A responsabilidade de todos
Voz à Saúde
2019-10-01 às 06h00
Desde 1990 que a Medicina Geral e Familiar é reconhecida, oficialmente, como uma especialidade médica em Portugal. Não raras são as vezes em que é olhada como a “não especialidade”, a clínica geral, aquela que sobrou quando o médico foi escolher o que iria fazer para o resto da sua vida, aquela que só serve para quem não tem estofo para abraçar a azáfama do serviço de urgência ou da necessidade de passar a noite em claro no exercício da sua profissão. É esquecido o facto de ser a Medicina Geral e Familiar a especialidade que nunca larga ou dá alta a um dos seus utentes, que vai à sua casa quando a chama, que o vê a si, ao seu par, pais e filhos quando todos precisam, nem que seja de “um olhinho nas análises”. É a Medicina Geral e Familiar que o vê como um todo, que reconhece que, por vezes, os meios de que dispõe não chegam e é necessária a colaboração de outras valências.
O Médico de Família não é um sorteador de “P1s” que, ora envia para o hospital, ora recusa fazê-lo porque “talvez desse muito trabalho”. É aquele que tenta antes fazer tudo o que está ao seu alcance e, posteriormente, de forma criteriosa e para a qual existem regras pré-estabelecidas, pondera a pertinência dessa referenciação.
O Médico de Família é aquele que, muitas vezes, lhe vai recusar renovar o pedido de receituário porque acredita que cada utente merece uma reavaliação e que, ao longo do tempo, aquilo que cada um de nós precisa varia no espaço de meses, dias, horas ou segundos. O Médico de Família vai, ainda mais vezes, dizer que não passa uma credencial para os seus utentes fazerem análises ou os exames ditos “de rotina”, porque ele vai saber avaliar quando realmente eles vão precisar dessa avaliação, seja pela sua condição clínica, seja por se encontrarem em idades-chave, nas quais há pertinência na realização de tais exames. O Médico de Família vai, mais vezes ainda, ficar “zangado” porque o seu utente não emagreceu, não deixou de pôr sal na sua comida, não começou a praticar exercício físico, não deixou de fumar nem reduziu aquele 1 ou 2 cigarros que pareciam tão fáceis de largar. Mas, vai fazê-lo porque sabe da importância de tais atitudes e do ganho que trará em qualidade de vida, mesmo que ele próprio não o faça.
O Médico de Medicina Geral e Familiar vai ficar além do seu horário para planear a melhor forma de o atender, para refletir sobre todos os utentes que atendeu, para preencher todos os papéis e relatórios que lhe foram pedidos e vai fazê-lo mesmo que para isso tenha de abdicar de estar em casa com a sua família, de praticar desporto, de comer uma das suas 5 (com alguma sorte) refeições por dia. Porque sim, o Médico de Família também tem uma vida em paralelo com as quase 2.000 que acompanha. E desengane-se quem acha que o médico ainda ganha o euromilhões por isso.
O Médico de Medicina Geral e Familiar não é melhor que qualquer outro colega de outra especialidade, não é melhor que qualquer outro utente com uma outra qualquer profissão, é, apenas, aquilo que escolheu ser e que tem a obrigação de se esforçar diariamente para o fazer com distinção.
Se me perguntarem o que é, para mim, a Medicina Geral e Familiar eu vou dizer que é uma forma de viver, que eu escolhi e voltaria a fazê-lo de olhos bem fechados. Que me traz a maior instabilidade de não saber onde e com quem vou estar a trabalhar amanhã, mas que também me dá a certeza que vou estar realizada profissionalmente, a trabalhar de e com o coração.
12 Março 2024
05 Março 2024
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