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Ideias
2023-09-25 às 06h00
Quem vive ou trabalha em Braga sempre se surpreende com as notícias que evocam os avanços e os projectos da cidade para uma mobilidade mais sustentável. Estamos com mais de uma década de atraso em relação a outras cidades e esta é uma matéria em que o Município não se pode queixar de falta de posições construtivas por parte da sociedade civil.
Associações cívicas, cidadãos e até Juntas de Freguesia têm apresentado soluções que poderiam ajudar o Município a dar os passos necessários para recuperar o atraso estrutural que degrada a qualidade de vida dos bracarenses. Seria também importante que o debate fosse efetivamente aberto e participado antes de se avançarem para alterações estruturais no espaço público que é de todos e deve ser para todos. É muito claro que algumas das medidas necessárias serão impopulares num primeiro momento até que os cidadãos se apercebam dos benefícios da mudança.
Quando o Município avança com iniciativas como “School Bus para Todos”, com a melhoria e alargamento de alguns passeios, com a redução dos preços dos TUB ou com a construção de ciclovias está a dar passos na direção certa para tornar a cidade mais aprazível, equitativa e saudável para os seus habitantes. Mas essas medidas positivas não são um “Plano de Mobilidade Sustentável”.
O conforto e a segurança para a circulação pedonal são um dos principais problemas da cidade de Braga. Há muito que nos dizem que Braga é uma cidade demasiado centrada na circulação rodoviária. Mas, ao mesmo tempo, o automóvel continua a ser priveligiado na maior parte das intervenções públicas.
Os buracos nas estradas mobilizam os serviços municipais de forma extraordinária enquanto os passeios continuam a ser inseguros e, tantas vezes, intransitáveis por todos. Para além da falta de manutenção e de cuidados que evidenciam, normalizou-se a sua ocupação por automóveis em todo o concelho de uma forma que não vemos acontecer nas cidades vizinhas. Estão mesmo interessados em proteger a segurança, o conforto e a integridade dos peões ou preferem não incomodar os automobilistas incumprido- res?
A falta de eficiência, previsibilidade, segurança e conforto dos transportes públicos é outro problema que se perpetua. Quem se desloca de autocarro - como faço frequentemente - depressa se apercebe do desprezo das políticas públicas por este meio de transporte. Embora continue a incentivar todos a experimentarem e adoptarem esse hábito, temos que reconhecer que a inexistência de vias reservadas, a imprevisibilidade dos horários, a falta de informação em tempo real e o total desrespeito pela segurança das paragens - sempre ocupadas por automóveis estacionados - tornam essa mudança difícil e mesmo impraticável para alguns. Pior do que os problemas quotidianos que afetam aqueles que utilizam os Transportes Urbanos de Braga (TUB) é a falta de ações para os resolver. Estão mesmo interessados em proteger a segurança, o conforto e a eficiência dos transportes públicos ou preferem não incomodar os automóveis que ocupam vias e paragens?
A inexistência de uma rede ciclável - tantas vezes anunciada e outras tantas prometida - é outro dos problemas da mobilidade na cidade de Braga. Há demasiados cidadãos que não utilizam a bicicleta na cidade por medo da circulação automóvel perigosa e desregulada. As pistas cicláveis que existem foram deficientemente planeadas, estão desarticuladas e, em vez de estarem segmentadas nas vias de circulação automóvel, ocupam um espaço que deveria ser dos peões gerando situações de perigo para todos. Quando a dimensão da rede ciclável é apresentada somando vias em sentidos opostos está exposto o fracasso da política. Imaginem que nos diziam que a estrada entre o centro e o Bom Jesus tem tantos quilómetros como o somatório das suas faixas de rodagem de ida e volta. Estão mesmo interessados em criar uma rede ciclável em Braga ou preferem manter cada centímetro do espaço já dominado por automóveis que, apesar disso, têm cada vez mais dificuldade em circular?
A renovação da Avenida da Liberdade tem o benefício de acabar com a necessidade de atravessamentos desnivelados - um passo na direção certa - mas desperdiçou a oportunidade de substituir espaço de circulação automóvel por vias cicláveis e reservadas a transportes públicos como sucede nas obras de renovação das avenidas em todas as cidades europeias.
Do mesmo modo, o BRT pode revolucionar a mobilidade na cidade se assegurar vias completamente segregadas dos automóveis particulares - é o que se faz em todo o mundo. Mas também pode ser um fracasso se isso não for garantido em toda a sua extensão.
Sabemos que não se pode avançar tudo de uma vez. Mas não podemos continuar a desperdicidar oportunidades para corrigir erros estruturais que degradam a qualidade de vida de todos, em particular daqueles que são mais vulneráveis.
10 Setembro 2024
09 Setembro 2024
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