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Recuperação económica em Portugal: que fazer?

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Recuperação económica em Portugal: que fazer?

Ideias

2021-12-04 às 06h00

António Ferraz António Ferraz

Em 2020 com o alastrar da pandemia sobreveio uma forte crise económica, em grande medida como resultado das retrações da oferta interna (pelas empresas) e da procura interna (pelas famílias) num contexto de deterioração das expetativas dos agentes económicos quanto ao futuro. O INE de Lisboa publicitou, a propósito, os relatórios de produção, rendimento e emprego para os anos de 2019 (versão final) e de 2020 (versão provisória). Assim, o produto interno bruto real (PIB) diminuiu bastante de 8,4% em 2020 (contra o aumento de 2,7% em 2019). O descalabro económico ficou a dever-se, sobretudo, a quebra abrupta das exportações de bens e serviços com uma variação de -5,4%, (+ 0,7% em 2019) e do consumo das famílias com uma variação de -2,6% (+1,2% em 2019). Estas duas componentes da procura (externa e interna) foram mesmo os responsáveis 96% da quebra do PIB em 2020. Quanto as atividades económicas internas mais atingidas pela crise económica em Portugal (em termos de produção, rendimento e emprego) foram as atividades de alojamento, de restauração e de transportes.
Esclareça-se também, que a quebra brutal do PIB teria sido ainda mais elevada se não tivesse ocorrido uma forte intervenção do Estado na economia através de vários tipos de ajudas às empresas e famílias. Por sua vez, a taxa de poupança das famílias saltou em 2020 para 12,8% do rendimento disponível das famílias. Porquê? Porque o clima de elevada incerteza dos agentes económicos face ao futuro induziu as famílias portuguesas a terem uma menor apetência para o consumo e, logo, a terem um maior desejo de poupança devido ao motivo precaução. Quer dizer, em 2020 em cada 100 euros recebidos pelas famílias ficaram 13 euros para poupar, um valor elevado. Será este aumento da poupança das famílias em tempos de crise virtuoso? Ora, como refere o famoso economista J. M. Keynes (“A Teoria da Emprego, dos Juros e da Moeda” - 1936), em situações de crise económica aumentar a poupança das famílias (uma “virtude privada”) se faria necessariamente à custa do seu consumo, resultando daí um efeito económico multiplicado de contração com reduções sucessivas do consumo, investimento, produção e emprego (uma “estupidez social”). Para Keynes, a saída da crise deveria passar, ao invés, pela expansão da procura interna (consumo das famílias e investimento). Pelo seu papel estratégico o autor sublinha o papel do aumento do investimento público (via orçamental) na expansão económica.
Mas tem havido em 2021 sinais de recuperação económica pós-pandemia em Portugal? Ora, segundo o INE no 2º trimestre de 2021, o PIB cresceu 16,2% em termos homólogos (face ao mesmo trimestre do ano anterior) e 4,5% face ao 1º trimestre de 2021. Por outro lado, a taxa de poupança das famílias no 2º semestre de 2021 baixou para 11,5% do seu rendimento disponível (contra os 14,2% do trimestre anterior). Este facto resultaria do aumento de 1,3% do rendimento disponível das famílias (face ao trimestre anterior) e, sobretudo, do crescimento de 4,4% do consumo das famílias (contra os -1,8% no trimestre anterior).
Por fim, passa-se a assinalar algumas medidas de política económica que podem contribuir para consolidar a recuperação económica encetada em Portugal (embora, ficando tudo muito dependente da evolução pandémica):
(1) Incentivo ao investimento privado e, em particular, do investimento público estratégico;
(2) Melhoria da baixa produtividade do trabalho pela introdução de inovação empresarial tecnológica digital e ambiental;
(3) Maior escolaridade e qualificação profissional (tanto de trabalhadores como de empresários);
(4) Aplicação adequada e transparente dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência da União Europeia (PRR), de forma a corrigir as insuficiências económicas estruturais do país;
(5) Criação de condições para uma mais equitativa distribuição de rendimentos entre o trabalho e o capital;
(6) Adoção de reformas laborais valorizando o trabalho;
(7) Combate aos graves desequilíbrios regionais visando obter a necessária coesão económica e social.

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