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Braga, sábado

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Será triste fado este?

Cidadania ou o atrevimento da ignorância (2)

Será triste fado este?

Ideias

2025-03-17 às 06h00

Filipe Fontes Filipe Fontes

No momento em que são escritas estas palavras, e não aparentando existir nada de tão fatal quanto central e aglutinador (pese o mundo girar, virar e rebolar, persistindo em várias formas e ameaças de guerra), ainda não se sabe ou se confronta com o resultado da dita “moção de confiança” que o governo da nação submeteu à assembleia da república e, assim, não se sabe se o país irá novamente atravessar período eleitoral legislativo ou se permanecerá no caminho tantas vezes experimentado e repetido, aparentemente sem fim, apenas continuidade… e tal é, de alguma forma, propositado!

Na verdade, a essência de tudo isto não está propriamente no resultado produzido. A sua gravidade e a sua consequência impactarão na nossa vida quotidiana, é certo, mas, no final, purgada a espuma dos dias, fica a atitude, a responsabilidade, a honra, a transparência, a ética! E isso é, verdadeiramente, o que importa e que será capaz de nos impelir a melhorar e a lutar para sermos melhores indivíduos, melhores pessoas, melhor comunidade! Não estão em causa partidos nem opções ideológicas, interesses ou gostos, apenas tentativa de “olhar por fora”, forçando compreender o porquê e o para quê, o onde e o quando, o como e o quem, para exercitar raciocínio crítico o mais imparcial possível e, assim, tentar crescer no pensamento crítico, na revisão de atitude, na partilha e diálogo de posições e opções para amanhã ser outro dia, se possível, melhor do que o dia de hoje. Afinal o futuro é só amanhã, mas começa hoje o seu caminho!

Muito se falou, e continua a falar, de compromissos profissionais, de especialização jurídica, de empresas e avenças, de clientes e remunerações, de contactos e regimes de exclusividade, de perguntas e esclarecimentos, de respostas e explicações. Muito se reclama clarificação na resposta ou excesso na pergunta, omissão no que se divulga, permissão para aceder e saber. Muito se exige assertividade no discurso e respeito na confrontação. Muito se exagera na adjectivação e se impacta na qualificação. Muito se espanta com família feita sócia profissional e casa transformada em sede empresarial. Muito se combate a lógica do aproveitamento da fragilidade ou da possibilidade do exagero para proveito próprio, mesmo que nem sempre adequado e legítimo.
Por princípio, tenho para mim que “as pessoas estão porque genuinamente querem estar” e que a política encerra algo de tão aliciante e bom – fazer bem à comunidade, liderando-a e conduzindo-a –, quanto de predadora e de absorção do ponto de vista pessoal, exigindo uma disponibilidade e uma exposição incomum. E, como tal, independentemente do juízo de valor que se possa fazer “de tudo isto”, esse não é o ponto central que se considera importante abordar, antes perceber o que, na base estrutural “de tudo isto” se revela e está em causa.
E, na verdade, entende-se que se trata de transparência, clareza, bem comum, sinceridade e rigor. Numa palavra, ética!
Perante uma situação geradora de dúvidas, respondeu-se com esclarecimentos parciais que adensaram mais dúvidas. E aqueles esclarecimentos que eram mais do que suficientes e para lá do normal, geraram mais esclarecimentos, uma e outra vez… aparentemente, ainda sem fim!

Em simultâneo, uns reconhecem que os outros – aqueles que estão em causa – não se comportam devidamente. Todavia, mesmo merecendo censura, não são objecto do tratamento correspondente, passando-se “exactamente” igual no campo oposto: isto é, não se censura, mas também não se confia…
Entretanto, pululam notícias e informação, bem como queixas de silêncio; uns reclamam que não são tidos nem achados, outros comentam e vociferam, num contínuo mediático que resulta apenas e só em cansaço e saturação.
Rara é a vez que ouvimos falar em transparência, clareza e sinceridade (não tergiversando ou lateralizando, alimentando errância, duplicando interpretações, para deixar caminhos de fuga abertos, para não se comprometerem ou contradizerem…); em concertação, partilha e diálogo na prossecução do bem comum e não no interesse circunstancial e individual.

O que impressiona é entender-se a comunicação como unidirecional e não relacional, ou seja, não importa se entenderam, se foi relevante o que disse; o que se destaca é a assunção da palavra de forma isolada, quase como uma ilha, retirando-a de todo o contexto e enquadramento, (quase) valendo exclusivamente em abstracto e não em concreto! O que surpreende é interpretarem â letra, e de forma literal, a lei, esquecendo-se do seu espírito e bondade, cuidando da sua boa interpretação e aplicação; o que visibiliza é a rejeição da consequência, preferindo-se chamar ruído ou deturpação.
No fim, parece tudo “kafkiano” … todos falam, todos ralham, ninguém se entende e… é sempre a descer, ficando a sensação de que nada se aprendeu ou apreendeu. Apenas se registou, num compasso de espera até a repetição… será triste fado este?

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