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Projetar e criticar

Fazer Pedagogia da Memória

Projetar e criticar

Escreve quem sabe

2025-05-18 às 06h00

Joana Silva Joana Silva

Faz parte da vida, quer se queira quer não, “compararmo-nos” com os outros. Não há ninguém, que pelo menos, uma vez que seja, não se tenha comparado a outra pessoa, seja dentro dos círculos: familiar, amigos, colegas de trabalho, ou até mesmo com “conhecidos de vista", com os quais se cruza no supermercado, na paragem do autocarro, na padaria etc. É natural que, em todos os contextos inerentes ao dia-à-dia, se observe e se procure referências ou modelos a seguir.
Neste sentido, as comparações e as opiniões são, muitas vezes, inevitáveis. A tendência, contudo, é identificar no outro aspetos negativos, e não o reconhecer as qualidades ou virtudes. É mais fácil expressar: “Não gosto.”, ou “Não me identifico.”, do que exprimir: “Gosto.”, ou, “Fica muito bem.” Por vezes, tende-se a apontar defeitos que na realidade existem na própria pessoa, mas que não se consegue ou não se quer admitir. Uma espécie de recusa a reconhecer certos comportamentos como defeitos, mesmo quando são “evidentes” para quem está diariamente ao lado.
Contudo, a dificuldade em aceitar os próprios defeitos pode impedir a felicidade autentica. Pode distanciar ou até afastar pessoas. A atribuição de “defeitos” pode ter muitas especificidades que envolvem os aspetos físicos, psicológicos, sociais etc. Há quem pense que as criticas prendem-se na sua maioria ao aspeto físico. Não. Essas criticas são na verdade, sempre subjetivas, pois aquilo que não é apreciado pode ser motivo de admiração para outra. Repare que quando alguém “fala mal de outra pessoa” tende a circunscrever-se a “defeitos” não tão físicos mas mais socioafetivo. Por forma a se compreender melhor, seguem-se alguns exemplos: o pensamento e atitude constantemente negativa (conhecido/a por, “Sempre do contra”); a falta de assertividade, com reações desproporcionadas perante situações simples (conhecido/a por, onde quer que esteja está sempre em confusões); ou ainda traços de falta de humildade como a arrogância (conhecido/a por questionar, “Sabe quem eu sou?” e ninguém a não ser ele/a próprio/a é digno de um elogio), entre outras situações.
Mas o que explica este tipo de comportamentos? Uma justificação é a projeção, isto é, atribuíu-se a outras pessoas “defeitos” que, também pertencem ao/á próprio/a. Certamente que já ouviu dizer, “Fala daquela pessoa que tem determinado comportamento, mas faz (ou é) igual.” As criticas tendem também a camuflar necessidades de autoafirmação, em que há uma necessidade de sentir-se superior. Reconhece muitas qualidades na outra pessoa (de forma secreta) mas não consegue elogiar, só desvalorizar. Um padrão que tem frequentemente raízes na infância. Crescer num ambiente onde predomina a crítica severa e constante, a comparação ou a pressão para ser “o/a melhor” através de verbalizações como “Ainda não aprendeste?” ou “Nada do que fazes tem jeito.”, fomenta uma visão rígida e exigente do mundo. Por consequência, de famílias disfuncionais (“ambientes doentes”) nasce a rotina de julgar, tudo e todos, para proteger a própria autoestima.
Contudo, quem critica constantemente os outros perde muito mais do que ganha. Ninguém aprecia estar ao lado de alguém que julga ou aponta defeitos com frequência e onde surge a dúvida: “Será que também fala mal de mim quando não estou presente?”. Convivências que se tornam desconfiadas, e de vínculos frágeis. Estar ao lado de alguém constantemente negativo retira leveza aos momentos de lazer justamente quando mais se precisa é de paz, após um dia de trabalho intenso.
Ninguém é só de falhas. Está-se em constante construção e evolução desde que se nasce até ao fim da vida. Nada justifica más ações, mas ajuda a perceber que quando alguém critica constantemente os outros, pode ser o reflexo de uma infância marcada por rejeição, comparação, exigência excessiva ou negligência emocional. Um padrão que pode e deve ser transformado. O primeiro passo é reconhecer, e o segundo, compreender qual a sua origem. Só assim se pode escolher novos caminhos e novas formas de estar.

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