Uma primeira vez... no andebol feminino
Ideias
2023-01-14 às 06h00
Há seguramente dois meses que chove copiosamente em Portugal. Só em novembro a precipitação total foi de 138.7 mm, o que corresponde a 127% do valor normal. Neste penúltimo mês de 2022, ocorreu precipitação na maior parte dos dias – que foi, por vezes, forte e persistente na região Norte e Centro, em especial nos dias 3, 8 e 24.
Nalguns locais do Norte e Centro, o total mensal ultrapassou os 300 mm. Desde que começou a chover intensamente, registaram-se diversos episódios de cheias, primeiro em Lisboa e depois no Porto. Choveu muito. Choveu imenso. Choveu bastante. Valores da quantidade de precipitação superiores aos deste mês ocorreram em 30% dos anos, desde 1931!
Neste particular, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) tem estado a gerir as bacias hidrográficas, através de descargas nas barragens. Um trabalho invisível na gestão das cheias, mas tão importante para proteger pessoas e bens, regulando a água que escorre nos rios de umas barragens para outras, de forma a ganhar mais encaixe e evitar (mais) inundações fluviais e urbanas.
A gestão da água, na paisagem em geral e no espaço urbano em particular, revela-se fundamental, uma vez que a disponibilidade de recursos hídricos é muito variável ao longo do ano, sendo geralmente mais reduzida no verão, obrigando à necessidade de recorrer à irrigação.
Está na hora, pois, de se começar a pensar, verdadeiramente, em modelos de retenção da água das chuvas que ocorrem no inverno, com o objetivo de criar reservas de água para o verão. Dos governos, a população já não ambiciona mais autoestradas, mais betão, mais equipamentos multiusos e polivalentes. As pessoas querem ver os seus problemas resolvidos.
E as cheias têm sido, na verdade, um problema efetivo, com tendência a repetir-se com mais assiduidade, daí a importância de se pensar onde é que essa reserva de água faz falta em períodos de maior seca. Especialistas na matéria defendem que quanto mais água entrar no solo, melhor! Até porque estaremos a aproveitar o ciclo da água...
Uma vez que a maioria dos espaços que integram as cidades são excessivamente impermeabilizados, a infiltração de água no solo em espaço urbano é reduzida, o que aumenta o escoamento superficial. Logo, isto tem consequências na vivência e no ordenamento das cidades…
Por um lado, no período de carência de água no solo, durante o verão, aumenta o desconforto urbano, devido ao ambiente seco e quente que se gera; por outro lado, durante a época das chuvas, a intensidade da precipitação em curtos períodos de tempo, associada ao maior escoamento superficial gerado pela impermeabilização do solo, aumenta o risco de cheias urbanas.
A vegetação presente nos espaços abertos da cidade é, pois, um elemento regulador do ciclo hidrológico, na medida em que intercepta uma percentagem da água da chuva, reduzindo a velocidade e a quantidade de água que atinge o solo. Desta forma, parte da água infiltra-se, outra parte evapora-se e só quando os solos atingem o ponto de saturação é que se processa o escorrimento da água para as zonas de menor altitude e para os sistemas urbanos de drenagem de águas pluviais.
Nos espaços abertos da cidade que são atravessados por linhas de água, há a possibilidade de contribuir para esta regulação, através da construção de pequenas bacias de retenção. Trata-se de uma solução já adotada por Guimarães em 2015, que permite diminuir a velocidade de escoamento da linha de água e, ao mesmo tempo, aumentar a biodiversidade em espaço urbano, uma vez que as bacias formadas permitem a concentração da fauna e o desenvolvimento de outras espécies da flora.
Estes sistemas, ainda que construídos com um objetivo diferente, são muito semelhantes aos açudes, introduzidos pelos muçulmanos na Península Ibérica, com o objetivo de dominar a água dos rios para abastecimento ou para irrigação de hortas, pomares e jardins.
Desta forma, a presença e a retenção da água na cidade promove a sua reintegração no ciclo hidrológico. Por essa razão, o planeamento urbano deve incluir a existência de sistemas eficientes de gestão da água, através da sua retenção, da redução do seu consumo e da sua reciclagem.
A operacionalização destes princípios só é possível se, nos espaços abertos urbanos, forem concebidos espaços verdes eficazes que promovam a sua retenção. Sabe-se que a existência de um maior número de áreas permeáveis favorece a infiltração. E sabe-se que a densificação das áreas plantadas aumenta a interceção da água da chuva, retendo a água por mais tempo no espaço urbano.
Tendo em conta que os meses de verão são, por norma, quentes e secos, verificando-se uma escassez de água que, por vezes, põe em causa o próprio abastecimento para consumo humano e para rega de áreas plantadas, poderão ser encontradas soluções que minimizem os efeitos do clima e garantam o abastecimento de água.
Como complemento, fala-se em concreto da construção de cisternas, tanques, reservatórios e outras estruturas de armazenamento. O objetivo final será sempre assumir um papel preponderante neste processo de reciclagem da água em espaço urbano e na sua reintegração no ciclo hidrológico.
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