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Sismos e solidariedade

“Portanto, saibamos caminhar e …caminhemos!”

Sismos e solidariedade

Voz aos Escritores

2023-02-17 às 06h00

Fabíola Lopes Fabíola Lopes

Aterra treme. Violenta e natural, como sempre desde os primórdios dos tempos. Abana e sacode tudo o que lhe é alheio, indiferente ao sofrimento que graça.
E no meio da desgraça há milagres que acontecem. Não só o resgate de pessoas com vida depois de doze dias de entulho em cima, como as fronteiras que se abrem, as guerras que se param. Pena não pararem todas.
Neste vislumbre, ainda se conseguem perspetivar as importâncias fundamentais. Perante aquilo que não se pode controlar ou prever, a união que provoca e as ondas de solidariedade que se levantam, não só em bens doados, como em equipas especializadas que voam para poderem ser úteis. A desgraça humanitária na Ucrânia foi acontecendo e continua. Como noutros países. Os governos e os povos continuam a receber, a ajudar e a doar. No caso da Turquia e da Síria foi tudo ao mesmo tempo. Não é possível valer com respostas condignas todos ao mesmo tempo, mas há esforços globais nesse sentido. E é a própria comunidade que irá ter de se reerguer das suas cinzas, como uma Fénix grega.

Internamente também vamos vivendo os nossos sismos, consequências de uma guerra alheia à nossa vontade e outras guerras mais antigas com propósitos do submundo.
O nível da contestação social cresce, face à enorme perda de poder de compra provocada pela inflação, provocada pela guerra. Até aqui penso que todos conseguimos compreender que o governo tem um número limitado de medidas que pode tomar. Por outro lado, há o longo arrastar do menosprezo político por algumas áreas da nossa sociedade: professores, enfermeiros, médicos, polícias, bombeiros. Poderia nomear mais, mas fico-me por estes essenciais a servirem de exemplo.
Além de reivindicarem aumentos salariais, reivindicam a contagem de tempo de trabalho, algo que se pensarmos bem é absurdo. Esse tempo existiu, esse tempo foi trabalhado. E foi taxado dos respetivos impostos. É de uma evidência tal que fere qualquer par de olhos sano.

E constantemente vejo a palavra respeito. Respeito pelo trabalho feito, respeito por quem trabalha. É uma palavra muito ampla que abarca quase tudo de básico e essencial.
Por assim ser, subjectivo, cada um vê o que quer ver. Mas o que me parece latejar é o termos chegado a um ponto sem retorno possível. A indignação, o cansaço, a injustiça de que se tem feito o manto dos dias já nem aquece nem tapa para disfarçar seja o que for.
E a frase que até aqui nos trouxe, não há dinheiro, já não engana ninguém. Com os desvarios quase diários que nos chegam pelos noticiários, mais os milhares investidos em empresas falidas, as contratações duvidosas com demasiados zeros à direita nas entrelinhas somados às gestões danosas pagas a peso de ouro, não há discurso que possa mitigar esta realidade quando a população está sufocada de impostos, directos e indirectos, para ter serviços de luxo que não vê nem sente.

E é isto que o governo se recusa a ver. Que a pressão que se foi acumulando, entre desprezo e desgaste, ao longo de mais de dez anos, chegou a um ponto de rotura, ebulição e explosão. E desta vez a solidariedade e união está à vista, como nunca esteve antes. Já não adianta o dividir para reinar.
Só a actuação do governo nestas negociações pode controlar os danos, porque se tudo ficar como está será a machadada final, por exemplo, na escola pública, cujo objectivo primordial é a escada social, papel que já não está a conseguir fazer tão bem como fez durante décadas.

Sim, o grande mérito da escola pública é potenciar o desenvolvimento científico e humano dos seus alunos, independentemente da sua origem social. Não é um depósito, nem ocupação dos tempos livres. É uma escada social ao serviço do mérito e das capacidades de cada um. É a alavanca para retirar a população da pobreza, física e espiritual.
E quando deixamos de ver isto, estamos numa sociedade de cegos.

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