António Braga: uma escolha amarrada ao passado
Ideias
2017-04-07 às 06h00
Se parece indiferente a ordem das palavras, a verdade é que não é de modo algum arbitrária a sua sequência dada toda uma eventual conexão e interligação, até porque todas podem ser reduzidas a um factor múltiplo comum, e polícromo, num quadro de acção, de presença social e de intervenção no mundo da política. E polícromo porque qualquer que seja a “cor” dos que “vegetam” ou “vivem” no mundo da política, ou dela se serviram, ao longo dos anos sempre se referenciaram, disseram agir e se afirmaram como “pessoas de boa fé” quando a crua realidade nos mostra que “ a boa fé” apenas existiu no povo, nos muitos que, iludidos, se filiaram em partidos, votaram e acreditaram nos nomes e personalidades que se diziam e se apresentavam sempre como pessoas de boa fé, sérias e impolutas. Mas cujas vivências e acções no concreto se revelaram apenas histriónicas ou de pura e grave aleivosia. Daí os inúmeros palhaços e malfeitores que invadiram o mundo das “pessoas de boa fé”, com todos teimosamente a perfilarem-se ainda como uns empedernidos recorrentes.
O que aliás, diga-se, vem a propósito de livros, escritos e entrevistas de antigas figuras, personagens e alguns figurões que decidiram revelar factos, pormenores, informações e dados de suas pregressas vidas, e que, longe de “esclarecer”, se nos afiguram cada vez mais “embrulhados” e “acondicionados” em mentira, aldrabice, inconveniência, inoportunidade e meias verdades. Designadamentre quando hoje põem em causa, criticam e revelam comportamentos, atitudes e situações dos próprios e de (com) outras figuras, mas cujas credibilidade e veracidade nos merecem reservas. Até porque, e pelo contrário, padecem das mesmas mazelas das dos autores de tais escritos e entrevistados. Com o livro do Sampaio, um ex-presidente “incomodado” com os “silêncios” que envolvem os “ex-qualquer coisa” após a saída dos “palcos” públicos e da ribalta da política, ainda que usufruindo direitos e alcavalas que pesam no erário público, suscitou-se a polémica das razões que determinaram a demissão do governo de Santana Lopes face a uma “embrulhada” e pouco “esclarecedora” explicação(!?) sobre os verdadeiros e concretos motivos que estiveram subjacentes. Aliás de modo nenhum se pode ignorar, ultrapassar ou esquecer que tal governo teria uma maioria parlamentar a sustentá-lo e que depois, numa sequência natural consequência, se seguiu a entrada do “socialismo” no poder, o surgimento da figura de Sócrates e seu consulado, muitas malfeitorias e o descalabro de um país. Poderá ter sido uma infeliz coincidência, mas é incontornável que Sampaio era e é do PS, com as ilações que daí se queiram tirar, e que as realidades, incontestáveis, permitem sustentar. Mas se Sampaio diz ser “uma pessoa de boa fé”, é curioso e muito estranho que Santana, o visado, também “ pessoa de boa fé” ao que consta, se diz e o cargo actual sugere, contestando o afirmado, se tenha logo disponibilizado a um frente em frente televisivo com Sampaio em ordem a que a verdade venha ao de cima.
