Correio do Minho

Braga, terça-feira

- +

Resquícios e um punhado de esperanças

Área metropolitana do Minho

Resquícios e um punhado de esperanças

Voz aos Escritores

2025-01-24 às 06h00

Fabíola Lopes Fabíola Lopes

A Palavra do Ano é sujeita a eleição, um voto digital feito no conforto da casa ou na ponta dos dedos que toca num qualquer ecrã portátil a caminho do trabalho ou do destino que aprouver a cada um. Ou que lhe calhar em sorte, que isto às vezes tem pouco de consciente.
De qualquer forma, há uns anos que faço esse gesto e fico depois a aguardar o resultado, para medir a minha distância do pensamento da maioria, que é como quem diz, para que norte ou para que sul bate o meu coração em disforia ou falta de consciência.
Este ano foi eleita a palavra liberdade. Ainda cheguei a escrever ganhou, mas imediatamente retirei essa hipótese, porque era estúpida, uma palavra não ganha nada, a não ser os sentidos e usos que acrescentarmos e nem nós ganhamos juízo, quanto mais.
Vamos lá ao que interessa, foi eleita a palavra liberdade. Provavelmente pelo tanto que a amamos, que nem sempre é sinónimo da estima que lhe dedicamos no dia-a-dia, tantas vezes estraçalhada ou atropelada pelos umbiguismos e individualidades exacerbadas. Ou porque celebrámos os 50 anos do 25 de abril. São hipóteses que coloco em banho-maria, lume bem brando, para não desatar a bradar aos céus toda uma indignidade bem temperada.
O meu voto foi para a palavra conflitos. Guerra tinha sido eleita em 2022, pelo que no ano transato nem era candidata. Pensei obviamente na guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Mas pensei também em Moçambique e na Venezuela. Pensei depois em tantos outros conflitos que privam muito a liberdade dos povos ou que surgem pela falta dela. E a facilidade com que se escala uma discussão, uma desavença, um desaguisado de perspetivas, um achar-se superior ao outro ou com mais direitos. A facilidade com que se compromete a dignidade do outro é tremenda, do macro ao micro.
E fico a pensar qual será a palavra deste ano, fresquinho e franzino ainda. Após uma conversa com a minha amiga e colega Bárbara vou guardar a palavra ciberataque, em saco de plástico para ficar bem asfixiada, lá guardada no fundo de uma gaveta para ver se ninguém se lembra dela.
Em saco de linho com um raminho de lavanda pendurado, logo à entrada de casa, vou colocar a palavra paz. A ver se os ares que o trespassam voam para longe, inspirar quem governa as nações e os povos que os elegem e apoiam é cada vez mais urgente, como respirar fundo, respirar limpo, respirar o outro como eu.
Se calhar é melhor adicionar a palavra humildade também.

Deixa o teu comentário

Últimas Voz aos Escritores

Usamos cookies para melhorar a experiência de navegação no nosso website. Ao continuar está a aceitar a política de cookies.

Registe-se ou faça login Seta perfil

Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.




A 1ª página é sua personalize-a Seta menu

Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.

Continuará a ver as manchetes com maior destaque.

Bem-vindo ao Correio do Minho
Permita anúncios no nosso website

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios.
Utilizamos a publicidade para ajudar a financiar o nosso website.

Permitir anúncios na Antena Minho