Ettore Scola e a ferrovia portuguesa
Escreve quem sabe
2019-02-04 às 06h00
Os temas «ecologia» e «consciência ecológica», porventura em resultado de maior atenção social e de investigação escolar, estão hoje no topo das problemáticas que mais preocupam o cidadão comum. É já normal, na sociedade portuguesa, separar e reciclar materiais, filtrar e guardar óleos usados, contactar autoridades para recolha de «monstros», ações que acontecem em crescendo, acompanhando decisões de entidades, privadas ou públicas, para a manutenção e limpeza do ambiente natural. Na cidade de Braga, por exemplo, acelera-se a colocação de ecopontos em todas as zonas da cidade, o que fará desaparecer, presume-se, os sacos de lixo visíveis e perturbadores. Decisões deste tipo supõem avaliações de impacto ambiental e social e põem em relevo compromissos de sociedades e empresas em prol das comunidades.
Poucos de nós, porém, pensamos ? e, consequentemente, nos preocupamos ?, em todos os processos das cadeias produtivas, desde o amanho simples da terra ao cultivo, à produção intensiva, ao transporte, à venda do produto e ao consumo final, às consequências de cada ação e do uso de componentes. De acordo com estatísticas recentes, o valor da produção agrícola em Portugal sobe acima da média europeia, o que releva a importância de certos produtos para a economia nacional. Do pastel de nata aos enchidos e conservas; dos azulejos aos queijos da serra da Estrela ou das ilhas dos Açores; dos extraordinários vinhos do Douro, Dão, Alentejo, verdes, alvarinhos ou rosés, ao azeite, do mais puro que é possível produzir, produto em que somos dos maiores produtores mundiais (ultrapassámos as 125 mil toneladas anuais); da cortiça, produto em que batemos recordes (produzimos 50% da cortiça mundial em aplicações de vestuário, calçado, revestimento térmico e acessórios gerais), à energia solar, produto em que, por causa da excelência do nosso sol, somos dos mais competitivos do mundo, tudo prova que o nosso país tem condições para evoluir nos aspetos económicos.
O impacto decorrente de todo o processo produtivo tem, logicamente, implicações em toda a cadeia, que culminam na comercialização dos produtos e na forma como cada empresa e cada consumidor trata o produto e o que resta dele. Paralelamente, cada vez produzimos mais lixo e, em algumas regiões, somos refratários à divisão seletiva dos materiais. Pense-se, por exemplo, nos gastos de água e de eletricidade, no uso de pesticidas, inseticidas e fertilizantes, contaminação de solos, emissão de poluentes, infestação por resíduos sólidos, e outros fatores não despiciendos no desequilíbrio ecológico. Informações sobre desastres com petroleiros no alto mar são perturbadoras e mostram a necessidade de uma inversão completa dos comportamentos.
Relativamente às relações imediatas entre o retalho e o seu impacto ambiental, podem ser analisadas sob perspetivas diferentes, embora interligadas. Em primeiro lugar, releve-se a importância da localização das grandes superfícies comerciais. Ultrapassada uma primeira fase de implantação nos centros das cidades, tende-se agora a remetê-las para a periferia. Nos dois casos, são chocantes problemas de trânsito, de estacionamento, de poluição atmosférica, com consequente perda de qualidade de vida dos residentes. Construções em zonas centrais e críticas das cidades, ao arrepio de planos diretores municipais, são fortemente contestadas e penalizadas politicamente. Em segundo lugar, evidencie-se a forma como as grandes superfícies comerciais resolvem os problemas dos produtos fora de prazo ou em degradação, caso evidente das frutas e dos legumes. Oferecer tais produtos a instituições que farão seu reaproveitamento é solução viável e já praticada, mas tal facto não anula um fortíssimo desperdício que impactará zonas ambientais que são vitais para o consumidor-morador. Saliente-se, por fim, o impacto no ambiente económico e social, refletido no tipo de trabalho executado, mal pago, quase mecânico e em série, penalizador para uma classe de trabalhadores que, pela natureza das coisas, tem pouco poder reivindicativo.
Não obstante tudo isto, e de acordo com o Observador-Cetelem, assiste-se progressivamente a um ganho de consciência ecológica, e os portugueses estão, a este propósito, na linha da frente. Temas como a origem, a qualidade, composição (produto biológico) e impacto dos produtos estão cada vez mais presentes, e as próprias empresas se preocupam cada vez mais na oferta de produtos biológicos, para além da instalação de novas tecnologias, tendo em vista uma maior sustentabilidade ambiental. O futuro do retalho depende, e muito, desta consciencialização.
*com JMS
10 Outubro 2024
08 Outubro 2024
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