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Poesia e Inovação

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Poesia e Inovação

Ideias

2025-06-13 às 06h00

Margarida Proença Margarida Proença

Hoje estou na onda de João de Deus, poeta dos finais do ultra romantismo em Portugal. Ao longo da segunda metade do séc. XIX, foi jornalista, político, advogado, sempre com relativo empenho e pouca produtividade. Amigo de Antero de Quental, afirmava, por 1880, ser “socialista porque era cristão e amava os seus semelhantes”.
Mas João de Deus tornou-se famoso e está hoje sepultado no Panteão Nacional não por causa das suas opções políticas ou a sua obra poética, mas porque foi o autor e divulgador da “Cartilha Maternal”. Num país então profundamente marcado pelo analfabetismo, a Cartilha Maternal traduziu-se num novo método de ensino da leitura. Revolucionário na sua altura, veio a gerar muita controvérsia e críticas principalmente porque colocava o ênfase na leitura fonética, mas foi de facto um instrumento eficaz usado por muito tempo.
Parecem dois conceitos estranhos entre si, poesia e inovação. Mas a poesia tem a ver também com criatividade, com imaginação, com compreensão do mundo. “Sempre que o homem sonha/, o mundo pula e avança/ como bola colorida /entre as mãos de uma criança” dizia António Gedeão. E acrescentava na sua Pedra Filosofal: “Eles não sabem que o sonho/é cor é tela é pincel/base fuste capitel/arco em ogiva vitral/pináculo de catedral”, por aí fora.
A inovação transforma a ideia criativa numa solução viável. A relação entre criatividade e inovação é influenciada pela cultura organizacional, pela abertura a novas ideias e aos outros. Ambientes estáveis, abertos a ideias e a pessoas diferentes, com liberdade para pensar, encorajam a tomada de riscos, geram soluções inovadoras para os problemas e a colaboração em projetos comuns. Pelo contrário, quanto mais resistente à mudança for o ambiente envolvente, quanto maior o medo do desconhecido e do diferente, mais inibidas serão as pessoas para propor ou aceitar novas ideias, eventualmente fora da caixa.
A inovação é crucial para o crescimento económico. Permite a adaptação às condições de mercado sempre em mutação, permite romper o ciclo vicioso da produção de baixo valor acrescentado e baixos salários, alimenta a produtividade e a eficiência, diferencia positivamente as empresas e melhora a qualidade de vida. Inovar é sonhar, descobrir novas formas de fazer negócio e explorar novos modelos organizacionais, estimulando a lucratividade e os níveis salariais. Inventar é por si só insuficiente: é preciso ter coragem, determinação, organização, capacidade de ir contra a corrente para transformar de facto a invenção numa inovação aceite pelo mercado.
Não se faz com leis, não se faz com discursos de ódio. O que aconteceu no dia 10 de junho com um ataque por um grupo neo nazi a atores prestes a representar Camões é uma porta que fecha o pensamento. A capacidade e a liberdade de pensar. De inovar e crescer.
Cerca de 50% a 60% do crescimento da produtividade nos Estados Unidos não veio dos fatores produtivos convencionais, o trabalho, a terra ou o capital. É de facto o resultado daquilo que Solow chamava o “resíduo”, essencialmente a mudança tecnológica e a promoção da ciência. O cerco que hoje Trump faz às Universidades é o contrário de tudo isso. Portas que fecham.
As perceções obviamente mudam, como mudam os desafios. Mas é isto que realmente queremos?
No seu relatório, largamente citado, Mario Draghi identifica três áreas de ação fundamentais para permitir a sustentabilidade do crescimento económico na União Europeia. A primeira, que aliás considera a mais importante, é fechar o diferencial tecnológico com os Estados Unidos e a China, principalmente nas tecnologias mais avançadas. De forma complementar, trata-se de implementar estratégias comuns de descarbonização que ajudem a mudar para outras, novas, fontes de energia, criando oportunidades de crescimento e competitividade para a industria europeia. Finalmente, é importante reduzir os riscos de que a incerteza possa de facto constituir uma ameaça à democracia e à liberdade. Porque o será também ao crescimento económico e à qualidade de vida.

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