Correio do Minho

Braga, sábado

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Sacerdotes cívicos

Analogias outonais

Ideias

2010-11-25 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

Há dias, de certo pretendendo ter humor e enfileirar nos Quintelas e Ricardos dos Gato Fedorento nas suas minorcas e ridículas facetas de ex-cronistas de A Bola ou de caricatos figurantes de anúncios da Meo, um certo deputado da nossa praça dizia-se ser um “sacerdote cívico”. Mas se pretendia ter humor, note-se, ficou-se pela triste realidade de um inultrapassável humor negro face à realista conjugação e conexão da vida actual com as signicativas expressão e extensão linguística do termo “sacerdote”.

Na verdade segundo os melhores dicionários o “sacerdote” na antiguidade era o sacrificador, aquele que detinha o poder de fazer sacrifícios aos deuses e efectuava as usuais e cruentas imolações e oferendas às divindades, pelo que não lhe era descartável a degola de animais e outros seres vivos para assim aplacar as suas iras e obter benesses, protecção e vantagens. E a realidade é que de há uns anos a esta parte tem vindo a engrossar o número de “druidas” na muito travestida, interesseira, vergonhosa e empolada classe dos políticos, com muitos deles a apresentarem-se ironicamente, mas com “maldosa” verdade, como “sacerdotes cívicos”, qualificação esta em que tal deputado se enquadrou e de que será incontornável exemplo.

Aliás numa insofismável generalização em que as excepções, se é que as há, apenas confirmam a regra, os apodados representantes do povo, na verdade, têm vindo a comportar-se e a perfilar-se como uns verdadeiros “sacrificadores” ou “imoladores” do povo português. Incluindo Sócrates, o “sumo sacerdote cívico” e “druida-mor” da actual “confraria política” e das “capelanias do poder”!...

Com efeito, se atentarmos nos muitos “sacerdotes cívicos” que vagueiam errantes pelo parlamento e outros lugares da governação, tem-se forçosamente de concluir que na realidade, e com toda a verdade, vêm todos eles “encarnando” a figura e desempenhando o “papel” dos sacerdotes da antiguidade nas oferendas de vítimas às divindades, sejam elas a Ganância, o Dinheiro, as Honrarias e o Poder nas actuais configuração e imagem dos Baals, Thors, Odins, Zeus e outros deuses da antiguidade, continuadamente imolando os portugueses em sacrifícios bem cruentos, tanto e tal é o “sangue” que vem jorrando dos “golpes” de mentira, desonestidade, pouca vergonha, compadrio, arrogância e sofreguidão pelo dinheiro e poder que ao longo do tempo vêm desfechando sobre vítimas indefesas. Elaborando leis, ditando despachos e tomando medidas cruéis de que apenas ficam a salvo os ditos “sacerdotes cívicos” na projecção vaidosa de seus umbigos, de todo alheados das vítimas e sempre em vivências e ânsias de riqueza, fama e poder.

Aliás nos altares da corrupção, do compadrio, do nepotismo e de partido sucedem-se os “sacrifícios” e as “imolações” no mundo concreto, egoísta e mentiroso desse “sacerdócio cívico” em que as vítimas são os próprios cidadãos, os “crentes”, que, atidos à boa fé, honestidade, seriedade e palavra dos políticos, ainda continuam a votar.

Um “sacerdócio cívico” de mentira, burla, falsidade e compromisso, diga-se, onde não escasseiam “sacerdotes” dotados de engenharia bastante para ter como seus “acólitos” os compadres, amigos, antigos sócios e sinalizados pelo partido, juntando-os a todos no “altar” do poder, e depois “lavando as mãos” em sinal de pureza e inocência.

Mas tão tristes projecções de “mística” e “sacerdócio” políticos, refira-se, de modo nenhum anulam a inultrapassável realidade de que os culpados de tais “sacrifícios” e “imolações” aos “deuses” do poder somos todos nós. Habituados a posições de cócoras perante tais “sacerdotes cívicos”, e ainda mimoseando-os com “oferendas “ de votos, rápida e facilmente nos esquecemos que tais “druidas” não passam de uns meros fantoches interesseiros, mentirosos, egoístas, parlapatões e burlões, tão só preocupados com os “arranjos de flores” no “altar” do poder, onde as “orações” primam pelas ganância, arrogância, prepotência, nepotismo e mentira.

Aliás, continuando a debruçarmo-nos sobre o ”sacerdócio cívico” de que o outro se arrogava, de modo nenhum nos supreendem as nomeações de ex-sócios para os CTT feitas pelo Paulo Campos, o filho do ainda não esquecido António, cujas poses de cosmética seriedade vêm sobressaindo nas pantalhas televisivas.

Antigos sócios da sociedade produtora de espectáculos “Puro Prazer”, entretanto dissolvida, não só é natural que comunguem do “sacerdócio cívico” do Campos como ainda o é que o “acolitem” agora na nova sociedade do “Puro Poder”. E se as qualidades de tais “acólitos” serão óbvias (!?), dizem, mais óbvio é o “chico-espertismo” do “sacerdote cívico” Campos em tais nomeações, ao concretizar as linhas mestras das “religiões” partidárias, usuais nas benesses e lugares aos amigos e confrades quando no poder, cumprindo promessas ou pagando favores. Mas o mais curioso ainda é que já um seu assessor transitara do seu gabinete para o lugar de único administrador executivo da empresa pública que geria o sistema das portagens nas auto-estradas, tendo depois passado para a empresa fornecedora dos mecanismos de pagamento nas Scuts. Tudo claro como a água e na maior das canduras.... num fartar vilanagem!...

Aliás nisto de “sacerdócios” interesseiros, políticos ou outros, tais “virtudes”(!?) nem são caso virgem. Segundo os jornais o “pastor Leonel Ferreira, da Igreja Kharisma e da obra de caridade «Samaritanos»” estará a responder por crimes graves no tribunal de Gaia, designadamente por “posse de substâncias explosivas, peculato e participação económica em negócio”, sendo que no exercício do seu “sacerdócio” nos altares da ganância e do dinheiro fez também vítimas e “imolações”. Como vem acontecendo em muitos outros casos públicos e múltiplas situações de vida geradas pelo “sacerdócio cívico-político” em que vivemos, ainda que não se nos esmoreça a esperança de que muitos dos que hoje se arrogam “sacerdotes” ou “irmãos” em tais “capelanias” e “confrarias” desapareçam e recolham a casa. E quanto antes, até porque não se deseja que sofram com as medidas de austeridade e se queixem como o tão falado deputado, neste ponto acompanhando-se o Prof. Marcelo: que vá para casa já que pelos resultados e obra feita a sua falta nem sequer será notada.

A reclamar também uma séria reflexão sobre o “sacerdócio” vergonhoso e arrepiante do mundo da política é o que foi recentemante aprovado quanto a subsídios aos partidos. Com o beneplácito de auto-proclamados “sacerdotes cívicos” continua-se a “sacrificar” a verdade, a seriedade e a justiça, abrindo-se as portas às trafulhices, mentiras e fugas a controlo e imolando-se a decência.

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