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“Quando falhamos”

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“Quando falhamos”

Voz às Escolas

2024-12-09 às 06h00

João Andrade João Andrade

Há um mês que deveria ter escrito, para este espaço, uma crónica. Mas não o consegui. Porque nessa semana aconteceu algo que a proximidade temporal me incapacitava de falar, mas também o peso desse algo me impedia de ser capaz de escrever ou dar importância a qualquer outra coisa.
Um nosso aluno – uma linda criança concreta de 13 anos – tinha sido estupidamente atropelada, na terça-feira anterior, numa passadeira no seu caminho de casa.
São coisas que nunca deveriam acontecer: o risco de vida de uma criança e o sofrimento da sua família, amigos e colegas, alguns dos quais tiveram a dor e o trauma de assistir ao momento.
Um inconsciente condutor, em velocidade excessiva e sem abrandar para a passadeira, é o óbvio e primeiro grande culpado do que aconteceu. Condutor e pessoa, que à inconsciência, juntou a reles cobardia e a desqualificação enquanto ser humano, porque foi capaz de prosseguir marcha, sem parar, após atropelar uma criança.

Mas, por muito que custe, outros culpados houve. E significativos, porque a passadeira onde ocorreu o atropelamento nesse dia estava às escuras, numa evolvente de total breu. E, tanto quanto é nosso conhecimento, um breu que perdurava já há significativo tempo – semanas! –, apesar dos alertas dos moradores e da Junta de Freguesia junto do Município e deste último junto da entidade responsável pela iluminação no local. Apesar do óbvio risco – a Rua P.e Francisco de Almeida é uma via sem obstáculos à velocidade automóvel, com três passadeiras e que atravessa uma zona residencial e de passagem de crianças da escola e idosos –, nada de consequente ou preventivo tinha sido feito. Nada tinha sido feito porque seria impossível? Não! Passados dois simples dias após o acidente e a ida apressada de técnicos da entidade responsável ao local, a iluminação foi restabelecida.
Apesar da vida coletiva ser feita de equilíbrios, todos temos de ter a noção de que pequenos atos ou inações nossas podem ter grande impacto na vida dos outros. Ter essa noção é ser responsável. Não foi o que aqui aconteceu, como, infelizmente, não acontece em inúmeras outras situações.

Uma reflexão coletiva é obrigatória: a nossa cidade, como tantas outras, face ao crescimento do parque automóvel, não é amiga dos peões. Apesar de intervenções em inúmeras zonas, muitas outras há em que a combinação do lusco-fusco de inverno, baixa visibilidade advinda dos contextos atmosféricos, condutores apressados e cansados no fim do dia e inúmeras crianças, jovens e adultos a sair das escolas e empregos, criam autênticas armadilhas à segurança da vida humana.
Numa cidade com estrutura e vias que a história, incluindo as lideranças, não prepararam para o sufoco da quantidade de tráfego automóvel atual, urge – a todos nós – refletir e tomar decisões sobre como lidar com este grave problema. Parece-nos claro que as vias percorridas por peões ao fim do dia – em particular as crianças das escolas – devem ser alvo de uma atenção muito especial e urgente, com criação de percursos devidamente sinalizados, iluminados e com estruturas condicionantes da velocidade automóvel.

A insegurança dos percursos pedonais só leva a que mais pais decidam recorrer ao automóvel para ir levar e buscar os seus filhos, agravando ainda mais o problema do elevado tráfego na cidade.
É público, pela voz da Vereadora Educação, Dr.ª Carla Sepúlveda, que o Município de Braga constituiu uma equipa de trabalho multidisciplinar, com elementos de diversos pelouros, tendo em vista avaliação e intervenções nos percursos utilizados pelas crianças e jovens à volta das escolas. Que o trabalho dessa equipa seja célere e decisivamente consequente.
Ao José e à sua família, apenas os votos de que o percurso difícil e duro – e a luta diária – em que ainda se encontram termine numa recuperação que todos queremos total.
Permanentemente com eles, a esperança e o sentir de todos nós – e o desejo que situações como a presente não se repitam jamais.

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