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SNS vai conseguir refundar-se e valorizar-se em 2023?

As emoções no outono

Voz à Saúde

2022-12-31 às 10h18

Humberto Domingues Humberto Domingues

Chegamos a mais um final de ano! Um ano cheio de incertezas, de receios e onde os bébés não podem nascer onde os Pais desejam. O mesmo se coloca para o ano de 2023?
A guerra e as decisões políticas e económicas, arrastadas pela primeira, poderão tornar um ano mais simpático, ou não! Haverá sempre expectativas positivas.
Como Enfermeiro na plenitude da profissão, mas como Cidadão atento, minimamente informado e com gosto pela política, desejava que houvesse grandes e positivas decisões em 2023, em torno do Serviço Nacional de Saúde (SNS): começando por se sentir respeito por parte do poder político em favor dos Cidadãos e dos Profissionais de Saúde, particularmente pelos Enfermeiros. Que seja colocado no centro do sistema o Cidadão doente, como em termos teóricos é pensado, mas que na prática é o que mais dificuldades sente, desse mesmo sistema. Este respeito que seja abrangente no sentido de valorizar as profissões, valorizando as carreiras e as remunerações. Depois que se operasse uma reforma efectiva no SNS, ouvindo os seus profissionais, melhorando serviços, capacidade de resposta e fazendo uma verdadeira reforma, tão necessária, dos Cuidados de Saúde Primários (CSP).
Com a criação da Direcção Executiva do SNS, será esta capaz de refundar o SNS? De valorizar este SNS? Ou será um pouco do que até agora se viu? Será mais uma estrutura para arcar com as responsabilidades e aligeirar as responsabilidades do Ministro da Saúde e do poder político?
Nestes primeiros momentos, com a programação de manter abertas e acessíveis os Serviços de Obstetrícia até final do ano, em alguns hospitais e maternidades, fechando outros, é um pouco, tudo do mesmo. Vamos dar o benefício da dúvida, porque só agora iniciaram funções, mas começou já por retirar recursos, meios e resposta a muitas cidadãs. E os Autarcas não reagem? E o Povo está anestesiado, ao ver os seus filhos nascerem longe das suas terras, e não reagirem? Concretamente aqui, nesta área da Obstetrícia e da Saúde Materna, o SNS tem aproveitado todo o potencial dos Enfermeiros Especialistas, nomeadamente os desta especialidade? Ou tem-nos ignorado? Sim, claramente, tem-nos ignorado e desperdiçado um potencial tremendo de capacidade de trabalho e de resposta, já instalado.
Quanto à tão desejada, urgente e necessária reforma dos CSP, estará esta Direcção Executiva à altura do desafio? Ou vai-se deixar “embrulhar e levar” por lóbis e interesses bem instalados no terreno? É que assistimos a tantos “inteligentes ignorantes” a falar de cátedra, sem nunca terem entrado num Centro de Saúde. E por isso desconhecem que os Centros de Saúde, hoje desmembrados nas suas várias Unidades Funcionais (USF’s, UCSP’s, UCC’s/ECCI’s, etc.) têm o equipamento informático de suporte às consultas e registos clínicos obsoleto e com rede de internet a “carvão”. Se as consultas médicas devem demorar 15, o sistema demora 20 minutos a arrancar. Para se registar uma simples vacina, demora mais tempo a abrir o sistema, do que a preparar o utente, seja criança ou adulto, e a administrar a vacina ou outro injectável, e isto se o sistema não bloquear ou a rede de internet não “fôr abaixo”! Nos domicílios (visitas domiciliárias para tratamentos e controles de tensões, glicemias e consultas) as “viaturas”, salvo honrosas excepções, estão a cair de podres. O recurso são os táxis.
Como se fala no tão desejado alívio das urgências hospitalares, os recursos é o Centro de Saúde respectivo. Sim seria bom se houvesse meios. Mas não há equipamentos nem técnicos para exames mais elementares, sejam simples análises clínicas, ou um simples RX de face e perfil. E o mais importante e que quase ninguém quer admitir, é a falta de Profissionais – Enfermeiros, Médicos, Técnicos Superiores, Assistentes Técnicos e Assistentes Operacionais. A pressão nas salas de espera, sobre os profissionais é imensa! As agressões verbais e físicas acontecem com muita frequência. A insegurança é grande.
Um outro parâmetro que desmotiva os Profissionais, para além das baixas remunerações, é a “avaliação de desempenho” que desagrada e está completamente desajustada. A produtividade perde, devido a todas as condicionantes atrás descritas que limitam o desempenho, com a excelência que todos desejamos e de que o Cidadão carece. As carreiras, as remunerações e as condições de trabalho são desmotivadoras, para além de claramente, não se valorizar o mérito. Tudo isto são factores que desmotivam e desequilibram o SNS em favor do privado e da emigração, que se tem verificado nos últimos anos.
É preciso um verdadeiro e efectivo investimento no SNS, porque Cidadãos e Profissionais sentem todos os dias essa falta. Este investimento, não poderá ser nunca, só deitar dinheiro para cima dos problemas. Tem de haver uma verdadeira reforma de pensamento, de acção, de valorização dos Profissionais e de desmantelamento de estruturas administrativas obsoletas, regionais e nacionais, que gastam muito dinheiro para se manterem e são verdadeiros entraves à valorização, modernização e capacidade de resposta instalada do SNS. Termino perguntando: A Direcção Executiva do SNS, o “novo” Ministro da Saúde, o Governo, o Sr. Presidente da República e o poder político acomodado nas cadeiras do poder ou na Assembleia da República vão ser capazes de refundar e valorizar o nosso SNS? Ou vão tudo fazer, para a não melhoria dos cuidados aos Cidadãos, em favor dos sistemas privados, dos seguros de saúde e do distanciamento desses mesmos cuidados de saúde ao Cidadão pagador de impostos? Apesar de tudo… Os Enfermeiros sempre estarão lá, e nunca deixarão ninguém sozinho!

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