Do que duvidamos, diga-se, já que a nossa experiência profissional e de vida nos diz que as “acareações” e “confrontos” em regra nada trazem de novo e de modo algum contribuem para a verdade, porquanto os figurantes ou “figurões” se “colam” e se “agarram” às “verdades” que apregoam e querem fazer vingar, deixando para quem os ouve, vê, lê ou conhece o oneroso encargo de uma destrinça, a alicerçar tão só na sua própria “crença”. Aliás se a afirmação de Sampaio de ser “uma pessoa de boa fé” não nos merece contradição ou reparo (nem crédito, diga-se já), importa tão só sublinhar que as frases, palavras e expressões dos políticos em regra são de uma manifesta gratuiticidade e de modo nenhum “consumíveis”, tidas por “adquiríveis” e seguras. Pela sua nula e sempre questionável valia e esconsa “mentira”, admita-se, até porque muitos entendem que os dois ex-presidentes, Cavaco e Sampaio, quiseram tão só “fazer o seu ajuste de contas” com Sócrates e Santana, respectivamente, vivenciando posicionamentos, contactos, conversas e reuniões havidas no plano estadual e de governação. E ainda que se possam afirmar “pessoas de boa fé”,a verdade é que os seus pregressos e respeitosos cargos, o bom senso, a consciência e sentido das responsabilidades lhes exigiam e justificavam “maior prudência e recato” (CM, 26.3.17), e o culto do silêncio. Aliás ainda quanto a Sampaio, o polémico encontro na Base das Lajes e a acção do Durão Barroso, somos nós que pomos muitas reservas sobre quem é realmente a “pessoa de boa fé”, séria, credível e está a falar verdade no concreto da história quanto ao momento-data, conhecimento, oportunidade, intervenção directa e tempos de decisão sobre a cimeira. Estranhando-se que tal temática não tenha sido objecto de uma acção alinhavada e concertada entre ambos, o que de todo se configura e se perfila como normal, expectável e sustentável, não há razões, políticas ou outras, nem remorsos, para Sampaio sacudir agora a água do capote, apesar de todo o seu socialismo e das tristes realidades da história no Iraque.
O país, refira-se e sublinhe-se, vive inundado de figuras e personagens que ao longo do tempo sempre foram tidas e se apresentavam como “pessoas de boa fé”, sendo olhadas como tais nas política, banca, sociedade, governação e vida da nação, sendo certo que algumas ainda hoje, apesar de tudo o que se diz e sabe, continuam a querer afirmar-se como tais, mas cujas passagens pelos poder, dirigismo, intervencionismo sócio-político e “ribalta dos palcos” da governação e responsabilidades conexas não podem de modo algum ser esquecidas ou ignoradas, até pelo anómalo e perverso de algumas das suas malfeitorias . Nem os seus esquemas, acções, atitudes, suspeitosos actos e controversas intervenções e, como é óbvio, os nefastos resultados e perversas consequências para o país e seu povo. Perfilando-se como figuras e pessoas de boa fé, sérias, honestas, íntegras e fiáveis, com o decurso do tempo tais personagens acabaram por “descambar” e deixar cair a “máscara”, aliás como a realidade, com o seu histórico de casos tristes, “ estórias” mal contadas, aldrabices e pulhices acabou por revelar. Mostrando a nua e crua verdade do que se escondia, se alapava e se mascarrava. Personalidades que sempre se afirmaram e se tinham por “pessoas de boa fé”, como os muitos A. Carvalhos, Anteros, Bataglias, Bavales, Barrosos, Campos, Constâncios, Deslandes, Dias Loureiros, Duartes Limas, Favas, Granadeiros, Guterres, Isaltinos, Oliveiras e Costas, Macedos, Mesquitas, Monteiros, Nascimentos, Oliveiras e Costas, Pires, Rangéis, Salgados, Santos Silvas, Sobrinhos, Sócrates, Sousas, Varas e tantos outros e outros do país real, mas cujos actos, posicionamentos e comportamentos em concreto foram ou são ainda questionados, contestados e discutidos na sociedade ou na justiça, com dolorosos e naturais engulhos para quem neles acreditava. Mas se todos dizem ter sido, e ainda ser, “pessoas de boa fé”, sérias, íntegras, correctas e impolutas apesar das badaladas “malfeitorias” e “palhacices” que a história teima em lhes apontar, mormente a alguns nossos conhecidos, não temos dúvidas em afirmar que sempre foram pessoas “de boa e forte fé”, activas, ágeis e “sérias” na salvaguarda e materialização de seus interesses pessoais, anseios, instintos e apetites de natureza social, económica, política ou outra em ordem a uma crescente afirmação ôntica no fluir e no devir.
11 Dezembro 2024
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