Assim vai a política em Portugal
Ideias Políticas
2023-05-16 às 06h00
Este domingo, enquanto assistia ao acompanhamento televisivo sobre as eleições turcas, dei por mim a refletir sobre a enorme participação eleitoral dos turcos nessas eleições e decidi-me a verter esses pensamentos e considerações na crónica desta semana. Como sempre, faço-o com o sentido de convidar quem lê a gastar alguns minutos do seu precioso tempo na mesma reflexão, até porque há algo de extraordinário nestes números: mais de 55 milhões de pessoas a votar.
Como alguém envolvido, desde cedo, no associativismo estudantil, perdi a conta a todas as vezes em que falei e ouvi falar sobre eleições, votos e abstenção, partidos políticos e campanhas eleitorais, manifestações e movimentos sociais, causas e lutas, tudo palavras batidas e rebatidas e que, mesmo assim, sabem a pouco, especialmente quando confrontado com números históricos de participação cívica no seu apogeu, o voto.
Por falar em frases batidas, aqui vai mais uma: a participação cívica e política é um direito e um dever. Mas a reflexão vai mais longe: desde quando e até quando é que vamos assistir à contínua descredibilização de quem cumpre tal desígnio? Entre cínicos, apáticos, elitistas, “desinformadores” e desiludidos políticos, porque é que ter uma ideologia política vincada e fazer parte de um partido político é, tantas vezes, um motivo para descredibilizar alguém?
Há, claramente, grande culpa da “classe” política também. Não encontramos melhores exemplos do que os casos e casinhos que têm vindo a assombrar uma maioria política absoluta, em termos representativos, na Assembleia da República e um Governo que apresenta bons resultados económicos, numa situação económica europeia e mundial fragilizada por vários fatores e reações em cadeia, quer pela questão da pandemia, quer pela guerra na Ucrânia.
A democracia e a liberdade inerente à sua condição traduzem-se em liberdade de pensamento, de opinião e de participação cívica e política. Os partidos políticos são, por sua vez, as organizações formais que influenciam as decisões governamentais, quer num âmbito local, quer num âmbito nacional. A constante descredibilização da participação política, com base na imagem de comportamentos, ações e opções da elite política que governa, transparecendo uma lógica estranha e descabida de que todos os que participam só o fazem por eventuais proveitos próprios, essencialmente em vantagens económicas e financeiras, é errada e funciona quase como um estigma que fragiliza a democracia e as suas consequências naturais como a liberdade.
A democracia é alimentada de pessoas, de diferentes ideologias, valores e objetivos políticos, de conversas e debates saudáveis, mesmo que haja discordância, de mais progresso ou de mais conservadorismo, de preocupações e lutas de causas como o meio ambiente, os direitos humanos, de visões sobre o papel do Estado e da iniciativa privada em questões como a saúde, a educação ou a habitação. Ver as pessoas reclamarem dos políticos corruptos, a questionar as decisões e opções governativas e a culpar a falta de representatividade, ou seja, a alegação constante de que os políticos não conhecem a realidade das pessoas, as suas dificuldades, os seus anseios e aquilo que mais as preocupa, é assistir a uma confissão de culpa, da parte de quem reclama e é, por isso, profundamente irónico.
Quando uma notícia é lançada nas redes sociais, nas páginas dos principais meios de comunicação social, quantas centenas ou milhares de comentários são feitos, todos os dias, a todas as horas, reclamando sobre tudo, descredibilizando os atores políticos e promovendo o discurso de ódio? Quantas vezes vemos pessoas a denegrir os seus congéneres com base em questões de género, de raça ou etnia, orientação sexual, origem ou condição económica? E quantas vezes as pessoas se desculpam com falta de tempo para participar ativamente em movimentos de géneses social, apartidários ou não?
Mais de 55 milhões de pessoas votaram, num país onde impera uma democracia disfarçada, na qual os meios de comunicação social são fortemente condicionados pelo poder político e absoluto do Presidente. Um confronto cívico, sem confronto físico, entre aqueles que defendem uma abordagem política mais conservadora, nacionalista e islâmica e entre aqueles de orientação política mais europeia, integradora e secular, sem nunca esquecer os efeitos recentes do sismo e a influência das suas réplicas sociais.
Em jeito de despedida, deixo ainda uma reflexão final: o futuro é o resultado do presente e do que fizermos hoje. Até à próxima.
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26 Novembro 2024
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