Reclassificar o solo
Escreve quem sabe
2023-10-03 às 06h00
A palavra “sustentabilidade” entrou na moda. Hoje tudo tem que ser sustentável: as políticas, as empresas, as cidades, as vidas das pessoas, etc., etc.. Todavia, a palavra é mais usada na abordagem ao clima e quando nos referimos aos estragos que vimos fazendo às condições naturais para a vida no nosso Planeta.
Têm sido as surpreendentes oscilações climáticas vividas nos últimos anos, com picos de calor, seca persistente e chuvas torrenciais fora do habitual, acontecimentos que, apesar de extraordinários nos têm chamado a atenção e nos tem levado a aceitar que essas condições indispensáveis à vida podem ser fácil e rapidamente destruídas. A vida só é possível com ar saudável, água potável suficiente e uma quantidade e bens alimentares adequados. Estamos – poucos - a tomar consciência que estamos a dar cabo destes recursos aceleradamente.
Esta consciência de ameaça ao “Ambiente Natural” acontece ao fim de cerca de 300 mil anos da proliferação do “Homo Sapiens” na Terra. Contudo, a responsabilidade da perigosa degradação do ambiente tem início à cerca 200 anos, aproximadamente. Um período que coincide com a era do maior crescimento e desenvolvimento da Humanidade a todos os níveis de parâmetros que utilizamos para aferir da qualidade de vida e dos seus avanços civilizacionais. Tudo cresceu:
- Crescemos em número e a um ritmo impensável. Em finais de 1800 calculava-se que a população na Terra rondasse o milhão de milhões (1 bilião) de seres. Hoje já nos aproximamos dos 8 biliões.
- Aumentamos o nível da designada qualidade de vida de milhões de pessoas e com ela um maior consumo de recursos, com muitos milhões de pessoas a consumir alimentos em excesso e desperdício.
– Fizemos crescer hábitos de consumo, designadamente no vestuário como adornos e distinção onde cada um enche roupeiros com várias peças. Tornamo-nos seres com hábitos de mobilidade e de comunicação permanentes, onde cada um tem, ou aspira a ter, meio próprio de transporte, telemóvel e acesso a meios de informação universais. Equipamos as nossas casas com uma série de equipamentos auxiliares de vida que se tornaram indispensáveis no dia-a-dia.
Bem sei que uma grande percentagem de seres humanos vive no limite da sobrevivência onde a fome e a má nutrição fazem parte do seu quotidiano, infelizmente reproduzindo-se a taxas de crescimento maior que os melhor alimentados.
Foi a Industrialização que tornou possível a massificação do consumo. Criámos um modelo de economia baseado no CRESCIMENTO CONTINUO. Aperfeiçoou-se o modelo com a técnica do “encantamento da sereia” que conhecemos por marketing e que grosseiramente pode ser resumido na seguinte frase: “As pessoas desconhecem as suas necessidades e desejos, compete à boa economia criar-lhas e satisfaze-las”. Mais, sempre mais. Não há país algum que não deseje ver o seu PIB crescer. Não há ser humano racional que não deseje satisfazer as suas necessidades e desejos. Toda a economia (hoje toda ela é capitalista) deseja que aumentem o número de consumidores e quantidade de bens e serviços utilizados.
O Homem transformou-se simultaneamente num elemento de produção e num consumidor, transformando os recursos naturais em riqueza disponível sob a promessa da infinita abundância, esquecendo-se que estava num Planeta com recursos para a sustentabilidade da vida, finitos.
O Planeta deu-nos indicações das consequências deste modelo de vida e a ciência descodificou-nos as alterações climáticas em avisos de perigo. Não querendo acabar com o modelo que permitiu à Humanidade dar o seu maior salto de desenvolvimento, mas com algum receio, passamos a falar de Sustentabilidade. Passamos a apelar à moderação do consumo, à redução dos desperdícios, à dispensa do supérfluo, mas ninguém ousa mudar. Pior, contradizemo-nos todos os dias.
Continuo a ouvir apelos à natalidade, a temer a diminuição da criação da riqueza e do consumo, chamando monstro à recessão económica.
Como resolveremos esta “quadratura do círculo”, com a população a crescer em número e com aumento simultâneo daqueles que conseguem atingir níveis de consumo crescente de bens e serviços, sabendo que, necessariamente iremos aumentar o consumo de recursos do Planeta, que sabemos serem finitos?
Modificando substancialmente o modelo de vida que construímos nos últimos dois séculos.
A nossa memória é curta para aquilo que não nos interessa. Vimos todos a forma como o Planeta reagiu à redução do ritmo de vida na altura que o Homem, por medo, foi obrigado a reduzir a sua atividade devido ao COVID-19: As cidades a recuperarem um ar mais limpo; Animais a regressar a ambientes que haviam abandonado; As pessoas a tomarem consciência da utilidade do tempo e que a vida não é apenas trabalho e consumo. Pareceu-nos ver um Planeta a respirar melhor. Mas!
Vimos também a economia a parar, os aviões e outros meios de transporte sem mobilidade, o frenesim da vida quotidiana a reduzir-se ao silêncio, e tivemos medo. Entramos em desespero para regressar à normalidade da vida acelerada, a do tal crescimento, apesar de altamente prejudicial ao uso equilibrado de recursos. Entre medos, optamos por aquele que menos ameaça o dia de hoje. E o amanhã? Calma. Depois, logo se vê.
Somos naturalmente egoístas, no sentido bom da palavra, querendo o melhor para nós. Nunca ninguém dará passos voluntários em sentido inverso.
Crescer com sustentabilidade. O que será isso?
Somos muitos. Consumimos demais. Queremos continuar assim. Temo que só com momentos catastróficos para a vida de todos, sejam eles naturais (Pandemias, Desastres climáticos), ou provocados (Guerras), nos farão alterar este modelo de crescimento contínuo de tudo para todos. Até lá é reconfortante falarmos em Sustentabilidade, seguindo agendas políticas que agora adotam o termo em qualquer projeto que apresentem.
07 Dezembro 2024
06 Dezembro 2024
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