Pandemia, trabalhadores e pais: como conciliar?
Ideias
2017-05-12 às 06h00
Durante o debate pré-eleitoral, acusava Macron a Le Pen de nenhuma solução ter para os problemas da economia francesa, salvo fantasistas pozinhos de perlimpimpim. Talvez Macron tenha uma varinha de condão - que sempre rima - e consta que oferece outros charmes e encantamentos.
A Le Pen saiu do debate televisivo com o selo de perdedora. É capaz de o ter repetido, à boca cheia, quem ao debate não assistiu e quem de bom francês mais não saiba dizer que “sirva o puré”. Não esteve mal de todo, mas já a tinha visto com outro brilho.
Fisgaram-lhe a confusão entre o EURO, moeda real, e o ECU, como unidade monetária virtual. Ao Macron pouparam-lhe a vergonha de resgatar em alta a economia francesa, repondo-a no quinto lugar, entre as grandes, quando tinha caído para a sexta posição sob o seu consulado como ministro. Parece que há umas manipulações contabilísticas com os efeitos do Brexit. Mas, dê por onde der, a economia britânica respira outra saúde, que o digam os números do desemprego.
Gostei de ver as várias esquerdas a santificar o voto em Macron.
A França viveu meses de intranquilidade civil por causa das leis desregulatórias e afrontosamente liberais postas na rua pela dupla Valls/Macron. Mélenchon, Le Pen, uma vez eleitos, propunham-se restaurar o antigo status quo. Mas, para a santa esquerda, Macron é um adversário, ao passo que a Le Pen é uma inimiga da democracia. - Engulo! E o Mélenchon é o quê, para a esquerda socialista, a quem não pesaram na consciência os dois milhões de votos desperdiçados em Hamon?
Parece absurdo dizê-lo, mas a Frente Nacional - ou a Le Pen - fez uma fraca campanha. Parece absurdo, sim, porque tiveram mais votos do que nunca, porque da primeira para a segunda volta ainda amealharam mais três milhões de eleitores.
Só não é absurdo dizê-lo, realmente, porque havia uma espectativa tétrica de vitória das cores da ultra-direita. Mas, entendamo-nos: a FN nunca será um partido da máquina de estado, porque não é plausível que ultrapasse os constrangimentos do voto maioritário - um candidato FN perderá sempre, ou quase, para um oponente que concite em si o voto numa lógica de todos contra um. Mas cresce, a FN, e continuará a progredir, porque os outros não se cansam de fazer borrada.
Na ressaca, anuncia, madame Le Pen, uma refundação do partido, e a construção de uma plataforma alargada para as legislativas de junho.
No hexágono há uma “nouvelle cuisine” em composição: aglutinará, o “En Marche” de Macron, os ilustres desempregados pela bancarrota do PSF e do Les Republicans? Rumarão, alguns dos bons socialistas, ao “France Insoumise” de Mélenchon, revendo-se nas linhas programáticas do “Avenir en Commun”? Forjará, a Le Pen, a nova “Aliança Patriótica e Republicana”, atraindo centristas, como Dupond-Aignan, de forma que impossível se torne continuar a apelidá-la e fascistoide?
Desculpem-me os deslizes de afrancesado. Acompanho a vida francesa por curiosidade política e por pragmatismo lusitano. O eixo Paris-Berlim já era. Continuará a existir como um eco, como uma aspiração de paz sanitária entre a França e a Alemanha, mas os alemães estão mais concentrados em solidificar uma hegemonia própria, assente na supremacia a leste e a norte. No tandem Paris-Berlim, Paris será sempre a subordinada, figurino que não lhes vai, aos franceses, cheios de nove horas.
Recomponha-se, a França, assuma um papel condutor numa aliança latina, e tenho para mim que outro galo cantaria: o deles e o nosso, nesta particular simbolia. Eu percebo aspiração a uma Europa una, paritária, solidária, mas isso nem com os tais pozinhos de perlimpimpim lá vai. E nós, portugueses, sabemo-lo muito bem, ou não tivessem altas figuras do estado alemão agitado a bandeirinha do segundo resgate português, quando lhes convinha desviar as atenções dos percalços da finança lá de casa.
Não se trata de lhes querer mal, aos alemães e aos bentinhos de Bruxelas, mas esta europa, tão aterrorizada com uma hipotética vitória da Le Pen, tão apavorada com um sucesso de Mélenchon, não é a europa que nos convém. A Le Pen, no dizer dos imobilistas, era um führer em pessoa. E o Mélenchon: seria o quê?
Cai-me mal esta colagem a mortos de má fama. É sempre possível a História dar um passo atrás, mas então que a analogia seja levada até final, e que o digam, os cultores do centrão estagnado, que a europa está hoje no ponto da década de trinta. Ah! E que daí extraiam as conclusões sobre os estrondosos progressos do capitalismo. A não ser assim, é o velho e roto agitar de papões. Buhuhu!!
05 Março 2021
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