Correio do Minho

Braga, quinta-feira

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Responsabilidade recíproca

Ettore Scola e a ferrovia portuguesa

Voz às Escolas

2017-04-03 às 06h00

João Andrade João Andrade

A sociedade é composta de assimetrias, que se agravam fortemente quando as crises financeiras, derivadas da gula acumulativa, emergem. Apesar disso, em vez de se procurarem constituir como uma oportunidade de correção dessas assimetrias, intentam resolver-se recorrendo ao agravar dessas assimetrias e retraindo a intervenção do estado providência.
Isto origina situações de extrema carência súbita, que só o sentido de responsabilidade recíproca, entre aqueles que se veem todos os dias nos olhos, consegue detetar e mitigar.

No espaço escola deparamo-nos, diariamente, com situações críticas de carência, algumas difíceis de detetar, quer devido a assunção por alguns de uma “normalidade da carência”, quer, também, à existência de uma pobreza envergonhada de outros que, subitamente, se veem desprovidos totalmente das suas fontes de sustento. Só colegas ou professores atentos, que se preocupam e insistem, permitem perceber que um aluno ou aluna, que vem para a escola com boas roupas (porque, até há bem pouco, as podia comprar) deixou, subitamente, de ter rendimento escolar porque já não consegue estudar no apartamento onde reside, porque a luz do mesmo foi cortada… Ou que uma colega desmaia a meio da manhã, porque está sistematicamente subalimentada, mas tem vergonha de pedir ajuda… Inúmeras que são estas situações…

A escola torna-se, assim, um espaço de premência, não só de construção, mas de expressão da dimensão solidária do ser. É intentando tal, que, no Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio, integramos, como princípios e valores orientadores do Projeto educativo, a responsabilidade, o humanismo e a equidade e definimos, nos seus objetivos, o aumentar da consciência da centralidade da condição humana, do respeito pela diferença e da responsabilidade perante o próprio e o outro.

Muitas vezes, quando a margem de intervenção, quer a formal, quer a informal, da escola se esgota, não tem alcance ou não consegue ser imediata na resposta, socorremo-nos, ainda, de entidades externas, tais como as Conferências Vicentinas, mais concretamente através da Conferência Vicentina de Nogueira que, trabalhando em rede com as paróquias do território e com outras instituições de solidariedade social, tais como a Cáritas, a Cruz Vermelha, ou mesmo a Segurança Social, consegue intervir de forma humanizada, contínua e integrada nas necessidades das famílias carenciadas, respeitando e procurando fomentar a sua autonomia e autossustentabilidade.

Internamente, o projeto de solidariedade do agrupamento traduz-se, ainda, em dois momentos de grande impacto: a Campanha de Solidariedade em dezembro e a Mesa da Partilha (que ocorre no último dia de aulas do 2.º período, na Escola Básica de Nogueira, este ano no dia 4 de abril, sob o tema “Now is The Time”, inspirado no projeto internacional Living Peace).

Nas duas atividades, angariam-se alimentos de longa duração (principalmente leite, azeite e enlatados) e fundos para entrega às instituições que estão no terreno. Como peça central, os alunos são desafiados a serem proativos na sensibilização da comunidade educativa para os objetivos das mesmas e a constituírem-se como os principais agentes da sua concretização, envolvendo-se em tarefas que possam realizar de acordo com a sua idade/maturidade.

Geralmente, as ideias para as atividades também partem de propostas dos mesmos, muitas vezes no âmbito da disciplina de EMRC, permitindo assim que todos os anos os valores da solidariedade, responsabilidade social e humanismo sejam trabalhados de forma diferente e criativa, renovando a motivação da comunidade educativa para a matéria. Uma das atividades concretas de angariação de fundos consiste numa Feira de Livros Usados, mas em bom estado, que é feita por iniciativa das Bibliotecas do AESAS, também permanentes pivots desta dimensão solidária.

Muitas vezes, para além destas atividades planeadas, os alunos, espontaneamente ou através das suas associações estudantis, despoletam ações solidárias, que se traduzem, por exemplo, no angariar fundos para apoiar a família de um colega carenciado, no pagar a outro um equipamento desportivo imprescindível, mas caro, ou ajudar ainda outro a integrar uma visita de estudo mais onerosa.

Outro exemplo dessa dimensão solidária e também de integração na nossa comunidade envolvente será o Jantar Solidário que ocorrerá na próxima sexta-feira, 7 de abril, organizado pelo agrupamento, em conjunto com a Associação de Solidariedade Social de S. Tiago de Fraião (uma das Freguesias cuja Escola Básica e Jardim de Infância pertencem ao Agrupamento), de angariação de fundos para a requalificação e ampliação da estrutura residencial para idosos do Lar da Associação. Este jantar, que se organiza sob o tema “Solidariedade não é dar o que sobra, é dar o que falta”, já tem, significativamente, os seus quase 200 lugares praticamente esgotados. A ampliação pretende melhorar e adequar, às necessidades atuais, os serviços prestados pelo Lar, aumentando a sua abrangência de utentes, quer em centro de dia, quer em apoio domiciliário, quer em regime de internamento.

O evento só é possível porque, mais uma vez, toda uma comunidade respondeu: desde os cursos profissionais, alunos e professores, que o organizam e apoiam, à ginástica acrobática, teatro (através dos Malad’ arte) e música (através do nosso Grupo Coral e da associação musical SuonArt, connosco protocolada e que integra vários nossos alunos no seu Com.Cordas Ensemble) que o animarão.

Assim, mais uma vez, um profundo agradecimento a todos os integrantes desta comunidade - alunos, professores, pessoal não docente, pais e parceiros - que, com a sua disponibilidade e entrega, garantem a viabilidade de um projeto educativo que se quer responsável, humanista e, consequentemente, sempre solidário.

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