Correio do Minho

Braga, terça-feira

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Pobretes mas alegretes

Uma Europa e um Ocidente em crise: a ascensão da direita

Ideias

2010-12-24 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

1 . Não é apenas uma conhecida expressão mas algo de enraizado no país real, correspondendo à natural idiossincrasia de um povo onde vem vingando todo um cromossomático conformismo de mãos dadas com o já habitual chico espertismo. Aliás vem-se vivendo acima das possibilidades numa inconsciência de insensato porreirismo e louco despesismo como se não houvesse uma crise tão grave que as luzes do Natal nem sequer conseguem disfarçar.

Sendo fundamental num país de tanga toda uma contenção nas despesas e pôr-se fim a luxos, gastos supérfluos, de fachada e inúteis pois são muitos os que, já passando fome, levam vidas de miséria, continua-se sem tento nem senso nas despesas e abusando-se do “esquema”das administrações, de responsabilidade esvaída no concreto do real e vencimentos chocantes a que não subjaz um qualquer incómodo suor.

A propósito, diga-se, a Fundação Cidade de Guimarães, responsável pela organização da capital Europeia da Cultura/2012, foi há dias alvo de notícias e comentários face aos vencimentos milionários do conselho de administração, com a presidente a receber 14,3 mil euros mensais e dois vogais 12,5 cada. Porque chocantes e escandalosos num contexto de crise, foi natural o burburinho e o Conselho Geral da Fundação apressou-se a baixá-los para 10.000 e 8750 euros mensais, respectivamente.

E se mesmo assim tais vencimentos “chocam” face à situação real do país, ainda se ignora se também houve redução na “senha” de presença de certas figuras políticas no Conselho Geral e (ou) Comissão de Honra, sabendo-se tão só que o presidente da autarquia ficou perturbado e preocupado por temer que o conselho de administração batesse com a porta devido aos cortes, mormente uma tal Cristina Azevedo ( quem!?...).

Dificilmente se convivendo com as preocupações e dores de cabeça dos nossos autarcas, ousa-se sugerir um aumento de impostos municipais, tarifas e taxas camarárias, ou uma derrama, para assim se “colmatar” tais cortes e repor os iniciais vencimentos. O povo, já habituado a ser vítima das loucuras, tonterias e vaidades dos seus governantes, e dos seus cantos de cagarro, mesmo gemendo pagaria.

Na verdade o dinheiro do Zé povinho, aliás pobrete mas alegrete, sempre foi a melhor aspirina para tais dores de cabeça e o melhor meio para dar largas às suas vaidades, megalomanias, subsídios e acções (!?) de caridade e de solidariedade, ainda que continuando-se com dúbias assessorias, pagando-se favores e angariando-se votos.

Nos Açores, onde aliás muito se faz sentir e ouvir o cagarro, o socialista presidente, um César no poder, decidiu “compensar” os cortes nos vencimentos do funcionalismo público decretados pelo governo central, anulando-os e operando consequentes “compensações” ao funcionalismo do arquipélago.

Um posicionamento especial, fracturante, chocante e tão só acolhido por espíritos medíocres e comezinhos interesses já que cria desigualdades e viola a equidade e o sentido de justiça. Quase equiparável ao histórico grito do Ipiranga (lá será apenas um grito de cagarro!...), a decisão de César leva-nos a admitir que o governo regional tem meios e dinheiro para subsistir por si e não carece dos milhões previstos no orçamento do Estado nem dos sacrifícios dos continentais. E se o ministro dos cabelos brancos é tão esperto como dizem, terá mesmo de abater nas transferências um montante igual ao “subtraído” pelo dito César com as “compensações”.

Mas naturalmente nos interrogamos se tal “habilidade” compensatória do “imperador” César, aliás em oposição e desrespeito ao poder central, não reclamará um repensar da questão autonómica, já que, como parece, os açorianos subsistem muito bem tão só com os proventos das vacas, de alguns ananases, do chá, do turismo e da renda das Lajes, com canto ou não de cagarro. O nosso orçamento certamente emagreceria!...

2 . Segundo o JN de 25.11.10, no dia anterior fora accionado pelo autarca bracarense “o botão que trouxe às ruas da cidade as tradicionais iluminações de Natal. Orçamentadas em 70 mil euros, menos 2% em relação ao ano passado, a temática anda à volta das figuras geométricas romanas”, com “uma árvore da Natal gigante colocada dentro da fonte luminosa”, mas que de certo não ombreará com a de Viana do Castelo e outras mais prenhes de pavoneio e pretensões nas suas múltiplas luzinhas e enfeites.

Não se estando contra as festas natalícias, as luzes e tradições do Natal e compreendendo-se as “vantagens” que daí possam advir para as cidades em projecção turística, imagem exterior e comércio, a verdade é que não conseguimos ultrapassar nem esquecer a problemática do desemprego e fome que vêm grassando nos distritos e cidades do Minho e gerando vidas de miséria, que de modo nenhum desaparecem ou se “apagam” por mais luzinhas que tremeluzam.

Aliás cremos que a maioria dos cidadãos, se responsáveis, sensatos e solidários, facilmente compreenderia um Natal com menos lâmpadas, e até às escuras, se assim se conseguisse “iluminar” e “encher de luz” a casa do vizinho do lado, pondo fim ao desespero de quem nada tem e se sente chocado com tanto despesismo.

Aliás a cena de um mendigo em disputa com um cão por um naco de comida num caixote do lixo para os lados da rua de Janes é algo de tão chocante que de modo nenhum se ultrapassa com as mediatizadas acções e recolhas de alimentos se não houver sentidas e autênticas solidaridade, entreajuda, partilha e entrega. Aumentaram, é certo, os gestos de solidariedade por parte de entidades públicas, privadas, laicas e religiosas, mas é imperioso que tais campanhas de solidariedade não sejam apenas interesseira vaidade, publicidade encapotada, angariação de votos ou ajuda de teor politiqueiro, e tenham um sentido único: minorar e pôr fim a vidas de miséria e de fome.

Aliás as luzes, lâmpadas e enfeites não “enchem” barriga nem pagam contas, sendo incontestável que as autarquias devem ter contenção nas despesas, nos festejos e eventos pois o dinheiro é pouco ou nenhum e há débitos ainda não ultrapassados.

O povo, aliás, embora com idiossincrasia para o pobrete mas alegrete, está cansado de ver o seu dinheiro derramado para luxo, ostentação e pavoneio e de ser um crónico “padecente”. E porque não é lorpa, não aceita nem compreende as acções de apoio social, passeios a reformados e idosos, subsídios, entregas de mercearia, etc., em que a solidariedade é viciada ou inquinada por aproveitamentos, compadrios e jeitos políticos ou vivenciada por “chicos espertos” sem necessidades ou carências.

Há que cortar despesas, poupar e evitar o “espectáculo” chocante das sobras de comida (arroz, pizza, pão, etc.) a “espreitar” nos sacos de lixos esventrados pela gataria da Sardoal Street e outras vias, e ultrapassar os despesismos inúteis e de pavoneio. E porque estamos no Natal, e em grave crise, seria um bonito gesto de solidariedade e prenda bem gostosa a redução do IMI e outras taxas municipais, com as empresas ou serviços “paridos” pelas Câmaras ou nelas “entroncados” a baixar também as suas taxas e tarifas disto e aquilo, pondo termo a encapotadas “derramas” e coisas do género.
Pobretes mas alegretes, sim, mas não de todo lorpas nem otários!...

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