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Sonho, a quanto obrigas

Maravilhas Humanas

Sonho, a quanto obrigas

Escreve quem sabe

2025-03-11 às 06h00

Analisa Candeias Analisa Candeias

Temos vindo a assistir a um desenrolar de política de mau gosto, a uma série de acontecimentos que, no mínimo, nos deviam deixar despertos para aquilo que poderá ser o futuro. Se este país não é para velhos, particularmente ao nível da saúde e dos apoios socias, começa também a não ser para os novos, que olham para os decisores com algum desdém e até receio. Talvez os mais velhos tenham outros exemplos, talvez consigam olhar para trás e reconhecer mulheres e homens de valor político e que apresentaram tomadas de decisão sensatas – que já não se pede outra coisa, senão alguma sensatez.
Infelizmente, nos dias que correm, os exemplos que se encontram no mundo político deixam muito a desejar, visto que, por um lado, existe uma certa ignorância em relação à necessidade de «servir» na política e, por outro lado, o fomento à instabilidade tem sido uma variável constante nos últimos anos. De facto, tenho dificuldade em entender se é o sonho que comanda a vida dos nossos políticos ou se são as ambições pessoais, desprovidas de sonho, mas que se tornam perigosas no contexto que neste momento atravessamos.
Ainda assim, o que se espera é que a estabilidade se manifeste e que venha para ficar – talvez que seja o sonho de alguém com os pés bem fincados no chão. A realidade política que tem surgido apenas alimenta extremismos e oportunidades promiscuamente conduzidas, sendo um motor para que surjam (mais) personagens perigosos e de sonhos curtos. Tão curtos que se poderão tornar os mesmos para todos, não deixando espaço para as vozes individuais e para a criatividade.
Voltámos às Parcerias Público-Privadas (PPPs) no âmbito da saúde, esses sistemas de gestão que, de tão bem falados, se tornam o sonho, imposto, para tantos profissionais de saúde. Não chegaram os exemplos que se viveram em fases anteriores da introdução das PPPs no nosso Sistema Nacional de Saúde (SNS) – quem sabe se é necessário persistir no erro para que, de forma definitiva, se veja aquilo em que as PPPs se tornam quando impostas ao SNS.
Claro que muitos poderão discordar de mim, como é óbvio, especialmente porque a memória é curta. O desejo de se investir na saúde dos portugueses é tão forte que se irá entregar parte dos nossos serviços à gestão privada – coisa já feita e que não deu um grande resultado no nosso país. Mas vamos, então, para mais uma voltinha com as PPPs e vamos, então, para mais uma viagem, por mais que não seja para ver como vai ser desta vez. Nada como experimentar, embora a corda destas voltinhas rompa sempre para o lado dos mais fracos.
Existe uma certa beleza na utopia da concretização de reuniões relativas às PPPs nesta fase de instabilidade política: por um lado, os nossos políticos em governação bradam aos céus pela necessidade de novas eleições, porém, por outro lado, continuam a decidir e a tentar implementar como se o amanhã estivesse garantido. Esta é a beleza da tal utopia, o manter de uma certa esperança para a preservação dos compadrios e dos cargos dos amigos – tudo em prol da melhor saúde dos nossos cidadãos e do nosso SNS.
Não me entendam mal, sou em larga medida a favor das PPPs. Todavia, considero que estas devem ser estrategicamente planeadas de forma a
i) garantir o bem-estar dos cidadãos,
ii) garantir o bem-estar dos profissionais de saúde e a qualidade das suas competências e
iii) ser uma mais-valia estratégica para o Estado, em particular a nível económico. No entanto, as últimas experiências não funcionaram nesse sentido e, confesso, a atual gestão da saúde portuguesa, a nível de Governo, não tem sido a mais feliz dos últimos anos, o que nos deveria deixar a todos preocupados. Convido, a quem lê este texto, a procurar o plano que o atual Governo tinha para a saúde, a ser implementado em sessenta dias, julgo, e a avaliar a situação atual. Afinal, este sonho não tem comandado vidas, muito pelo contrário, tem sido um sonho muito difícil de concretizar.
Poderia aqui escrever que, se mudássemos de cor a nível do domínio político, também mudaríamos a qualidade da nossa governação. Contudo, o meu sonho não chega a esse nível de abstração e anseio, como todos os portugueses, por resultados concretos e protetores. Senhores governantes, por favor, entendam-se e protejam o país de extremismos: deve ser aí que o foco deve estar, na manutenção de um equilíbrio e na procura do bem-estar de todos os cidadãos. PPPs à parte, todos desejamos que se centrem naquilo que é mais importante, deixando de lado preferências e rivalidades, por forma a garantir a constância de que todos necessitamos. Para bem da nossa saúde – e da vossa.

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