Reciclar o Natal!
Escreve quem sabe
2024-07-06 às 06h00
Mimetizando um fenómeno observado noutras universidades estrangeiras, também na academia portuguesa temos assistido a contestações à intervenção militar israelita na Faixa de Gaza iniciada a 27 de outubro de 2023 para desmantelar a organização terrorista Hamas e resgatar os reféns que mantém sob jugo.
O seu padrão parece ser este: um grupo de estudantes e professores de esquerda reivindica que as reitorias tomem uma posição oficial pró-Palestina e que interrompam qualquer tipo de cooperação com as universidades israelitas; a seguir, outro grupo de estudantes e professores de direita reclama que esse pedido é indecoroso, porque elide o facto de Israel ter sido vítima de um ataque ignominioso a 7 de outubro de 2023 e tem direito a defender-se; logo alguém do primeiro grupo opõe que não é bem assim, que o conflito tem uma história mais longa; e durante dias ou semanas pelejam sobre o assunto com palavras, como nos torneios escolásticos medievais.
No cerne desse ocioso debate parece estar a alegação “Israel criou o contexto e as circunstâncias que levaram a este recente conflito”. A 25 de outubro de 2023, António Guterres introduziu-a quando disse que “é importante também reconhecer que os ataques do Hamas [entenda-se: o massacre e assassinato de 1500 israelitas] não aconteceram num vácuo”, mas sim – ainda que ele não o tenha dito, podemos nós completar – em resultado de uma opressão exercida por Israel sobre os palestinos há 57 anos.
O secretário-geral da ONU apressou-se a clarificar (?) que com as suas palavras não pretendia justificar o morticínio do Hamas, mas foi exatamente isso que fez e mais tarde reincidiu. Implicitamente afirmava que Israel “estava mesmo a pedi-las” e fazia apelo ao “olho por olho, dente por dente”, algo que soou e continua a soar muitos como um argumento legítimo. Todavia, não o é.
Em primeiro lugar, porque não há justificação concebível para o sequestro, tortura e assassinato levados a cabo pelos terroristas de bebés, crianças, jovens, idosos e incapacitados. Estranhamente não se fala do assunto nestes termos, mas o que ocorreu naquele trágico dia de outono não foi um crime contra Israel, mas contra a Humanidade.
Em segundo lugar, porque insinua uma falsa equivalência moral entre os atos de terror perpetrados pelo Hamas ao povo de Israel e a legítima defesa deste contra os mesmos. É evidente que a reação de Israel deveria ter sido proporcional e inegável que o povo palestino foi apanhado num conflito que lhe trouxe um sofrimento extremo. Contudo, o Hamas não se encontrava em Israel, mas na Faixa de Gaza, nem foram os israelitas que aprenderam a conviver alegremente com o Hamas, nem foram eles que comemoraram efusivamente o massacre nas suas ruas horas depois de ele ter ocorrido. Isso deixou o governo de Israel num terrível dilema: como limpar a Faixa de Gaza da presença do Hamas, autêntica ameaça à sua segurança nacional, sem infligir sofrimento aos palestinos?
Em terceiro lugar, porque comete a falácia non causa pro causa ou da causa discutível, ao sugerir que a história de (a suposta) opressão de Israel sobre os palestinos é diretamente responsável pelo conflito atual, ignorando outros fatores complexos envolvidos. Além disso, abre caminho para afundar a discussão do assunto na armadilha da regressão causal infinita, com cada uma das partes em contenda a tentar retroceder indefinidamente na história em busca de uma causa inicial e definitiva para o conflito.
É neste beco sem saída que se encontram as justas ideológicas travadas nas universidades. No mundo real, espero que palestinos e israelitas voltem a ser bons vizinhos como já foram.
10 Dezembro 2024
07 Dezembro 2024
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