Ettore Scola e a ferrovia portuguesa
Escreve quem sabe
2022-11-07 às 06h00
Desde a rotunda do Comendador Santos da Cunha até às zonas de Real, Dume e Semelhe, as vias de acesso alternativas não abundam. Se sigo por Maximinos, tipicamente esbarro numa parede intransponível, até chegar ao momento da almejada descida para Real. Se decidir pela N103 e retornar à A3 até ao aproximado cruzamento com a Sé de Braga, tenho duas opções. Por um lado, a saída pela estrada de São Martinho, anexa ao estádio no nosso clube, ou então a Rua da Feira (Parretas). Tenho ainda a possibilidade de apostar noutra via e atravessar a espinha dorsal da cidade, através da N101, cruzando os dedos para que a rotunda do Braga Parque e a posterior rotunda do Nó de Infias estejam desimpedidas. Hoje decidi apostar na Rua da Feira. Para meu infortúnio, ou porventura aselhice, acredito ter demorado aproximadamente uma hora no trânsito, num trajeto que devia levar pouco mais de dez minutos.
As dificuldades relacionadas com o tráfego na nossa cidade de Braga são constantes. Refletem-se, acima de tudo, nas horas de ponta ou em dias de chuvaradas fortes e repentinas. Hoje fiquei imobilizado no trânsito, num sucessivo para e arranque. Por coincidência, ou talvez obra do destino, mirei pelo vidro embaciado. Dei de caras com um slogan acoplado a uma cerca de tela metálica que protegia uma nova construção. Este slogan destacava o retalhista Mercadona e anunciava “Estamos a chegar!”. Depreendi que o resultado daquele destaque seria o nascimento de mais uma nova loja daquela organização, mesmo em frente à loja do Mini Preço. Pensei já ter visto algo semelhante à chegada do complicado nó de Infias, quando miraculosamente nasceu um Burger King e um Lidl, bem no coração de uma zona altamente populacional e de caótico trânsito.
Há tempos, pensei na relação entre Geografia e retalho. Recordo ter lido o livro “Retail Geography” de Shuguang Wang que aborda as diferentes estratégias de expansão de uma organização retalhista, espacial e não espacial. Tal como Shuguang, sempre acreditei que o sucesso de qualquer organização retalhista dependia de dois fatores essenciais. Em primeiro lugar, a forma como a organização é gerida. Em segundo, a forma como é decidida a localização das suas lojas e centros de distribuição. Se uma loja abrir num sítio menos apropriado, com uma reduzida base de possíveis consumidores, a mesma poderá não gerar as esperadas vendas. Similarmente, se a loja estiver bem localizada, mas for deficitariamente gerida, a mesma não irá gerar vendas por ineficiência dos seus processos. Dada a componente “gestão” considerar aspetos não espaciais, acima de tudo relacionados com os seus processos de planeamento, compras, operações, logística, transporte, preço, entre outros tantos, a componente geográfica foca-se mais em aspetos espaciais, físicos, políticos e socioeconómicos.
A análise das projeções populacionais e a localização dos seus competidores, por exemplo, realizadas por profissionais da geografia e por sistemas de informação geográfica (SIG), poderão auxiliar na adequada seleção destas localizações.
Vai nascer mais uma loja? É bem-vinda. Para a cidade trará, com certeza, mais postos de trabalho. Diversificará, naturalmente, o leque de opções de compra dos milhares de novos moradores que ainda se aguardam naquela zona. Permitirá, porventura, que o velhinho Mini Preço implemente uma necessária renovação. Quem imaginaria? Tristemente, e depois de ter escutado estridentes buzinadelas durante uma frustrante viagem, meto a primeira e avanço mais uns metros. Suspiro e abano a cabeça: mas que grande trapalhada esta zona se está a tornar!
*com JMS
10 Outubro 2024
08 Outubro 2024
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