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Plástico: um aliado e uma oportunidade

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Plástico: um aliado e uma oportunidade

Ideias

2022-10-22 às 06h00

Vítor Oliveira Vítor Oliveira

Decorreu esta semana uma cimeira entre decisores políticos e empresários que debateu a importância da economia circular para a sustentabilidade do planeta e que reuniu em Portugal, o país anfitrião deste certame mundial, mais de um milhar de participantes.
A Plastics Summit, uma coorganização de Portugal (APIP), Espanha, Brasil e México, com o Alto Patrocínio da Presidência da República portuguesa, juntou cerca de meia centena de dissertações, onde foram avaliados os indicadores da sustentabilidade, sensibilização e mobilização para uma verdadeira cidadania climática, assente nos pilares da saúde planetária.
Do encontro mundial, resultou uma “Declaração de Compromisso” trabalhada em conjunto, que envolveu toda a cadeia de valor, a fim de apresentar soluções abrangentes e envolventes para os diversos setores da sociedade.
Sabe-se que, em Portugal, o setor dos plásticos emprega 43 mil trabalhadores, distribuídos por 1.150 empresas que atingem um volume anual de negócios de 8,0 b €, montante que representa 4% do nosso Produto Interno Bruto. Sabe-se, também, que o setor regista anualmente um volume de exportações de 4,2 b €. O que pouco se sabe é da importância do plástico para a valorização da economia verde, em nome de um futuro mais sustentável e amigo do ambiente.
Os plásticos fazem parte da história e não podemos ignorar que existem. Têm é de ser tomadas melhores decisões, começando desde logo pela análise do ciclo de vida dos produtos. Às vezes, o vidro ou o alumínio são apresentados como soluções mais viáveis do que o plástico, mas nem sempre é assim. Sem plástico, como seria transportado o queijo ou o fiambre que compramos no supermercado?
Precisamos, pois, de ser educados para uma boa utilização do plástico, porque somos todos consumidores. As atitudes têm de ser modificadas, de forma a percebermos, todos, os benefícios da alteração para um comportamento sustentável. Há que implementar estratégias e conhecer os comportamentos dos consumidores para que possamos ser bem sucedidos na inevitável relação com o plástico. Que não pode ter um uso único! Um plástico tem de ser reciclado.
Mas este processo não pode centrar-se, só, na ideia única de reciclar. A reciclagem é o último passo. Antes disso, há que conhecer o produto e as suas componentes químicas, avaliar o ciclo de vida do produto, desenvolver uma responsabilidade partilhada, valorizar as matérias-primas secundárias…
Dizem que os plásticos poluem o mar. A verdade é que os plásticos, nos oceanos, podem ter um futuro novo! O importante é prevenir que acabem nos oceanos (ou aterros) para que possam ser tratados, pois há uma solução para os seus resíduos. Em vez de serem organizadas campanhas para limpar o ambiente, devemos preparar ações de sensibilização para evitar que se limpe! Se não alterarmos comportamentos para fazermos efetivamente a diferença, vamos perder este jogo…
Por agora, importa dar uma segunda vida aos plásticos encontrados na costa marítima, porque os plásticos não chegam sozinhos à praia, nem caminham autonomamente para os oceanos, rios ou sistemas de esgotos. Nós somos todos consumidores e, a esse nível, tem de haver uma educação para o respeito. Não temos de poluir nenhum local. Não é só os oceanos! Podem ser inventadas mil e uma soluções não poluentes. A mente estará sempre poluída, se houver um comportamento desadequado!
Basta atentar em nosso redor. Atualmente, prevalece a “política do descarte” na sociedade. Descarta-se o plástico após comer um snack. Descarta-se uma trotinete quando expirou o seu tempo de utilização. Descartam-se amizades, tidas como úteis só quando interessam. Na verdade, a sociedade de hoje revela um problema comportamental transversal. Descarta-se! Pura e simplesmente.
Por essa razão, têm de ser criados materiais com valor para que possam ser reciclados e reintegrados noutros produtos. Todos os plásticos são recicláveis, se não estiverem misturados uns componentes com os outros. A mistura de um ou mais plásticos complica a reciclagem! O ideal é não haver diferentes tipos de plásticos no mesmo produto. É crucial, pois, usar pequenas percentagens (ou nenhumas) de outros plásticos. Mas isso retira performance! E é também por isso que tem de ser usado um meio termo…
Precisamos de eco-inovar e eco-desenhar os produtos que durem mais tempo para termos oportunidade de reciclar e recolocar no mercado. A estatística diz-nos que, agora, há menos poluição, por garrafas. Este indicador tem vindo a diminuir, porque houve também um maior investimento na comunicação da utilização de garrafas biodegradáveis, daí ser fundamental explicar à sociedade o que é a economia circular e, acima de tudo, envolver as crianças e as gerações mais novas, sensibilizando-as para a causa ambiental.
A promoção, adoção e implementação de políticas e soluções integradas para uma economia circular e produtos mais sustentáveis, exige o envolvimento e ação de todos os atores, incluindo a sociedade em geral, onde a mudança comportamental, individual e coletiva, será peça-chave para que os recursos se mantenham na economia – onde os resíduos de uma indústria podem ser as matérias-primas de outras indústrias – e não se percam para o ambiente, contribuindo, deste modo, para a criação de um futuro sustentável com claros benefícios para as atuais e futuras gerações do nosso planeta.
O plástico é o mau da fita, porque é o… bom da fita! É graças a ele que se conservam produtos, que se fazem tratamentos nos cuidados de saúde nas unidades hospitalares, que se torna mais fácil o transporte, a conservação e o combate do desperdício de alimentos… Por isso mesmo, é preciso retirar as emoções da legislação e fazer com que a mesma legislação avalie, realisticamente, a eficácia e o impacto de medidas a adotar. É importante recolher contributos baseados na ciência, ter mais coragem para avançar, ter esperança e criar um tratado global de plástico, investindo em materiais inovadores.
A Revolução Verde 5.0 está em curso. Talvez os consumidores não estejam ainda tão envolvidos e sensibilizados. Mas o poder está neles, nos consumidores. Somos nós que vamos mudar os processos. O estilo de vida que adotarmos é que vai determinar o futuro. A mudança não é fácil, sabemos disso, pois somos criaturas de hábitos. Temos de parar de planear! E de agir. E agir com o sentido de emergência semelhante ao de uma pandemia. Por agora, importa saber quem comprou a embalagem e não quem vendeu. Quem comprou, passou a ser “dono” da embalagem. E dono, também, do seu destino. Nessa altura, veremos que o planeta pode viver melhor com o plástico. E o futuro não é amanhã. Começou ontem.

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