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Reflexões sobre o passado e o futuro da cooperação Galiza-Norte de Portugal

Área metropolitana do Minho

Reflexões sobre o passado e o futuro da cooperação Galiza-Norte de Portugal

Ensino

2024-12-14 às 06h00

Carmen Pardo Carmen Pardo

Uma euro-região é uma forma de cooperação transfronteiriça entre territórios de diferentes países da União Europeia ou de regiões vizinhas. Visa promover a integração, o desenvolvimento económico, social e cultural, bem como melhorar a gestão de questões que afetam os territórios de maneira conjunta. No entanto, esta reflexão teórica diz tudo e nada ao mesmo tempo…
Não sei se a minha visão da cooperação é demasiado simplista, mas vejo a cooperação possível mesmo entre aqueles que têm duas maçãs idênticas; isto porque, sozinho, cada um pode comer a sua maçã ou podem partilhar a receita da maçã assada ou da tentadora maçã caramelizada. Melhor ainda… que tal fazermos juntos algo como um bolo de maçã ou uma tarte tatin? Receitas impossíveis com uma única maçã, mas que talvez já sejam possíveis com duas? De referir ainda que, nestes casos, temos quem nos ofereça a farinha, açúcar e o custo da eletricidade para os cozer ...e nem imaginemos então inventar uma receita inovadora de valor acrescentado (o que é perfeitamente possível porque duas cabeças em conjunto pensam mais e melhor do que uma) …
Quando a “moda” ou melhor, a oportunidade da cooperação transfronteiriça chegou…logo depois de integrarmos juntos (Espanha e Portugal) a ainda denominada Comunidade Económica Europeia, apanhou-nos de surpresa… nós que tínhamos vivido “de costas” quando não confrontados, e sem nenhum exemplo de crescimento económico e sociocultural junto da fronteira (como sempre, com uma exceção, Badajoz) e mais recentemente, apenas aproveitando os melhores preços para uns produtos a Norte e outros a Sul (do Minho ou da Raia Seca) no caso da nossa euro-região.
Infelizmente, há décadas que não sabemos cooperar. Apesar de terem existido dois grandes visionários da cooperação entre a Galiza e o Norte de Portugal que inventaram o POCTEP propondo-o para esta euro região, e que rapidamente foi aceite, mas utilizado para promover a cooperação nos cerca de 1200kms de raia entre Espanha e Portugal. Vimos a cooperação como uma formalidade para obter fundos e cada um fez aquilo que precisava, individualmente. Fomos finalistas, mas não fomos inteligentes. Fizemos muitas coisas, progredimos muito, mas não multiplicámos maçãs. Mas, entretanto, também é verdade que nos fomos conhecendo melhor, fomos falando…. Fomos criando eurocidades, avançando para projetos mais imateriais sem pensar tão egoistamente; também o setor empresarial começou a aproveitar condições de maior competitividade que o outro território em ocasiões lhes dava, sem sentir que “ia para o exterior”. E os residentes? A apreciar mais as idas e vindas, nem que fosse para um café e uma nata ou “um chocolate com churros”…
Este tempo não foi perdido. Foi uma progressão. Fizemos muito, sim, mas agora, devemos pensar em inventar novas receitas ou pelo menos em cozinhar juntos as nossas maçãs…. e somos capazes de o fazer:
- aprender com o que o outro sabe fazer melhor (exemplos óbvios para mim: a tecnologia ao serviço do cidadão, o funcionamento dos cuidados de saúde, a burocracia na criação de empresas);
- estabelecer sinergias em tudo o que, somado, significa ganhar (os clusters setoriais, por exemplo);
- pensar em soluções para desafios comuns (inúmeros: o envelhecimento + ativo, a necessária melhoria da qualidade de vida nas zonas rurais, a mobilidade transfronteiriça);
- partilhar o que um tem e o outro não (sem duplicar investimentos desnecessários.... não chegamos a 6 milhões de habitantes e 4 aeroportos);
- investimentos conjuntos naquilo que nenhum dos dois tem e que pode ser partilhado.
E, algum dia, falaremos de uma euro-região que trabalha pelo seu território (entendendo-o como um, e não a soma de dois) maximizando o potencial de áreas que, separadamente, ainda hoje, enfrentam dificuldades em se desenvolver plenamente. Ingredientes chave? 0% de protagonismos, 100% de planeamento, 50-50% de co-responsabilidade.
Eis a minha proposta de receita saudável…

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