A responsabilidade de todos
Voz às Escolas
2020-06-25 às 06h00
Com grande esforço das diferentes comunidades educativas, foi implementado ao longo deste período um complexo sistema de ensino à distância, cujos resultados só se poderão avalizar adequadamente no início do próximo ano, com o retorno ao trabalho presencial (esperando-se que assim possa ser).
No fim de um estranho período letivo, passado fisicamente longe uns dos outros, é de parabenizar o esforço impensável para dar corresponder ao inimaginável. Fantásticos professores!
Não deixando responsabilidades por mãos alheias e, mesmo em situação complicada e inesperada, ajustaram as práticas para dar a resposta que os alunos precisavam para continuar a construir o seu conhecimento e a alimentar os seus sonhos.
Não foi fácil pensar, estruturar, concretizar e monitorizar, no espaço de 15 dias, uma totalmente nova abordagem do processo de ensino-aprendizagem, decorrente do contexto da pandemia em que vivemos, tal como aconteceu nas últimas duas semanas do 2º período.
Entretanto, perspetivando-se naquela altura a necessidade de prolongar o encerramento das escolas para além do dia 13 de abril (início do 3º período), ao contrário do inicialmente previsto, o Ministério da Educação emitiu um conjunto de orientações a ter em consideração para a continuidade desta forma de trabalho logo no arranque do 3º período e até data a definir, que se veio a revelar ser, para a maior parte dos atores, o dia 26 de junho.
Pedia-se aos docentes, que na sua grande maioria se encontra acima dos 20 anos de serviço e acima dos 50 anos de idade, que desenvolvessem, de modo estruturado, uma forma totalmente nova de promover o ensino-aprendizagem. Note-se, o ensino e a aprendizagem. Sim, porque não basta ensinar. É preciso que os alunos apreendam.
Numa formação para esta nova forma de “navegação”, também ela realizada à distância, a que muito poucos professores tiveram acesso (6 no máximo por Agrupamento), já com o barco em alto mar, dizia-se que, para a utilização das novas tecnologias, ferramentas indispensáveis na implementação deste novo processo, “é necessário conhecer os softwares, perceber o que se pretende com a sua utilização do ponto de vista pedagógico, e perceber se o recurso é o mais adequado para o efeito […], porque na realidade o simples uso de interfaces digitais não garante, só por si, avanços ou inovações nas práticas educativas”.
De facto, não faltaram orientações a dizer como se deve fazer, tal como não faltavam ferramentas de potencial utilização… tantas que, quem começa, nem sabia por onde lhe havia de pegar!
Mas, ainda que sem formação e/ou orientação especializada, foi possível encontrar rotas seguras e conduzir o barco de forma sustentada, com base em muitas horas de trabalho para além da conta, de prejuízo para outras componentes da vida pessoal e, acima de tudo, com muito trabalho colaborativo.
Parabéns também aos alunos e às suas famílias, que deitaram mãos às amarras que os professores lhes lançaram, restruturam a sua organização familiar, empenharam-se profundamente e conseguiram manter-se em cima do barco. Procurou-se que ninguém naufragasse e penso ter-se conseguido. A título de exemplo, pela monitorização feita no Agrupamento a que pertenço, os resultados finais, serão francamente positivos e, até diria, inesperadamente, de tão positivos.
Justificar-se-á, por um lado, porque a avaliação é global e o resto do ano também tem um peso significativo, por outro, porque também só se pode avaliar o que de facto se ensina (o que se consegue fazer aprender) e aqui é que a “ondulação” levantou mais dificuldades.
Note-se que o acompanhamento do ensino à distância focou-se muito mais nos produtos (trabalhos realizados) e menos no processo e, quando se focou nesse processo, monitorizou mais o cumprimento das tarefas (prazo, número, concretização, …) do que a forma como se desenvolveram ou interiorizaram (muito difícil de verificar no ensino à distância). Assim, valorizando-se mais o produto, cuja responsabilidade pela execução não se consegue aferir devidamente no ensino à distância, e menos as caraterísticas/competências desenvolvidas pelos alunos para o concretizar, alcançaram-se melhores resultados. No entanto, fica desde já uma nota de preocupação, evidenciada particularmente nas aulas síncronas, pois os alunos, quando ali confrontados com os trabalhos apresentados, viram-se com grandes dificuldades em demonstrar a consolidação da aprendizagem. Comentava uma professora do Agrupamento que “A falta de uma aferição e/ou avaliação presencial e mais formal de competências e conhecimentos gera uma falsa noção de sucesso em boa parte dos alunos, que entendem que os eventuais produtos apresentados e realizados com o auxílio de terceiros ou com recurso à internet é não só equivalente, mas melhor do que as aprendizagens realizadas no contexto mais tradicional no meio escolar. A falta de uma supervisão próxima e orientação por parte de um professor torna os contornos da realidade percecionada pelos alunos muito pouco definidos.”
Assim sendo, fica a questão «Serão reais os resultados da avaliação final deste ano letivo?» e a resposta mais avalizada só se conseguirá obter quando, no início do próximo ano, em modo presencial (assim se espera e deseja que possa ser), os professores tiverem oportunidade de melhor verificar quais as aprendizagens efetivamente realizadas e consolidadas e quais as competências desenvolvidas.
14 Março 2024
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