Ettore Scola e a ferrovia portuguesa
Escreve quem sabe
2020-03-16 às 06h00
Procuro encontrar a verdade no meio de tanta informação. Acabo de ler alguns jornais digitais e fico boquiaberto com algumas notícias. Reflito no que leio, mas mais do que nunca penso no poder superlativo da desinformação de algumas fontes pouco credíveis e no papel crucial do verdadeiro jornalismo. Reviro páginas digitais, releio-as de ponta a ponta. Por vezes franzo a testa apreensivo, quando encontro opiniões diferentes por entre especialistas da mesma matéria. Penso no impacto espoletado por algumas destas publicações perigosas e em algumas teorias conspirativas sobre o tema. Miro e escuto a televisão, lá do canto do meu sofá, e salto de canal em canal. Procuro algo diferente, jornalismo seguro, verdadeiro e genuíno, canais credíveis, informação fundamentada. Vislumbro diferenças entre o que leio e o que ouço. Não entendo o porquê de se discutirem sucessivamente problemáticas de forma tão distinta, imprecisa, de se promoverem debates sem resultados objetivos e claros, de se causar mais pânico do que tranquilidade. Recordo a poesia do nosso Camões, da ferida que dói e não se sente, do seu contentamento descontente, da dor que desatina sem doer. Projeto-me, tal como ele, no paradoxo da informação, sobretudo numa era tecnológica e digital, onde a desinformação e falsas notícias imperam.
A era da digitalização, das novas tecnologias, é incrivelmente poderosa para o bem e para o mal. Se, por vezes, estas tecnologias permitem expor informação credível, permitem, por outro lado, suscitar diversas e erradas interpretações. Como podemos restringir ou colocar um filtro nesta desinformação maldita, sobretudo a digital, que não deveria chegar à nossa mesa? De que forma conseguimos controlar: a proliferação de informação desgovernada; a inundação diária de lixo e propaganda oportunista nas diversas plataformas sociais; certas temáticas bem sensíveis como o atual coronavírus, do qual pouco ou nada ainda percebemos? De que forma evitamos o alarmismo e filtramos o que lemos?
Ontem foi dia habitual de compras. Dirigi-me ao hipermercado mais próximo com uma lista de compras na mão. Para meu espanto, as filas começavam longe e ainda no carro, na estrada principal, sob alguns olhares desgovernados e aparentemente famélicos. Lá dentro, amontoavam-se pessoas nos estreitos corredores, empurrando carrinhos transbordantes de produtos diversos. Algumas delas apressavam-se para sumir daquele local, suspiravam já exaustas, enquanto que outras imploravam por produtos básicos. De passo em passo, encontrava algumas prateleiras despidas, praticamente nuas, nomeada- mente na área de frescos e outros bens como o leite ou o simples papel higiénico.
Na passada semana, mesmo antes de embarcar numa longa viagem de regresso a Portugal, cruzei-me com dois países. Durante o longo percurso, fui controlado por equipas médicas à entrada e saída de cada voo. Entre os passageiros, discutia-se não só a relevância daquele controlo, mas também a responsabilidade e solidariedade sociais, enaltecendo a sua relevância no contexto mundial atual. Falava-se também do papel das tecnologias, da desinformação abundante e até do teletrabalho. À chegada a Portugal, recebi a informação do meu empregador de que, doravante, qualquer reunião se iria concretizar apenas em linha, sob plataformas de comunicação, e que toda as viagens seriam canceladas. Recentemente escutei, com atenção e agrado, o nosso primeiro ministro enaltecendo o mesmo espírito de união, cidadania e preocupação com o outro, tal como os passos próximos no combate a esta pandemia inexplicável. Assim como eu o irei fazer daqui em diante, acredito que as tecnologias terão um papel fulcral nos próximos tempos. Se serão elas capazes de nos informar e desinformar, penso que sim, mas será algo que apenas nós conseguiremos controlar e colocar-lhe um filtro. Para além disso, acredito que será necessário que todos acreditemos no papel e eficiência das mesmas no suporte à comunicação e à facilitação de sessões não presenciais em todas as áreas da nossa sociedade nos próximos tempos. Desta forma, evitaremos a exposição a um vírus maldito e conseguiremos contribuir e potenciar assim o controlo da situação.
No hipermercado, já depois de algum tempo de espera, lá consegui comprar o pretendido. E porque não houve necessidade de entrar em pânico, não enchi o carrinho com meia palete de sacos de arroz, e outra meia com latas de atum e pacotes de leite, tal como o vizinho da fila do lado fez. Quer queiram, quer não, acredito também que os nossos retalhistas, possuidores de sólidas cadeias de abastecimento, conseguirão também ultrapassar esta situação enviesada da realidade, na sua plenitude. Na mesma esteira, prevejo que os ciclos de reabastecimento diário das lojas aumentarão e que a reposição das prateleiras aconteça na sua normalidade, tal como também acredito que todos unidos superaremos o momento de forma educada, serena e sem alarmismos.
*com JMS
10 Outubro 2024
08 Outubro 2024
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