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Ideias Políticas

2025-05-27 às 06h00

Inês João Rodrigues Inês João Rodrigues

As eleições legislativas de 2025 deixaram uma ferida aberta na democracia portuguesa e uma marca profunda na alma do Partido Socialista. Ainda que, não estejam apurados os resultados finais dos círculos da emigração — que, como sabemos, raramente nos são favoráveis —, a contagem atual, já revela um empate inédito entre o PS e o Chega no número de deputados. Um empate que, apesar de termos obtido mais votos, tem um impacto político tremendo: Podemos perder a liderança da oposição para uma força populista e perigosa. E isso, não pode ser encarado com normalidade.
Pedro Nuno Santos, num gesto de responsabilidade política e pessoal, apresentou a sua demissão. Foi, sem dúvida, um ato de coragem e dignidade. Mas, sejamos honestos: não é justo, nem intelectualmente sério, que a culpa recaia exclusivamente sobre o secretário-geral demissionário. Há responsabilidades coletivas que urge assumir. O partido falhou. Falhámos todos — dirigentes, estruturas locais, comunicação interna, e sobretudo, falhamos na forma como nos temos relacionado com o país real.
Temos de o dizer com frontalidade - O eleitorado deu-nos um aviso: O PS está afastado. Afastado dos trabalhadores, dos jovens, das famílias esmagadas pelos custos de vida, dos empresários que procuram no Estado um aliado e não um entrave. Do operário que já não sente o PS como seu, mas também do jovem universitário que vê mais paixão política nas redes sociais do que nas estruturas tradicionais.
O resultado destas eleições não é apenas um sinal de derrota: é um grito de alerta. Estamos a perder o país — e não por falta de valores, mas por falta de ligação. A sociedade portuguesa está em mutação. Os desafios da habitação, dos salários, da saúde mental, da sustentabilidade e da participação política exigem respostas novas. E essas respostas não podem vir apenas de dentro de gabinetes ou de comissões políticas fechadas.
O partido como um todo tem de refletir. Não chega mudar de líder. É necessário mudar de atitude, de prática política, de visão. Precisamos de uma verdadeira renovação, que vá além das caras e dos slogans. Precisamos de um PS que represente com igual empenho o trabalhador precário e o empresário inovador, o estudante endividado e o investigador sem condições. Precisamos de um PS que inspire confiança e mobilize novamente os portugueses.
Essa renovação começa por ouvir. Ouvir os que votaram, os que se abstiveram, os que votaram noutros. Ouvir os militantes que se sentem afastados. Os autarcas que enfrentam o país real. As estruturas locais que trabalham com escassos meios. A Juventude Socialista, que todos os dias tenta trazer para dentro do partido os anseios de uma geração que sente que o futuro lhe está a ser negado.
Este é o tempo de agir, de repensar o partido, de rasgar o imobilismo, de confiar numa nova geração que quer fazer diferente. O PS tem de voltar a ser audaz. A ter visão. A liderar pela positiva. A construir um projeto com alma, com ambição e com coragem. Não podemos continuar a gerir o partido como quem gere uma herança: temos de o reinventar com a ousadia de quem acredita no futuro.
As eleições de 18 de maio não foram apenas uma derrota, foram uma chamada à realidade. A política não é uma bolha — e quando se torna numa rebenta. O que hoje vivemos é o rebentar dessa mesma bolha. Mas os estilhaços, bem aproveitados, podem tornar-se matéria-prima para algo novo. Um PS renovado, autêntico, combativo e mobilizador. Portugal precisa de um Partido Socialista forte, renovado e ligado ao povo. E essa reconstrução começa agora.
Podemos transformar esta queda num novo começo. Um recomeço difícil, sim. Mas é possível. E necessário.

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