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Quo Vadis, Europa?

O fim da alternância

Quo Vadis, Europa?

Ideias Políticas

2018-06-26 às 06h00

Pedro Sousa Pedro Sousa

O facto de alguém ser capaz de se entregar à incerteza do mar, de deixar toda a vida e todos os seus pertences para trás sem pestanejar, arrastando atrás de si os seus filhos, tantas vezes menores, significa que, apesar da dureza e da incerteza da travessia, preferem arriscar-se a morrer no mar a continuar onde estão, na condição em que estão.

Esta realidade, para além de ser reveladora de uma dureza e desumanização indescritíveis, está hoje, novamente, no centro da discussão europeia, sendo, até, a razão principal de uma enorme crise política que assola o governo alemão, um governo de coligação liderado por Angela Merkel.

A questão das migrações é, desde há vários anos, a questão política maior do nosso tempo e merece, por isso mesmo, um olhar muito atento e acção corajosa da União Europeia.

É impossível continuarmos de braços cruzados perante a tragédia que assola o Mediterrâneo, é inaceitável permitirmos que os Estados continuem, permanentemente, a violar o direito internacional humanitário, ao mesmo tempo que o nosso mar se converte na maior vala comum do século XXI.

São milhares de pessoas que, diariamente, morrem diante dos nossos olhos e o mais escandaloso de tudo é que essas mortes são evitáveis. Foi essa, aliás, a mensagem que milhares de cidadãos quiseram deixar, inundando as ruas de inúmeras cidades que gritaram bem alto: “Queremos acolher”.

A primeira preocupação não pode ser outra senão a de salvar vidas, até porque, sabemos bem, a gestão dos fluxos migratórios é uma questão complexa, densa, que não pode ser resolvida isoladamente por Portugal, Espanha, Itália, Grécia ou Alemanha.

Esta semana, em Bruxelas, terá lugar uma reunião de chefes de Estado para rever o sistema comum de asilo.

Nessa reunião, decidir-se-á se serão criados centros de acolhimento fora das fronteiras da UE, cedendo ao populismo de inúmeros movimentos xenófobos, populistas e neo-fascistas que clamam pelo não acolhimento de mais refugiados na velha Europa.

A acontecer tal coisa, estaremos, de forma que nos deve envergonhar a todos, a trair as fundações europeias, na medida em que todos sabemos que a gestão externalizada levará apenas a mais mortes e a mais e inaceitável sofrimento, dado que é o facto de, na Líbia, os direitos humanos serem sistematicamente torturados, escravizados e violados, que faz com que as pessoas, literalmente, se atirem ao mar, preferindo isso ao inferno em que as suas vidas se tornaram.

Podemos e, sobretudo, devemos fazê-lo bem, mas para o conseguirmos são necessárias mudanças profundas e radicais, e isso tem que ser feito em diálogo com os países e com as cidades que, há já vários anos, recebem refugiados, abrindo-se um espaço de cooperação com a sociedade civil que permita reforçar as políticas humanitárias capazes de garantir um acolhimento digno aos milhares de pessoas que, todos os dias, arriscam a vida na travessia do mediterrâneo.

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