000 químicos foram identificados no fumo do tabaco, dos quais pelo menos 70 são conhecidos por serem cancerígenos para pessoas e animais; mais de três milhões de hectares de terra em mais de 120 países estão a ser utilizados para cultivar tabaco, mesmo em nações onde as pessoas passam fome e por aí fora.
Apesar dos apertos de quem manda e das intenções de termos uma geração livre de tabaco em 2040, a verdade é que o consumo continua a aumentar entre os portugueses. A garantia está explanada no mais fresco Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Ativas na População Geral (INPG).
Em contraponto, o peso da indústria tabaqueira. Só em Portugal, são produzidas 15% das vendas de cigarros da União Europeia (UE) com receitas fiscais superiores a 1,2 mil milhões de euros por ano. Não admira que a nova proposta de lei do tabaco já tenha recuado em várias matérias. A pressão do lobismo continua a cavalgar em detrimento do bem mais precioso da humanidade. Não obstante, em maio deste ano, foram aprovadas pelo Governo novas medidas de restrição ao fumo, tanto de tabaco tradicional, como tabaco aquecido. Algumas entram em vigor ainda este ano, outras só a partir de 2025.
Neste emaranhado, é notório como são desafiadas as fronteiras entre saúde pública e liberdade individual. Porém, reduzem-se consultas para deixar de fumar e não há nenhum fármaco no mercado que seja comparticipado quando sabemos que estamos a falar de uma prática que mata 700 mil pessoas por ano e onde 50% dos fumadores morrem prematuramente (têm, em média, menos 14 anos de vida).
Em suma, com fumo ou sem fumo, importa também olhar para o lado. Sim, para aqueles que querem seguir na névoa. Sem dramas, nem bacoquices. Desde que sejamos salvaguardados do fumo, não há direito para apontar o dedo. O ricochete é garantido. É uma questão de tempo. Porque isto de ter razão sem aspas tem muito que se diga. Há outras matérias não muito diferentes onde assobiamos para o lado. Deixemos a quem de direito a decisão de colocar, mais ou menos transitável, o trilho para marchar e deixemo-nos de pregadores da verdade. Até porque, de quando em vez, uma passa serve para travar tanta imbecilidade que gravita por aí.
08 Julho 2025
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