‘Spoofing’ e a Vulnerabilidade das Comunicações
Voz às Escolas
2015-02-02 às 06h00
Perante qualquer processo de descentralização e de aproximação democrática dos decisores do ónus da sua decisão, uma questão emerge imediatamente. Em que medida ela é sempre positiva e benéfica? Abstratamente, parece sê-lo sempre. Estamos mais próximos de uma democracia direta, em que a voz dos interessados está mais próxima e o conhecimento da realidade específica é claramente mais profundo e detalhado.
Acontece que, em todos contextos de decisão democrática, é criticamente importante a maturidade e o sentido de responsabilidade de todos, eleitos e eleitores. Quanto mais próximos uns estão dos outros e mais envolvidos nas consequências das suas decisões, mais esses sentidos de responsabilidade e maturidade têm de ser convocados.
Há decisões que, para serem responsáveis e respeitadoras dos direitos de todos, inclusive das minorias, têm muitas vezes de ser incómodas para alguns, mesmo que em maioria pontual.
Um exemplo simples: se um distrito precisar de uma lixeira, os responsáveis distritais tomarão a decisão e escolherão qual o concelho que a receberá… Mas e se a decisão couber a cada concelho? Qual o seu eleito que tomará ou apoiará corajosamente tal decisão, mesmo sabendo que o superior interesse do distrito que integra assim o impõe, mas sabendo também que afetará diretamente os seus, mais ainda, também os seus futuros eleitores?
Assim, com a descentralização, este acréscimo de responsabilidade cabe claramente aos eleitos, mas também muito claramente à demais comunidade, que terá de perceber que nem todas as decisões que os primeiros tomem deverão ser as mais populares ou as de agrado de sucessivas maiorias ou de clientelas específicas. Esta chamada à responsabilidade é fundamental, porque senão os decisores acabarão por defender apenas os interesses dos com mais influência, capital sociocultural e económico para manipular o sistema ou com mais capacidade de mobilização e voto.
Esta é a razão por que, muitas vezes, algumas tipologias de decisão são, em muitas nações, mantidas centrais e fortemente protegidas por cartas de direitos.
Na presente tentativa nacional de Municipalização do Ensino, experimental em alguns concelhos, que não o de Braga, o processo tem ocorrido num aparente silêncio e ausência de auscultação e debate prévio promovidos por quem a superiormente a preconiza.
Aparenta, ainda, não integrar no momento as preocupações e a procura por parte daqueles que delas vão ser alvos - autarquias, escolas, famílias e demais agentes locais ligados à educação. Isto leva-nos de imediato a poder pensar que outra agenda de interesses central pode estar aqui presente. E estarmos perante um possível presente envenenado, quer para toda essa comunidade educativa local, quer - e muito particularmente - para as próprias autarquias.
Alegadas transferências de responsabilidades para o poder local podem ocultar não mais que transferências de carga administrativa, encargos financeiros, ónus de eventuais insucessos e margem de implantação de opções políticas mais controversas. Pegando somente no contexto financeiro, a autarquia, até por muito mais próxima das evidências e da pressão para a resolução de problemas, poderá ter que acudir a necessidades das comunidade locais, muito para além dos valores que superiormente a tutela lhe disponibilizará.
Podemos, assim, também estar perante um processo de desresponsabilização do poder central, que oculte um desinvestimento ao seu nível na educação pública.
Não deixa de ser um sinal de alerta que, em alguns dos países convocados como casos de sucesso para justificar nacionalmente a presente iniciativa, o processo esteja atualmente a ser questionado, mitigado ou até completamente revertido.
07 Outubro 2024
30 Setembro 2024
Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.
Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.
Continuará a ver as manchetes com maior destaque.
Faça login para uma melhor experiência no site Correio do Minho. O Correio do Minho tem mais a oferecer quando efectuar o login da sua conta.
Se ainda não é um utilizador do Correio do Minho:
RegistoRegiste-se gratuitamente no "Correio Do Minho online" para poder desfrutar de todas as potencialidades do site!
Se já é um utilizador do Correio do Minho:
LoginSe esqueceu da palavra-passe de acesso, introduza o endereço de e-mail que escolheu no registo e clique em "Recuperar".
Receberá uma mensagem de e-mail com as instruções para criar uma nova palavra-passe. Poderá alterá-la posteriormente na sua área de utilizador.
Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos.
Deixa o teu comentário