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Recordar Delfim Ferreira nos 50 anos da sua morte

A escola pública morreu e ninguém foi ao funeral

Ideias

2010-06-14 às 06h00

Joaquim da Silva Gomes Joaquim da Silva Gomes

Os 50 anos da morte de Delfim Ferreira, que irão assinalar-se no próximo dia 24 de Setembro, incentiva-nos a recordar aqui o seu percurso de vida, marcado pela inovação empresarial e por uma enorme preocupação social.

Delfim Ferreira nasceu no dia 13 de Dezembro de 1888, na freguesia de Riba d’ Ave, concelho de V. N. Famalicão e era filho do grande industrial Narciso Ferreira (1).
Desejando aumentar os conhecimentos obtidos com o seu pai, Delfim Ferreira preocupou-se em obter formação profissional, tirando o curso “Técnico e Industrial” pela então prestigiada “Real e Imperial Escola de Reichnberg”.

Não se limitando à indústria têxtil e de pneus, Delfim Ferreira alargou as suas áreas de actividade, contribuindo para o desenvolvimento de empresas como a “Empresa Têxtil Eléctrica, L.da” (fundada em 1905); a “Oliveira, Ferreira e Companhia, L.da” (inaugurada em Riba d’Ave no ano da Implantação da República - 1910) e a “Hidro-Eléctrica do Varosa” (fundada em 1918). De referir ainda que a empresa “Hidro-Eléctrica do Varosa” teve um forte crescimento, chegou a fornecer, a partir de 1928, energia eléctrica aos concelhos de Gaia, Matosinhos, Santo Tirso, V. N. Famalicão e Vila do Conde.

A grande capacidade de inovação industrial reveladas por Delfim Ferreira foram reconhecidas a nível nacional, tendo o Governo convidado este industrial a aproveitar as águas do rio Ave. Este não hesitou e criou a “Hidroeléctrica do Ermal”, que conseguiu abastecer a cidade do Porto de electricidade. Posteriormente, fundiu a “Hidroeléctrica do Ermal” e a “Hidroeléctrica do Varosa”, dando origem à, então, imponente “Companhia Electro-Hidráulica do Norte de Portugal” (vulgarmente conhecida por CHENOP).

Em 1953, e novamente a convite do Governo, Delfim Ferreira explorou as águas do rio Douro, dando origem à “Hidroeléctrica do Douro”.
Outras empresas de grande dimensão, criadas por Delfim Ferreira, foram a “Fábrica de Fiação e Tecidos” (sediada em Vila do Conde) e a “Empresa Têxtil Algodoeira de Arcozelo” (sediada em Gaia) que chegaram a empregar, em meados do século XX, cerca de dois mil trabalhadores.
A dedicação empresarial deste famalicense ficou, mais uma vez, demonstrada, com a criação da “Empresa Nacional de Sedas” (sediada em Gaia), “tornando-se o primeiro industrial a introduzir o fabrico de seda artificial em Portugal” (2)

A produção do Vinho do Porto foi outra das áreas de intervenção e inovação de Delfim Ferreira, uma vez que criou novos métodos de produção vinícola e de arroteamento no Douro, nomeadamente nas suas propriedades de “Quinta dos Frades” (Armamar) e “Quinta do Castelo” (Santa Marta de Penaguião).

A construção de edifícios públicos (à semelhança do que também tinha feito o seu pai) foi outra das suas preocupações. Assim, Delfim Ferreira foi o responsável pela construção de grandes edifícios na Avenida António Augusto Aguiar e Sidónio Pais (em Lisboa) e na Avenida Sá da Bandeira (Porto). Para além destes edifícios, construiu o imponente Palácio do Comércio (na parte nova da rua Sá da Bandeira) e o Hotel Infante de Sagres, ambos no Porto. Delfim Ferreira foi ainda proprietário de um dos mais brilhantes palacetes do Porto: o Palacete/Casa de Serralves, onde viria a falecer. (3)

A nível político, Delfim Ferreira foi nomeado procurador à Câmara Corporativa, em Janeiro de 1935 (I Legislatura do Estado Novo). No entanto, devido à falta de tempo e, provavelmente, ao pouco entusiasmo que a política lhe criava, renunciou ao cargo logo em 10 de Dezembro desse ano.

Delfim Ferreira foi agraciado com a “Grã-Cruz da Ordem de Mérito Industrial” (Maio de 1951), “Ordem Militar de Cristo”, “Grande Oficialato da Ordem de Mérito Industrial” e a “Medalha de Ouro Municipal de Vila do Conde”.
Quando faleceu, no dia 24 de Setembro de 1960, Delfim Ferreira era considerado, por muitos, como o homem mais rico de Portugal.

Uma vez que se aproximam os 50 anos da sua morte (24 de Setembro), seria importante que as instituições portuguesas, principalmente a Câmara Municipal de V. N. Famalicão, desencadeassem um conjunto de iniciativas que recordem a vida e a obra de um dos mais brilhantes famalicenses de sempre: Delfim Ferreira.


1) - Narciso Ferreira nasceu em Riba d’Ave (concelho de V. N. Famalicão) em 7 de Julho de 1862 e faleceu em 23 de Março de 1933. Desde novo que começou a vender fazendas pelas terras vizinhas de Riba d’Ave. Começou com uma pequena fábrica manual de têxteis, cujo crescimento deu origem ao maior empreendimento têxtil que existia em Portugal na segunda metade do século XIX.
Narciso Ferreira não se limitou a adquirir riqueza, mas preocupou-se imenso com os aspectos da solidariedade e da amizade. Foi ele quem mandou construir cinco bairros sociais, uma creche, um quartel para a Guarda Nacional Republicana (tudo na sua terra natal), escolas em várias localidades e ainda o Hospital de Riba d’Ave!

2) - “Dicionário Biográfico Parlamentar” - 1935-1974 (Vol.I e II), Manuel Braga da Cruz e António Costa Pinto (direcção) - Assembleia da República - 2005;

3) - A história da Casa de Serralves começou com o 2º Conde de Vizela (Carlos Alberto Cabral - 1895-1968) nos inícios da década de 20 do século XX. A construção da casa passaria por várias etapas, até à sua conclusão, em 1944.
Devido a dificuldades económicas, o Conde de Vizela passou a residir num apartamento no Porto. Em 1957, a propriedade foi adquirida por Delfim Ferreira e a sua família conseguiu mantê-la até 1986. No ano seguinte, o Ministério da Cultura compra a propriedade de Serralves e em 1989 é criada a Fundação de Serralves.
Em 1996, a Casa de Serralves foi classificada como imóvel de interesse público.
No passado fim-de-semana (5 e 6 de Junho), a Fundação Serralves, no Porto, foi visitada por mais de 100 mil pessoas, numa iniciativa denominada de “non-stop”, que durou 40 horas.

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