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Escreve quem sabe
2025-04-18 às 06h00
Não é só no que se refere meramente às capacidades materiais que a vida no meio do mato faz um homem ser um homem, mas sobretudo ao seu desenvolvimento espiritual – quando ele se apercebe de que não passa de uma pequena partícula em comunhão diária com a Natureza, cara a cara com ela e pulsando no seu coração. Quando à noite nos sentamos em redor da fogueira do acampamento, longe de tudo, sós na escuridão da floresta, somos levados a cismar, a meditar profundamente. Quando o fumo doce da madeira a arder nos pica nas narinas, quando o veludo purpúreo dos céus, cravejado de joias cintilantes, vela serenamente sobre as nossas cabeças – e o silêncio mais profundo reina em redor, quebrado apenas de longe a longe pelo espadanar súbito da truta que salta ou pelo estranho apelo do mergulhão; só então e aí é que o espírito é capaz de se abrir e de receber pensamentos grandiosos e impulsos elevados.»1
Como é reconfortante ver que tantos dirigentes, mulheres e homens, dão parte do seu tempo, e das suas vidas, dedicando-se à nobre tarefa de educadores no Escutismo Católico Português. Confesso que não consigo imaginar o número de adultos que, desde a fundação em 23 de maio de 1927 até aos dias de hoje, fizeram militância neste movimento, ajudando crianças e jovens, a tornarem-se pessoas com o sentido da ajuda ao próximo, vendo nele os “seus irmãos”, tendo uma preocupação permanente de cuidar da “Terra”, com a convicção de que esta nos foi legada pelos nossos antepassados, não como uma herança, mas como “a casa comum” que havemos de entregar aos nossos filhos, com o sentimento que é algo de todos e para o bem de todos.
Gostava de recordar a ideia subjacente à condição de qualquer dirigente deste movimento de educação não formal - o “Sentido do Serviço” - servir sem esperar outra recompensa senão saber que, todos os dias contribuímos, para que crianças e jovens possam crescer e desenvolver-se de forma harmoniosa, despertando para os valores socias, profissionais e religiosos que, paulatinamente, vão incorporando nas suas vivências quotidianas.
Esta “escola de vida ao ar livre” carece de uma especial atenção por parte dos poderes políticos, sobretudo no que diz respeito, “à vida em campo”, para o escutismo é fundamental esta cooperação entre as associações escutistas e guidistas para que, possamos usufruir da beleza do Campo e que este possa beneficiar da nossa ação, esta harmonia procurada pode reconhecer-se no “Cântico das Criaturas ou do Irmão Sol” de São Francisco de Assis. Caminhamos por trilhos de grande complexidade legal e regulamentar, correndo o risco de impedir a dicotomia Homem – Natureza, para mantermos esta relação estéril e sem vida, não havendo, diria mesmo, não permitido uma correlação dicotómica saudável e atente entre o “jardim” e a “cidade”, ou como diria Eça de Queirós entre a “cidade” e as “serras”.
As nossas autoridades têm que estimular que haja uma oportunidade de relação e reajustamento permanente entre ambas. O equilíbrio é fundamental e imprescindível para que a Natureza possa prosseguir o seu percurso permanente e intemporal de evolução e que o Homem possa contribuir para o desenvolvimento dos diversos ecossistemas sem que tenha que haver “mártires” de um pseudodesenvolvimento infelizmente travestido. Nestes tempos, em que a Igreja a todos, crentes e não crentes, desafia a sermos Peregrinos de Esperança, não imitemos Pilatos, lavando as suas mãos, para proclamar a sua inocência relativamente à condenação do Homem e, neste contexto, também da “Mãe Terra”.
Para o escuteiro, no dizer do fundador: “A floresta é, simultaneamente, um laboratório, um clube e um templo”. Um laboratório porque é o local onde se aprende pela observação e pelas experiências vividas, um clube porque é um espaço de partilha de ideias, de visões e de assunção de responsabilidades individuais e coletivas, finalmente um templo porque é o lugar onde se descobre a obra de Deus e se estabelece uma relação de vida com o Criador.
Na sua última mensagem2 Baden-Powell deixou-nos este conselho: «O estudo da Natureza mostrar-vos-á as coisas belas e maravilhosas de que Deus encheu o mundo para vosso deleite. Contentai-vos com o que tendes e tirai dele o maior proveito que puderdes. Vede sempre o lado melhor das coisas e não o pior.»
P.S.: Aos leitores e aos colaboradores do Correio do Minho, votos de uma Santa Páscoa.
1Baden-Powell, HQG Headquarters Gazette, (Gazeta dos Serviços Centrais) agosto, 1915.
2In, Baden-Powell, Escutismo para Rapazes, Edições Flor de Lis, Primeira Edição,1954, pp. 303.
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